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As relações virtuais e dores da quarentena na voz de Jovem Dionísio e Gilsons [ENTREVISTA]

Jovem Dionísio entrevista Gilsons, Gilsons entrevista Jovem Dionísio - e, juntas, as bandas lançam o delicado e sensível single 'Algum Ritmo'

Isabela Guiduci Publicado em 09/04/2021, às 11h00

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Jovem Dionísio e Gilsons (Foto: Felipe Fonseca)
Jovem Dionísio e Gilsons (Foto: Felipe Fonseca)

Como os próprios contam na lírica da música, algum ritmo em comum, ou algorítimo para os mais tecnológicos, fez com que as duas bandas brasileiras, Jovem Dionísio e Gilsons, se encontrassem para o single "Algum Ritmo", lançado nesta sexta, 9 - e disponível ao final do texto.

Em meio às angústias e inquietudes da quarentena, a parceria soa como um respiro e aconchego. Para aqueles que amam um showzinho e morrem de saudades de ver a banda preferida ao vivo, "Algum Ritmo" lembra: "Então vai ter show, quando tudo passar, quando tudo passar...". 

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Jovem Dionísio e Gilsons (Foto: Felipe Fonseca)

Os vocais harmoniosos de Bernardo Pasaquali da Jovem Dionísio, e Francisco Gil dos Gilsons, envolvem-se suavemente e potencializam a leveza e sensibilidade da canção. Há um conforto genuíno neste encontro de vozes, que reverbera um alívio em meio aos conflitos - internos e externos - causados pela pandemia.

Juntas nesta parceria, as bandas encontraram uma consonância sonora incrível. Os Gilsons, formado por Francisco Gil, João Gil e José Gil, exploram samba, rap, funk, afoxé e pop com elementos eletrônicos. Já a Jovem Dionísio, composta por Bernardo Pasquali, Gabriel Mendes (Mendão), Gustavo Karam, Rafael Duna (Fufa) e Bernardo Hey, mescla bossa nova, indie, lo-fi e tem fortes influências do bedroom pop. 

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Embora as discografias das bandas tenham estéticas sonoras mais distantes, os versos de "Algum Ritmo" conseguem refletir a identidade lírica dos dois grupos: serenidade, sentimentalidade e emoções. Combinada à letra, a melodia delicada leva o público para uma viagem pelas próprias reflexões sobre as relações profundas, mesmo virtuais, e dores da quarentena. 

Curiosamente, "Algum Ritmo" surgiu, de fato, de uma conversa entre Bernardo e Francisco sobre algorítimos. Isso porque, os streamings costumam indicar Jovem Dionísio para quem escuta Gilsons - e vice e versa, mesmo com as estéticas musicais um tanto diferentes das duas bandas.

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A canção busca desconstruir o conceito de algorítimo - que fez muita gente se encontrar na quarentena. E, depois da conversa entre os cantores, Francisco compartilhou a ideia do refrão com a Jovem Dionísio, que respondeu com uma versão inicial. Ao mesclar as sonoridades, desejos, inquietudes e ansiedades, as duas bandas finalizaram a faixa. 

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Jovem Dionísio e Gilsons (Foto: Felipe Fonseca)

Em ritmo de "Algum Ritmo", as bandas se entrevistaram para falar sobre música, shows pós-pandemia - e até uma comparação entre Gilsons e as Meninas Superpoderosas aconteceu. Confira:

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Gilsons entrevista Jovem Dionísio

Gilsons: Qual de vocês cinco mais escuta o próprio som?

Karam: Acho que eu sou a pessoa que mais escuta nosso som. Na real, penso isso porque demos entrevista a um podcast e perguntaram o que mais estávamos escutando - sempre tem essas perguntas em podcast. E, essa pergunta me dá muito branco sobre qual banda falar ou sobre o que falar. Lembro que respondi estar escutando muito as nossas músicas e, eu realmente estava, e todo mundo deu muita risada.

Aí, em outra entrevista, para outro podcast, respondi a mesma coisa de zoeira só para ver como a galera ia reagir e todo mundo ficou de cara comigo: 'Pô Karam, fala sério aí cara' [risos].

Gilsons: Qual dos integrantes da Jovem Dionísio viveu mais relações virtuais profundas nessa quarentena? 

Fufa: Acho que todos da banda têm vivido relações virtuais profundas nessa quarentena - uns mais outros menos. Mas, sempre tentamos ser intensos. Nas reuniões online, é engraçado que dá para ver a particularidade de cada um nessas plataformas.

O Ber Hey, por exemplo, que é um cara mais atarefado e sempre está resolvendo mil coisas, faz todas as reuniões virtuais dentro do carro - e, inclusive, a foto de perfil dele nessas plataformas é dentro do carro. Também dá para perceber que o Karam é um cara um pouquinho mais atrasado. 

No geral, acho que todo mundo teve essas relações virtuais bem aprofundadas e inclusive o som "Algum Ritmo" foi produzido nesse mesmo ambiente virtual. Então, dá para resumir que todo mundo da banda teve relações profundas com as relações virtuais. 

Gilsons: Com qual artista vocês fariam um feat, sem ser os Gilsons?

Mendão: Dentro da banda já entramos em consenso em relação a essa pergunta. Não sei se continua a mesma resposta, mas acredito que todo mundo vai concordar comigo. Em relação ao artista nacional, seria Marcos Valle por toda representatividade dele em questão aos estilos que ele já fez música, e por ser semelhante ao que gostamos e buscamos fazer.

De artista internacional, penso que todo mundo selecionaria o Still Woozy pela inovação que ele tem dentro do estilo bedroom pop e por ele ser um cara muito habilidoso e autêntico no que faz. 

Gilsons: Se tivessem que escolher um show para irem os cinco juntos depois dessa pandemia, qual seria?

Ber Pasquali: Provavelmente, seria o show da banda Trombone de Frutas, que é uma banda aqui de Curitiba que adoramos e somos fãs há muito tempo. Nós cinco já fomos em um show deles e ficamos completamente apaixonados, porque a presença de palco que eles têm e as músicas, que já são muito boas gravadas, ficam ainda mais incríveis ao vivo.

Eles conseguem fazer transições absurdas entre as músicas e conduzem o show de uma forma que a galera não consegue tirar o olho do palco durante a performance inteira. Você não consegue ir ao banheiro, porque o show é muito bom. Toda hora tem alguma coisa para você assistir, dar risada, ou dançar. É um show que levamos como referência, é um show muito foda. 

Gilsons: Já pensaram qual vai ser a primeira coisa que vocês vão querer fazer depois do show lotado pós-pandemia?

Ber Hey: Acredito que a primeira coisa que gostaríamos de fazer após um show lotado seria só agradecer. Para isso, penso que estouraríamos uma bela de uma cerveja com todo mundo junto para dar aquele abraço naquela alegria e calmaria pós-show.


Jovem Dionísio entrevista Gilsons

Jovem Dionísio: Se Gilsons se juntasse com a Jovem Dionísio para formar um bloco de carnaval, qual seria o nome? E como vocês imaginariam que seria esse bloco?

João: O nome seria Várias Águas [em referência ao hit dos Gilsons, 'Várias Queixas', e ao apelido da Jovem Dionisio de ‘meninos hidratados’]. E, no bloco, distribuiríamos água que passarinho não bebe. 

Jovem Dionísio: Como vocês acham que as influências gringas interferem no cenário nacional atual? Gilsons é fruto disso também?

Francisco: Nós, aqui no Brasil, há muito tempo nos influenciamos com a musicalidade internacional, principalmente aquilo que está no âmbito popular. Mas, acredito que hoje em dia, a velocidade da informação e a forma como a música circula atingem muito o cenário musical, principalmente no público e na forma como as pessoas se acostumam a ouvir música. Como quem consome música, absorvemos muito e é muito natural que isso se reflita na nossa música.

Jovem Dionísio: Se Gilsons fossem as Meninas Super Poderosas, qual seria a lindinha, a docinha e a florzinha? 

João:Francisco seria a Florzinha, eu seria a Lindinha e Docinho seria o José

Jovem Dionísio: Se vocês 3 só pudessem ouvir 1 música (só 1 pros 3) até o fim das suas vidas, que música seria? 

Fran: Em nome de todos nós, escolheríamos uma música de seu Gilberto por ser algo que já está tão presente na nossa vida. Temos costume de ouvir tanto e, mesmo assim, gostar tanto. Acho que a música seria "Aqui e Agora". O melhor lugar do mundo é aqui e agora. Acho que isso facilitaria bastante as coisas para nós, para a gente ser feliz ouvindo só uma música. 

Jovem Dionísio: O José descoloriu o cabelo recentemente. Foi por causa do Ber [vocalista] ou do Projota?

José: Na verdade, nenhum dos dois, tive gêmeas e estou cheio de tempo livre - só que não - e aí resolvi pintar. 

Jovem Dionísio: A música fala que vai ter show quando tudo passar. Qual lugar especialmente vocês tão loucos para tocar depois da pandemia? E vai ter show junto com a Jovem?

Gilsons: Um show no Circo Voador, ia/vai ser tudo ver aquela lona tremer!

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Ouça "Algum Ritmo":


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