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Rock das trevas

Sob chuva, Ozzy Osbourne tocou clássicos da carreira solo e do Black Sabbath em apresentação para 30 mil pessoas na Arena Anhembi, em São Paulo

Por Stella Rodrigues Publicado em 03/04/2011, às 11h41

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Ozzy Osbourne no show realizado em São Paulo no último sábado, 2 - Divulgação/Rafael Koch Rossi
Ozzy Osbourne no show realizado em São Paulo no último sábado, 2 - Divulgação/Rafael Koch Rossi

"Olê, olê, olê, olê, Ozzê, Ozzê". Foi só o Sepultura, número de abertura do show que Ozzy Osbourne realizou em São Paulo no último sábado, 2, na Arena Anhembi, deixar o palco e o grito de guerra improvisado tomou conta do lugar. Aproximadamente 30 mil pessoas compareceram para ver ao vivo o showman de 62 anos que, se no passado virou manchete por ter mordido um morcego vivo e pelo longo histórico com álcool e drogas, hoje é o tipo de roqueiro que sequer se atrasa para pisar no palco - ao contrário, iniciou sua apresentação com alguns minutos de antecedência, pouco antes das 21h30.

Ao contrário da praxe, optou por fazer sua entrada primeiro, cumprimentando a plateia e convidando-a a enlouquecer, para somente depois de ser ovacionado começar a cantar "Bark at the Moon", a primeira canção da noite, que teve um set list idêntico ao das outras performances da atual excursão, que promove o disco Scream (2010).

Apesar de estar na estrada com um disco recente, na hora de escolher o que tocar na turnê, dentro de seu amplo repertório, que abrange mais de 40 anos de trajetória, Ozzy deu preferência a clássicos, privilegiando a primeira parte de sua carreira e relembrando hits do Black Sabbath, banda que o consagrou. De Scream, somente uma faixa entrou para o show: "Let Me Hear You Scream", a segunda da apresentação de cerca de uma hora e meia.

Se seu jeito atrapalhado de falar, que já virou alvo de mil comediantes, é um sinal de que não passou incólume pelos anos de festa pelos quais submeteu o corpo, a disposição dele surpreende. É claro que o senhor Osbourne, já na idade em que se encontra, não tem mais o fôlego de um mocinho do heavy metal, mas com seu jeito esquisito de bater palmas e andar curvado e lento, ocupou todo o palco, cobrou o tempo todo animação da plateia. Ele jogou seus já tradicionais jatos de espuma nos ocupantes do gargarejo e, mesmo sendo o tipo de músico que precisa carregar em seu entourage três médicos, cantou debaixo da forte chuva que cairia mais tarde sem reclamar - "Foda-se a chuva", bradou.

Durante "Mr. Crowley", faixa de seu primeiro disco solo, Blizzard of Ozz (que, alias, esteve bastante presente no setlist), ganhou uma bandeira de um fã e, como já é mais do que manjado, ouviu-se um alvoroço quando Ozzy se enrolou nela. A bandeira foi, então, aposentada atrás de Ozzy e serviu como o único colorido a quebrar o palco negro (combinando com o mar de camisetas pretas do público, que subiam e desciam ao ritmo do som de Ozzy) e bastante simplório, sem qualquer adereço, ocupado apenas pelos instrumentos e os músicos da banda de Ozzy, ainda mais cabeludos do que o metaleiro sexagenário.

Seguiram-se as músicas "I Don't Know", "Fairies Wear Boots", do Black Sabbath, durante a qual foi introduzida uma guitarra extra, presente apenas quando Ozzy cantava músicas da banda, e "Suicide Solution", uma das que mais levantou os fãs, mesmo com a chuva tendo apertado naquele momento. Durante "Road to Nowhere", apesar da corrida pelas capas plásticas vendidas pelos ambulantes, as pessoas não se desanimaram e o show seguiu molhado, mas empolgante.

Na hora dos solos, bastante providencial para que Ozzy, ensopado, deixasse o palco por uns bons dez ou quinze minutos e voltasse um pouco mais seco, já quando a chuva havia dado uma trégua, sua banda mostrou-se eficiente em segurar a atenção. Esse momento, que costuma dividir opiniões em shows de rock - tinham uns pirando com cada sonoridade diferente e outros olhando no relógio e aguardando ansiosamente a volta de Ozzy - trouxe solos do guitarrista, o novato Gus G., e do baterista Tommy Clufetos, e mais alguns improvisos, que incluíram uma versão na guitarra de "Brasileirinho".

Quando o Príncipe das Trevas retornou, foi com tudo: já mandou direto "Iron Man", que sonorizou o ponto alto da apresentação, com todo mundo cantando e pulando junto. Seguiram-se "I Don't Want to Change the World" e "Crazy Train", que fechou a primeira parte da performance com a energia em alta. Ozzy agradeceu e, para o bis, nem deixou o palco. Já emendou um dos momentos mais belos da ocasião, que foi quando todo mundo colocou os braços para cima e fez coro para "Mama, I'm Coming Home".

Durante a coletiva de imprensa realizada em São Paulo no dia anterior (leia aqui), quando indagado se guardava alguma surpresa para o resto da turnê brasileira, Ozzy comentou que não poderia tocar todas as músicas que as pessoas pedem, ou não sairia do palco por cinco dias, mas que sua competente banda (que, além dos integrantes já citados, ainda inclui o baixista Rob "Blasko" Nicholson e o tecladista Adam Wakeman, filho de Rick Wakeman, do Yes) estava sempre a postos para mandar qualquer música de seu repertório, dando a entender que, se desse na telha, ele sairia do roteiro pré-ensaiado. Não foi o que aconteceu. Antes da faixa que encerrou o show, "Paranoid", intensificaram-se os pedidos por "No More Tears", mas não teve jeito. Ozzy não entendeu - ou fez que não entendeu - e respondeu: "Como? Mais uma música?" e fechou a apresentação com o sucesso do Sabbath. Antes de ir embora, agradeceu, ficou de joelhos e louvou seus súditos da plateia como se os papeis estivessem invertidos e eles fossem estrelas do rock.

Ozzy Osbourne no Brasil

O artista, que já havia estado em Porto Alegre, antes de desembarcar em São Paulo, agora faz as malas e segue para Brasília, onde se apresenta na próxima terça, 5. Depois, é a vez do público carioca ver o "Príncipe das Trevas" de perto: ele chega ao Rio de Janeiro no dia 7. Para encerrar a passagem pelo Brasil, sobe ao palco na capital mineira no dia 9. Clique aqui para mais informações.