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REVIEW: The Who aposta em "rock comfort food" em novo disco e não arrisca, mas jornada deve agradar aos fãs de longa data

Intitulado simplesmente Who, o álbum é o primeiro da banda em 13 anos

Kory Grow Publicado em 07/12/2019, às 12h00

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The Who (Foto: Amy Harris/Invision/AP)
The Who (Foto: Amy Harris/Invision/AP)

Who, primeiro disco do The Who em 13 anos, abre com um verso perfeitamente cínico de Pete Townshend: “I don’t care/I know you’re gonna hate this song” ("Eu não ligo/Sei que vocês vão odiar essa canção"). Mas é difícil odiar algo que soa tão familiar. 

Em seguida, Roger Daltrey canta que a música não é "nova" ou "diversificada", com a mesma raiva e convicção dos primeiros anos do Who, há mais de meio século. Além disso, a melodia é quase idêntica à abertura do single “The Kids Are Alright”, lançado em 1966. E o vocalista vai ainda mais longe, ao cantar em outro verso uma referência direta ao hit mencionado acima. Mas no caso específico dessa banda, mesmo quando são eles que copiam a si mesmos, conseguem soar tanto autênticos quanto irônicos.

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E talvez seja por isso que o disco foi nomeado apenas de Who: pelo simples fato de soar, quase que inteiro, como aquelas músicas que funcionam como comfort food, aqueles alimentos aos quais você recorre quando não está muito afim de arriscar na escolha. Mas pelo menos Townshend e Daltrey ainda conseguem invocar aquele espírito The Who mesmo já com mais de 70 anos.

Desde a morte de Keith Moon, em 1978, o grupo lançou música nova com uma frequência esporádica — o lançamento é apenas o quarto desde então —, mas parece que o tempo fez bem a eles. Apesar de músicas como "Detour" (impregnada em um R&B pelo qual a banda já se gabou), "Hero Ground Zero" (típico rock de arena) e "Street Song" e "I Don’t Wanna Get Wise" (recheadas de sintetizadores joviais), o The Who agora encontrou uma perspectiva que tanto lhes faltava.

O novo álbum não é uma ópera rock, como o Endless Wire (2006), e é melhor assim. O vocal de Daltrey ainda carrega a sonoridade de cara mau que o acompanha desde o início, e ainda existe em Who um combo de brutalidade e mansidão, mas é agradável, e esse equilíbrio não é fácil de atingir quando se tem o tanto de estrada que eles têm.

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A faixa "I Don't Wanna Get Wise" soa como uma prima distante do clássico "My Generation", de 1965. E para compensar toda aquela arrogância que existia em "Hope I Die Before I Get Old", Townshend escreveu para o novo disco músicas sobre as lições que aprendeu com o passar dos anos, mesmo que no fim do dia ele prefira a arrogância.

"Ball and Chain", por sua vez, chega como um blues bem balanceado, com uma letra sobre os horrores que se passaram na Baía de Guantánamo. Em "Rockin' in Rage", Daltrey canta sobre se sentir mudo quando não consegue falar a verdade, além de ser uma canção que toca naquela conhecida tensão sempre presente nas músicas do Who, bem ali debaixo da superfície, mas agora o sentimento é diferente. E talvez seja diferente pelo fato de Daltrey e Townshend não terem passado tempo nenhum juntos no estúdio durante a gravação do disco, ou talvez isso seja apenas algo que está presente dentro deles.

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Os únicos e maiores deslizes do projeto vêm quando a banda tenta se aventurar para longe demais da fórmula do The Who.

"She Rocked My World", a faixa final, tem uma vibe de jazz latino e também um verso que com certeza deixaria qualquer letrista arrependido: “You hear people say, ‘She rocked my world’/But they don’t mean it the way I do” ou, em tradução livre, "Você ouve as pessoas dizendo que 'ela abalou meu mundo'/ mas nenhum deles sentiu isso como eu".

"Break the News", escrita por Simon Townshend, irmão de Pete, tem uma atmosfera norte-americana que soa mais como uma canção pop atual de uma banda como o Lumineers.

Mas quando eles embalam, eles realmente vêm com tudo. A banda pode ser hoje metade do The Who original, mas o disco Who, no fim das contas, se mostra digno do nome que recebeu. Desculpa Townshend, mas os fãs provavelmente não vão odiar essas músicas.

Veja a capa do disco abaixo.


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