Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Segunda edição do Brasil Comic Con não empolga, mas convidados renomados salvam o dia

Destaque deste sábado, 15, foi a presença do ator Paul Zaloom de O Mundo de Beakman

André Nespoli Publicado em 16/11/2014, às 17h02 - Atualizado em 18/11/2014, às 19h43

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
o lendário Beakman, de <i>O Mundo de Beakman</i> - Fabricio Dolci
o lendário Beakman, de <i>O Mundo de Beakman</i> - Fabricio Dolci

Um dia de clima indeciso: fez frio e fez calor. Além da temperatura oscilante, também pode ser descrito dessa forma a segunda edição do Brasil Comic Con, que começou neste sábado, 15, em São Paulo. O evento, que tem proposta semelhante ao que acontece nos Estados Unidos há mais de 20 anos, teve altos e baixos. Não por causa da seleção de atrações com grandes nomes das HQs, do cinema e da cultura geek, mas pelo simples fato de que um evento como esse, quando é reproduzido fora do país de origem, necessita de certo tempo para se firmar e ter uma identidade própria.

Veja dez super-heróis que deveriam ganhar filmes próprios.

A programação do dia contou com 16 painéis, que se separavam entre palestras, bate-papos, apresentações e entrevistas com convidados especiais. Do início ao fim do sábado, alguma coisa acontecia para diversos interessados e foi preciso escolher bem a atração favorita para não perdê-la. O evento nada mais é do que uma celebração da cultura pop. Faça calor, faça nevasca, estes jovens apaixonados por quadrinhos, animes e mangás se divertem com pouco, apesar gastarem muito. Pequenos souvenires à venda em estandes montados no evento custavam, no mínimo, R$ 15. Pelúcias pequenas ultrapassavam a casa dos R$ 50. Sem desconto. A entrada, para estudante, é de R$ 57,50.

“Acabamos de começar. Até agora, está como qualquer convenção em qualquer lugar no planeta”, disse o renomado ilustrador Michael Golden em entrevista à Rolling Stone Brasil, por volta das 13h, sobre o clima no começo da feira. Realmente. Para se ter uma noção ampla do que seria a Brasil Comic Con 2014, que abriu os portões às 11h, só passando o dia por lá. E é bom ouvir o conselho de Golden, um cara que há mais de 40 anos está no mercado dos quadrinhos e tem experiência dos “dois lados”, tendo trabalhado por muito tempo na DC Comics e posteriormente na Marvel, onde está até hoje. Ou seja, ele tem tarimba para falar.

Edição 94 – São Paulo se prepara para receber as duas primeiras grandes feiras de cultura pop do país.

Na mesma gigante das HQs - e do cinema, não é? - o paraibano Mike Deodato Jr. é um dos artistas que mais salta aos olhos do público brasileiro. Criador de quadrinhos sobre a história do estado natal dele há algumas décadas, hoje Deodato Jr. é um dos mais requisitados ilustradores da Marvel, tendo assinado heróis do calibre de Thor e Hulk.

“Ha uns três, quatro anos, eu era mais reconhecido lá fora. Mas, nos últimos tempos - talvez por conta da internet ou pelo fato de o mercado brasileiro de quadrinhos estar crescendo -, estou sentindo um aumento da minha base de fãs no Brasil. É um negócio novo pra mim, não pude avaliar ainda. Mas é muito legal você ser reconhecido no próprio país. Tenho sentido que isso está aumentando. O reconhecimento não está tão grande quanto lá fora, local em que minhas revistas são publicadas. O fã brasileiro é mais amoroso”, explicou o artista, já dando a deixa para o próximo assunto que pipocou na Brasil Comic Con 2014: o cinema.

Cinema nerd

O auditório principal teve um painel totalmente dedicado à sétima arte. Lá estava ninguém menos do que o produtor norte-americano David Gorder, um dos responsáveis pela franquia X-Men. O nome dá mesa, "A Era dos Super-Heróis - Os 15 anos que mudaram o cinema", já dá o tom do conteúdo abordado: os quatro filmes dos mutantes já lançados (terá um quinto em 2016) e que, segundo Gorder, são fundamentais para a mudança que Hollywood sofreu, passando a se interessar por produções do gênero. Antes a indústria praticamente os ignorava. Mas, desde o lançamento de X-Men: O Filme (2000) - que arrecadou US$ 22 milhões somente na estreia nos Estados Unidos -, tudo mudou.

Cheio de boas histórias de bastidores, Gorder contou como Hugh Jackman foi escolhido para dar vida ao personagem Wolverine (queriam alguém baixo e “peludo”, mas acharam Jackman em um musical, alto e com cara de galã). Posteriormente, David Gorder falou em entrevista à Rolling Stone Brasil: “X-Men (o primeiro longa) é um marco. Houve algo parecido com os filmes do Batman nos anos 1980 e 1990, mas aqueles eram diferentes, o herói é um personagem mascarado. Em X-Men, foi a primeira vez em que os personagens pareciam normais e tinham poderes sombrios ou misteriosos. Mas a mensagem da marginalização de pessoas que são diferentes foi um pouco mais profunda como história do que em outros filmes".

Galeria: as dez mortes mais dramáticas de Game of Thrones.

Ainda segundo o artista, X-Men: O Filme foi mais do que uma simples tradução dos quadrinhos. "Bryan Singer [diretor e produtor da franquia] trouxe os X-Men como eles poderiam ser no mundo real e isso é o marco para os filmes baseados em quadrinhos. Este é o modelo atual, porque o público gosta de acreditar que estes super-heróis existem. Eles ainda são fantásticos e espetaculares, mas a plateia responde a isso, pois querem que estes heróis sejam reais.”

Bada-bing-bada-bang-bada-boom

Paul Zaloom, o intérprete do cientista mais maluco da televisão, foi a grande atração do dia. Se pouco antes, já caracterizado como o lendário Beakman, de O Mundo de Beakman, ele ficou quase duas horas tirando fotos (por R$ 92, cada) com quem se dispôs, o ator norte-americano fechou o dia com maestria. Teve sensibilidade em assumir que os telespectadores dele cresceram e se sentiu à vontade para fazer piadas mais adultas, com muito sarcasmo e acidez no painel que deveria durar uma hora, mas estourou o tempo em cerca de 40 minutos. Ninguém reclamou.

Edição 98 – Gotham narra as origens dos heróis e vilões que acompanham as HQs do Batman.

Zaloom mostrou o show solo dele com ajuda de um tradutor bastante caricato e muitos voluntários da plateia, que assistiam às experiências e riam com as piadas muito inteligentes. Após o número dele como Beakman e uma pequena pausa, Zaloom retornou ao palco sem fantasia e falou a respeito da série cultuada, principalmente, na América do Sul, onde reside a maioria dos fãs. Quem estava na Brasil Comic Con 2014 se deliciou com as curiosidades sobre o programa gravado entre 1992 e 1997. Paul Zaloom ainda revelou que a série foi cancelada por falta de interesse das emissoras. O ator demonstrou extrema gratidão aos admiradores e fez questão de terminar o tempo dele no palco dizendo em alto e bom som que “jamais vou me cansar de escutar que as pessoas viraram cientistas por causa do Beakman”.

Cosplay

Como não poderia deixar de ser, os famosos e desembaraçados cosplayers marcaram presença no evento. Fãs das mais variadas séries que gostam de se vestir como personagens de animes, mangás, HQs e videogames, investindo pesado na brincadeira. A feira Brasil Comic Con não seria a mesma sem eles. Houve uma competição para escolher a melhor fantasia e o melhor e a melhor performance - o prêmio total foi de R$ 10 mil.

“Antigamente era só por hobby, mas agora eu trabalho com isso. Sou sou cosmaker [quem cria e produz fantasias] e essa é uma forma de divulgar a minha arte. É muito bom interpretar um personagem que você gosta. Eu vou ao maior número de eventos que consigo. Nunca parei pra pensar e fazer a conta, mas, se geralmente acontecem entre cinco ou seis por ano, estou em quatro deles”, contou Mariana Loschiavo Moreira, de 21 anos.

Conheça super-heróis que assumiram a homossexualidade nas HQs.

A argentina Ana Bertola foi a cosplayer convidada de honra para a disputa. Além de se apresentar pelos corredores do local que abrigou o encontro (fantasiada, é claro) e de tirar centenas de fotos com os presentes, a moça de 28 anos foi uma das juradas na competição, que só termina no domingo. Elogiando o público brasileiro, Ana opinou que, não importa que Pokémon ou Cavaleiros do Zodíaco sejam clássicos, o que importa é a novidade do momento. “Acredito que depende muito da série. Quando o que estou vestindo é de algo muito popular no momento, muitos já reconhecem, mas isso também acontece quando eu me visto de um personagem que era conhecido só quando eu era mais jovem”, balanceou.

Grandessíssima atração

Também houve espaço para os grandes justiceiros japoneses. Um dos convidados especiais da Brasil Comic Con 2014 foi Takumi Tsutsui, o ator que deu vida ao Jiraiya, sucesso infantil no Brasil no final da década de 1980 e início dos anos 1990. Recentemente chegado à casa dos 50 anos, o ator japonês parecia animado no painel que o homenageou e cantou a música de abertura da série. Findada a palestra, na qual brincou muito com a plateia, Tsutsui saiu de cena sob intensos aplausos. Ao atender ao pedido de um fã para que autografasse um pequeno boneco do Jiraiya, o artista, com as mãos trêmulas, conseguiu terminar de escrever mostrando alguma dificuldade. Metáfora que foi perfeita para o eterno herói, que na sequência conversou com a Rolling Stone Brasil.

“Realmente sou uma pessoa normal e até o Jiraiya também é [repare que ele falou no tempo presente], já que na verdade ele é muito próximo das pessoas e não é um dos 'metal heroes'”, afirmou. Sim, o ator fez parte da franquia da Toei ao lado de Jaspion, Jiban e companhia, mas Jiraiya era um ninja e não tinha nenhum poder ou armadura especiais como estes citados e é justamente esta distinção que o faz mais humano e popular. “Ele era uma pessoa de verdade que combatia os caras maus. Takuma Tsustui não se considera uma pessoa anormal”, traduziu a moça que o acompanhou também na apresentação ao público e foi cuidadosa o bastante para transmitir a gratidão de quem interpretava.

Dez piores filmes de super-heróis da última década.

A Brasil Comic Con 2014 teve um primeiro dia de sucesso, se levarmos em conta as atrações. Porém, não pode ser comparada com as edições norte-americanas que acontecem em San Diego e em Nova York, por exemplo, e nem com eventos do tipo que já acontecem em terras brasileiras e que já têm alguns anos de história, como a anual Anime Friends (que se baseia somente na cultura japonesa). Enormes franquias que marcaram presença na BCC, como The Walking Dead, Harry Potter, Game of Thrones e 007 não mostraram muito fôlego, a não ser na amostra de itens compráveis.

No entanto, é bom pensar que mesmo em na segunda edição, o evento mostrou que tem potencial, atrai nomes de peso e um bom público, justamente por usar a o nome internacional. Neste domimgo, 16, a Comic Con trará mais atrações, com destaque para o sétimo ator que interpretou o Doctor Who, Sylvester McCoy, as finais das disputas de cosplay, os Irmãos Piologo e show com a Família Lima tocando temas de séries famosas.