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Rolling Stones retornam aos palcos com show energético em Londres

Com participação dos ex-integrantes Bill Wyman e Mick Taylor, além de Mary J. Blige e Jeff Beck, banda apresentou set list de 23 canções neste domingo, 25

Gustavo Silva Publicado em 26/11/2012, às 15h35 - Atualizado em 27/11/2012, às 19h28

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Os Rolling Stones fizeram um show histórico em Londres na noite do último domingo, 25 - AP
Os Rolling Stones fizeram um show histórico em Londres na noite do último domingo, 25 - AP

"O que diabos é isso?", perguntou Elton John quando ouviu pela primeira vez os Rolling Stones tocando no rádio. O ator Johnny Depp tem a resposta: "Ótimas músicas para se fazer coisas ruins". Falas assim, intercaladas com as de outras personalidades – Iggy Pop e Pete Townshend entre elas – e de anônimos, marcam a influência da banda sobre a vida dos entrevistados em um vídeo exibido no início do primeiro show oficial da volta dos Rolling Stones aos palcos, neste domingo, 25, em Londres. A banda comemora 50 anos de atividades e serviços prestados à música com duas apresentações na capital inglesa e algumas nos Estados Unidos (um par em Nova Jersey e outra em Nova York).

Rolling Stones 50 anos: uma carreira em fotos.

Nem só de celebrações as novas performances são feitas. O grupo aproveita as datas também para divulgar a coletânea Grrr! – algo que fica claro quando uma trupe de percussionistas fantasiados como gorilas (em referência à capa do lançamento) começa com batidas em meio aos corredores da O2 Arena. É a deixa para, tal como na compilação, Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood revistarem um passado distante que a onomatopeia do lançamento deixa explícita: o rugido selvagem de uma banda incontrolável e perigosa, a antítese ameaçadora dos Beatles nos anos 1960. A referência histórica vem a calhar: é com "I Wanna Be Your Man", escrita por Lennon e McCartney, que o jubileu de ouro dos Stones começa no palco.

Contudo, fica claro logo na primeira música o tamanho do desafio que é saber o que de fato esperar dos Rolling Stones. A dificuldade em estabelecer parâmetros é imensa. Avaliar pelo mito e pelo legado? O jogo já estaria ganho para a banda antes mesmo da primeira rebolada de Jagger. Pela história? São cinquenta anos de rock and roll, oras! Ser complacente, relativizar e ter em mente que os homens principais no palco já passaram há tempos da barreira dos 60 anos? Improvável que seu avô teria suingue para passar duas horas em um palco. Ser severo e julgar que, tal pelo lançamento da nova compilação, a banda é um empreendimento financeiro enorme, uma marca movida pela ganância em explorar um público que pagou entre 100 e mil libras para assisti-los? Até Jagger é sarcástico quanto a esse ponto. "Como estão vocês?", ele pergunta para a plateia mais próxima. "E vocês aí em cima, nos acentos baratos?" Ele ironiza: "Bom, os lugares não são bem baratos, né?"

Em termos artísticos, lapsos burocráticos de pouco brilho – como na própria abertura, "I Wanna Be Your Man", pálida sombra da urgência e potência de décadas passadas – ou erros de execução – o que Richards faz na introdução de “Honk Tonky Women” é de fazer corar qualquer músico de barzinho – se intercalam com momentos referenciais à lenda que os Stones representam. "Paint It, Black" soa tão maligna hoje quanto seria em qualquer época; "All Down the Line" faz jus ao tributo que presta às fontes de inspiração e contemporâneos do conjunto, exibidos no telão (Elvis Presley, Bob Dylan, B.B. King, Muddy Waters, Howlin' Wolf, e a lista segue); "Miss You" é capaz de provocar reações sexuais em uma parcela significativa da plateia, que mantém o direito de chamar Charlie Watts, 71, de “meu jovem”; e "Start Me Up" e "It’s Only Rock and Roll" ainda funcionam como verdadeiros hinos.

Se "Gimme Shelter" não chega a ser exatamente visceral com a convidada Mary J. Blige, a primeira participação especial da noite não deixa de ser um contraponto potente aos clamores de guerra de Jagger. Muito mais entusiasmada do que Bill Wyman (que subiu ao palco aparentando estar alheio à situação para executar "It’s Only Rock and Roll" e "Honky Tonk Women" com seus ex-parceiros de crime) e menos virtuosa do que Jeff Beck, que foi chamado para demonstrar técnica, mas que não teve muito a adicionar em "I'm Going Down", Blige só ficou aquém da reunião sem alarde de Mick Taylor com a banda. Ele nem chegou a ser apresentado quando entrou em cena, mas fez, ao lado de Richards e Wood, com que "Midnight Rambler" fosse um dos melhores momentos da noite.

No fim, uma reunião completa esteve apenas a um holograma de distância – com a ausência do falecido Brian Jones. Mas o grupo é moderno no que diz respeito ao uso da tecnologia. O palco é, ao lado dos telões em alta resolução, o que há de mais moderno para ser visto. A parte superior emula os lábios do símbolo da banda e a língua deságua em uma parte onde sortudos (e bem abastados) espectadores assistiram ao show em pé (veja na galeria de fotos imagens da cenografia).

Os Stones, via o estilo pirata de Richards, a jovialidade de blueseiro de Wood e o carisma e performance adolescente de Jagger, que veste casacos diferentes a todo momento só para ter o prazer de tirá-los minutos depois, só dividem a atenção do público com seus convidados – e com Watts, que não faz questão alguma de ser notado enquanto rockstar. Isso fica claro no momento em que foi apresentado à plateia, quase arrastado à frente do palco, mas é ele quem segura musicalmente o grupo, ao lado do sempre discreto, mas igualmente importante baixista Darryl Jones. Figuras constantes há décadas nas apresentações ao vivo, completam a banda no palco Lisa Fischer e Bernard Fowler nos backing vocals, Chuck Leavell nos teclados e Bobby Keys no saxofone.

Há momentos em que Jagger é descartado do palco, como quando Richards assume os vocais na sequência "Before They Make Me Run" e "Happy"; há outros que poderiam ser descartados inteiramente da apresentação, como as relativamente justificáveis novidades "One More Shot" e "Doom and Gloom" – embora esta funcione muito melhor que a primeira –, e, ainda, porções que definitivamente deveriam nem ser cogitadas, como a inexplicável adição de "Out of Control", do álbum Bridges to Babylon. Mas é no fim da apresentação, no único bis da noite, que a essência dos Stones se converge: o júbilo de graças de "You Can't Always Get What You Want", pela primeira vez executada ao vivo na companhia de um coral de vozes, e toda a energia pura e crua de "Jumpin' Jack Flash".

“Onde está ‘Satisfaction’?”, você deve se perguntar. Será que até a banda está saturada do que talvez seja o single mais representativo e popular de sua carreira? O ponto de exaustão foi quebrado? Na verdade, não. A música estava prevista, assim como "Lady Jane". Mas um atraso inicial de 25 minutos e um alongamento de mais de uma hora além do que estava previsto fizeram que ambas as músicas fossem limadas do repertório – e que o grupo tenha que encarar uma multa de alguns milhares de libras por desrespeitar as regras da casa. De sua maneira particular e atualizada para senhores de idade no novo milênio, os Rolling Stones ainda continuam a serem bad boys.

Veja o set list do show abaixo:

1 - “I Wanna Be Your Man”

2 - “Get Off of My Cloud”

3 - “All Over Now”

4 - “Paint It, Black”

5 - “Gimme Shelter” (com Mary J. Blige)

6 - “Wild Horses”

7 - “All Down the Line"

8 - “I'm Going Down" (com Jeff Beck)

9 - “Out of Control

10 - “One More Shot”

11 - “Doom and Gloom”

12 - “It's Only Rock and Roll (But I Like It)” (com Bill Wyman)

13 - “Honky Tonk Women” (com Bill Wyman)

14 - “Before they Make me Run”

15 - “Happy”

16 - “Midnight Rambler” (com Mick Taylor)

17 - “Miss You”

18 - “Start Me Up”

19 - “Tumbling Dice”

20 - “Brown Sugar”

21 - “Sympathy for the Devil”

Bis

22 - “You cant't Always Get what you Want”

23 - “Jumpin' Jack Flash”