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Sandy e Junior voltam para mostrar que nada deve ser imortal - nem o outono, nem o amor, nem a nostalgia [ANÁLISE]

Dupla fez a primeira das quatro apresentações em São Paulo para um Allianz Parque lotado por 45 mil fãs nostálgicos

Pedro Antunes Publicado em 24/08/2019, às 23h25

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Sandy e Junior em São Paulo (Crédito: Staff Images / Allianz Parque)
Sandy e Junior em São Paulo (Crédito: Staff Images / Allianz Parque)

Ainda bem que Sandy e Junior voltaram para mostrar como envelhecemos bem. Que todo aquele sentimentinho amoroso de sei lá, 15 ou 20 anos atrás, era pequeno, modesto, dramático e, sim, brega até a ponta dos fios de cabelo que mais nasciam do que caíam.

Quando escreveram “As Quatro Estações”, lançada no disco de mesmo nome, em 1999, possivelmente os outonos eram realmente iguais, as folhas realmente caíam no quintal tudo mais que a canção diz em seus versos.

A verdade é que 20 anos depois nenhum outono é igual ao outro. As estações se misturam, existe um aquecimento global terrível embora Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, negue-o. Também existem coisas impensáveis 20 anos atrás, como o tamanho das queimadas na floresta Amazônica, cuja causa, segundo um certo presidente, é de “ONGs que perderam a mamata”.

Mas, não, estamos no presente, em uma fria noite de agosto de 2019, no primeiro show da dupla Sandy e Junior em São Paulo, na turnê Nossa História, criada para celebrar os 30 anos de carreira dos irmãos que cresceram na frente das câmeras e das plateias, registrando essas transformações do fim da infância, adolescência e início da vida adulta em discos.

Há 12 anos eles não eram de fato “uma dupla”. “Isso é um sonho que nunca pensamos em sonhar”, diz Sandy, logo no início do show. Ué?

O fato é que o “sonho jamais sonhado” é um sucesso absoluto de público. São duas apresentações em São Paulo, no Allianz Parque, neste fim de semana, sábado, 24, e domingo, 25. São 45 mil pessoas por show, 90 mil no total. Uau! Eles ainda voltam à cidade em outubro, para mais duas apresentações. Ao todo, serão 180 mil pessoas só em São Paulo, um número alcançado somente por grandes nomes gringos do pop e do rock pela cidade.

Em dado momento, Junior Lima traz o momento para o presente, de fato, quando diz: “Deixem a nossa Amazônia em paz”. Ele ouve, de volta, gritos de “ei, Bolsonaro, vai tomar no c*” e “ele, não!”. É um dos poucos momentos da atual turnê que se volta a 2019.

Outro deles se passa no telão, basicamente, quando é exibida uma simulação de como seria um grupo de WhatsApp da turma da série de Sandy e Junior exibida na TV Globo, de 1999 a 2002.

De resto, trata-se de uma curiosa viagem nostálgica para tempos mais simples. Quando amores eram tudo ou nada, boletos se pagavam sozinhos (graças aos pais) e dar uns beijos era o acontecimento do semestre, seguido em importância do terrível período de provas.

Isso não quer dizer que seja bom, é verdade. É assustador assistir a Junior Lima na tentativa de rimar como um rapper em “Nada Vai me Sufocar” sem qualquer ritmo e a engasgar na própria língua. Ou perceber que, ao cantarem juntos, Sandy e Junior por vezes se desencontram vocalmente. Ou ouvir o som que ecoa no Allianz Parque completamente embolado - baixo, guitarra(s?), bateria e um teclado (acho) tornam-se uma massa cinzenta que por vezes é mais alta do que as vozes dos protagonistas.

Mas 2019 não tem sido um ano fácil. Imagino que para vocês também. Portanto, a experiência de ouvir canções clássicas dos anos 1990 e 2000 torna-se escapista - escrevo isso sem julgamentos, entenda, a vida é realmente tem batido na gente tal qual Ivan Drago espancou o herói Rocky Balboa em Rocky 4.

Os irmãos parecem se divertir no palco dentro dessa viagem, o público nem se fala. A festa é bonita, com quatro telões de alta definição (um de cada lado do palco, um acima, outro atrás deles), balões, gritos, luzes. Bonito, mesmo.

Isso faz com que a função do crítico musical, a minha, seja completamente dispensável. Não se trata disso. A parada é outra, tem relação com a memória afetiva das pessoas, não com excelências estéticas, musicais, líricas ou o que quer que seja. Mas você, leitor, chegou até aqui, leu isso tudo, meu trabalho foi cumprido com sucesso - ame-me ou odeie-me, nada será para sempre, espero.

Não existe algo mais curioso, contudo, do que ter mais de 30 anos e ouvir essas canções a fundo, liricamente, e perceber uma frequência de questões tão absolutas. “Imortal” e “para sempre” são termos repetidos nas músicas - em sua maioria, tristonhas. Oras, depois de três décadas de vida, vocês já sabem que essa história toda é mais idealizada do que real.

Imagine, você, se fosse assim. Queria você estar com aquela paixãozinha de colégio que nunca deu bola até hoje? Ou a boca do 1° beijo? O namorico daquela época? Se a resposta for sim, parabéns, você é uma exceção.

Mas, no fundo, é fofo. Sandy e Junior cresceram na frente das câmeras, dos microfones, das multidões. São bem-sucedidos nos 12 anos como artistas solo e como irmãos, como eram durante os 17 anos de dupla. No momento ultra nostálgico do show, o telão mostra imagens dos anos como dupla, desde pivetinhos. Difícil não se ver ali também.

A verdade é que Sandy e Junior voltaram - ainda bem - para nos lembrar de tempos mais inocentes, mais simples. Da época em que “o que é imortal [realmente] não morre no final”. Tem dias que não precisamos de verdades escancaradas, mesmo.

Turnê que segue

A turnê Nossa História repete a dose neste domingo, 25, em São Paulo, antes de voltar para a cidade nos dias 12 e 13 de outubro, ambos com ingressos esgotados.

Depois da capital paulista, o show segue para Curitiba, Porto Alegre, Belém e Manaus. Duas apresentações no exterior foram marcadas para Nova York e em Lisboa. E, por fim, a despedida será em no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro.

Setlist completo do show: 

"Não dá pra não pensar"
"Nada vai me sufocar"
"No fundo do coração"
"Estranho jeito de amar"
"Olha o que o amor me faz"
"Nada é por acaso"
"Love Never Fails"
"As quatro estações"
"Aprender a amar"
"Imortal"
"Libertar"
"Eu acho que pirei"
"Beijo é bom" / "Etc... e tal" / "Vai ter que rebolar" / "Dig-Dig-Joy" / "Eu quero mais"
"Enrosca" (do Fábio Jr.)
"A gente dá certo"
"Você pra sempre (Inveja)" (acústica)
"Ilusão" (acústica)
"Não ter" (acústica)
"Era uma vez..." (acústica)
"O amor faz" (acústica)
"Inesquecível"
"Super-herói (Não é fácil)"
"A lenda"
"Cai a chuva"

Bis:
"Quando você passa"
"Desperdiçou"
"Vamo pulá!"