Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Scott Weiland: a entrevista perdida da Rolling Stone EUA

Em 2004, em um momento em que o Velvet Revolver tinha o disco número um das paradas nos Estados Unidos, o vocalista falou sobre letras nervosas, o Stone Temple Pilots e a relação complicada com as drogas

Gavin Edwards Publicado em 04/12/2015, às 10h45 - Atualizado às 11h02

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Scott Weiland, ex-vocalista de Stone Temple Pilots e Velvet Revolver - Rich Fury/AP
Scott Weiland, ex-vocalista de Stone Temple Pilots e Velvet Revolver - Rich Fury/AP

"Estou de saco cheio de falar sobre heroína e cocaína”, Scott Weiland disse à Rolling Stone EUA em 2004. "Estou de saco cheio de falar sobre como é estar no banco de trás de um carro de polícia". A Rolling Stone estava acompanhando o Velvet Revolver em turnê, de dentro do ônibus da banda, que tinha acabado de chegar ao número um das paradas com o disco de estreia. Weiland estava magro e tenso, mas tranquilo quando conversávamos sobre Dungeons and Dragons. Ele se lembrou de quando era jovem, em Ohio, e nevava demais para ir à escola, então podia passar o dia investindo no RPG. Mas a entrevista, assim como a vida dele, sempre acabava voltando para o tema das drogas. Leia, abaixo, trechos inéditos da conversa.

Scott Weiland, ex-vocalista de Stone Temple Pilots e Velvet Revolver, morreu aos 48 anos.

O Stone Temple Pilots não recebeu críticas boas até sair "Interstate Love Song", de Purple.

Sim, aquele single foi muito bem recebido. O engraçado é que quanto melhor as resenhas ficavam, menos vendíamos. Éramos uma banda para o publico, no início, mas começamos a experimentar mais. Ficamos de saco cheio do rock básico e começamos a ouvir uma música pop mais obscura, a tentar novas coisas. Houve um período em que realmente odiava rock.

Nossos gostos mudaram e nossa paleta se expandiu, de forma que alienamos o público médio, que gosta de coisas normais. E você acaba percebendo que a maioria que compra discos não é a população de fãs de música da cidade grande. Ficamos sofisticados demais.

Se fosse fazer esses discos de novo, você teria…

Não teria mudado nada. Mas muito daquilo tinha a ver com a minha experiência com drogas, o que mais tarde se tornaria uma dependência das drogas. As drogas são boas por um tempo, em termos de criatividade, te dá uma centelha. O que faz é te dar objetividade.

Veja uma lista de 20 faixas que, assim como “Plush”, completaram duas décadas de existência em 2013.

Como?

Toda vez que você se arrisca como artista, é algo assustador, especialmente se você já faz muito sucesso. Quando você alcança muita gente, as massas, é mais fácil ficar naquele nicho, sabe? Ainda mais se você está ganahnado muiro dinheiro e sabe que tem uma fórmula. É fácil ficar naquilo. Mas quando comecei a usar heroína, percebi em mim um senso de objetividade. Eu consegui intelectualizar a forma como via minha música e me distanciar. Tirou de cena o aspecto assustador então pude correr mais riscos e explorar. Sabe, partir para uma aventura sônica.

Mas deve ter havido um lado ruim.

Quando começamos a experimentar com drogas foi quando começamos a avançar como banda. E eu levei isso bem longe no meu disco solo. Mas o que acabou acontecendo foi que quanto mais eu me permitia usar drogas, mais aquilo virou uma dependência e uma muleta. Fiquei exasperado e perdi a capacidade de sentir. Comecei a sentir que havia um cobertor sobre o meu coração.

Houve um período em que o STP e eu não estávamos fazendo música e não estávamos nos dando nada bem. Mas eu tinha o meu estúdio, então fiquei compondo e gravando muita coisa. Só que algo me disse para não lançar aquilo. Era tudo fluxo de consciência, era sagaz, mas não tinha substância alguma, na verdade.

Fizemos No. 4 — não foi o nosso melhor disco, mas tinha alguns momentos muito bonitos. "Sour Girl" estava naquele album, e acho que a mais emocionante provavelmente era "Atlanta". Tinham umas 11 ou 12 faixas naquele disco e pelo menos cinco que eu considero muito fortes. E aí, claro, foi quando eu fui preso.

“Não tivemos escolha”, disse integrante do Stone Temple Pilots sobre demissão de Scott Weiland.

O que você aprendeu indo para a cadeia?

Foi isso que me levou a passar mais de dois anos vivendo completamente limpo. Foi aí que aprendi a ser persistente e organizar minha vida. Muitos artistas que são dependentes de drogas têm esse medo de que não vão conseguir compor se não estiverem usando eu não tenho esse mesmo medo – é muito mais fácil para mim acessar minhas emoções agora.

Eu tenho distúrbio bipolar e já tenho muitas mudanças de humor. É algo com que tenho que lidar todos os dias. No quesito performance, se apresentar quando você está chapado não é nada agradável. Mas a heroína provavelmente é pior mesmo para a sua voz, seca toda a garganta.

De onde vem a raiva contida nas suas letras?

Eu só não quero ser empurrado para o cantinho. Toda vez que me sinto enfiado em uma caixa, eu me manifesto. Minha reação primordial é de atacar. É um personagem diferente que está no palco: tem toda uma sexualidade sombria que é totalmente diferente de mim. Sabe, eu não deixo ninguém saber quem eu sou de verdade.

Como você definirá o sucesso com o Velvet Revolver?

Duas respostas: o quão grande será minha próxima casa e o quão feliz eu estou a cada dia quando acordo. Se eu não tivesse tido que me esforçar tanto para mudar, eu não seria o homem que sou hoje. Amo minha esposa, amo meus filhos, amo minha vida atual.