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Seriedade e maturidade de Calm é 'progressão natural' do 5SOS, explica Calum Hood [ENTREVISTA]

O baixista, 'preso' em Los Angeles durante a quarentena, explicou que cresceu como pessoa - e sua música, naturalmente, o seguiu

Yolanda Reis Publicado em 05/04/2020, às 11h00

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Michael Clifford, Luke Hemmings, Ashtow Irwin e Calum Hood, 5 Seconds of Summer (Foto: Andy DeLuca)
Michael Clifford, Luke Hemmings, Ashtow Irwin e Calum Hood, 5 Seconds of Summer (Foto: Andy DeLuca)

Calum Hood está trancado em casa, em quarentena em Los Angeles. Divide o tempo em fazer “nada” - ao lado de Luke Hemmings, Michael Clifford e Ashton Irwin - e divulgar Calm, disco lançado pelo 5 Seconds of Summer em meio à pandemia do coronavírus. Entre dias nos quais pessoas estão sem sair do quarto, escolheram não adiar o novo álbum - mesmo que isso signifque shows sem multidão, feitos no quintal com só uma caixa de som, celular e sinal falho do wi-fi. 

“Remarcar [o lançamento] seria a coisa errada para fazer,” acredita Hood. “Em tempos como esse, as pessoas precisam de música mais do que nunca. É bem simples. Você precisa, também, entender como é sortudo por estar nessa situação, poder se afastar e ficar em casa durante um tempo, e  não ficar tão preocupado com isso como aquelas pessoas que não podem fazer isso. Então, era o mínimo que podíamos fazer…”

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Calm, lançado na sexta, 27, é o quarto disco do 5SOS. Veio para resgatar a guitarra e o pop rock típico do começo da banda - que estava totalmente pop em Youngblood (2018) - e é o mais “adulto” do grupo até agora. Composições, antes sobre meninas, escola e diversão adolescente, viraram introspecções de relacionamentos, mágoas e fases da vida. Bem realistas, duras, sombrias e sóbrias. Faz parte da evolução caótica de toda uma geração - e dos quatro músicos.


“Quando você envelhece, fica mais engajado em quem você é como pessoa. Acredito que é uma viagem; há momentos sombrios no disco, mas existe um equilíbrio com momentos mais leves. Mostra uma perspectiva mais ampla sobre a vida. Você consegue medir o que é bom e ruim. O que mais mudou [nos últimos anos] foi nossa consciência de onde queremos estar como pessoas e artistas, e nos dirigir ao respeito dos nossos fãs, o que eles querem ouvir, e o que gostaríamos de tocar em 10, 20 anos.”

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O trabalho é bem equilibrado. Há faixas bem pesadas (como “Teeth”, gravada com Tom Morello), um misto do pop atual com o que é “a cara” do 5SOS (“Best Years”, criada em parceria com The Edge do U2) e algo mais calmo, divertido (“Wildflower”, o último single, alegre, bonito - e o favorito de Calum). Tem a ver com a origem pop rock da banda, no começo dos anos 2010, e com todo a nova música mainstrem - esta, não mais bonita, e sim realista e meio dark - à exemplo de Billie Eilish e Lizzo, as duas maiores concorrentes ao Grammy 2020. Boa notícia para a banda, que nunca quis enfeites e purpurina.

“É fantástico participar dessa época da música,” acredita Hood. “Sinto que as linhas entre os gêneros estão borradas. Definitivamente, você vê as letras meio loucas virando essa new wave industrial - o mainstream é problemático, agora. O que é ótimo para banda, porque isso é o nosso natural.”

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Mesmo assim, tentam não fugir do que gostam - e não ligam de ser ora pop, ora rock, ora ambos. Calum explica como não discutem, realmente, que estilo querem ter - apenas acontece. Mas entendem que não há espaço para o que já existe: “No espaço pop que estamos agora, precisamos ser espertos sobre como usamos ou como manipulamos o som, ainda mais porque somos pessoas familiarizadas com a guitarra.”

Tudo isso - as letras maduras, a progressão musical - foi uma parceria acidental, mas analisada, entre os integrantes do 5 Seconds of Summer e as pessoas que os ouvem há anos. “Nossos fãs são muito apaixonados. Pudemos ver todos eles crescendo, junto com a gente, nos últimos 10 anos, já. É incrível ver como músicas diferentes gravitam em direção a cada fase. Especialmente as letras. Somos, essencialmente, os mesmos, mas estamos em ambientes diferentes, experimentando coisas novas… Humanos estão todos na mesma linha do tempo.”

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Veja, abaixo, a entrevista completa com Calum Hood, baixista do 5 Seconds of Summer:

Rolling Stone: Oi, Calum! E aí, está em quarentena?

Calum Hood: Sim, estamos aqui na nossa casa em Los Angeles. Já faz… Tanto tempo, agora, fazendo nada... Perdi a noção dos dias! 

RS:Vamos começar a conversa com uma viagem no tempo? Vi vocês ao vivo pela primeira vez em 2017, vieram ao Brasil tocar no Rock in Rio. O que você lembra daqui?

CH: Foi provavelmente um dos nossos shows mais loucos. Um dos mais prestigiados festivais de rock do mundo, então foi uma honra enorme tocar, principalmente porque tínhamos uns 20 anos, por aí. Então, basicamente, não tinha preparação até aquele ponto. Foi muito caótico. Assim que entramos no palco, não lembro de mais nada. Foi um apagão durante uma hora e meia. Saímos do palco, e lembro de abraçar todo mundo da banda. Todas as memórias que tenho daquele dia são de vídeos do YouTube, foi um momento louco para gente. 

RS: Naquela época, sua música era pop, pop rock. Agora, vocês lançaram Calm, tem músicas e letras bem sombrias, a música, também… E quero saber o que mudou na vida pessoal de vocês, o que mudou que vocês tão mais.. Amargos, agora?

CH: [Risos] Gostei da pergunta, você é engraçada [risos]. Acho que, quando você envelhece, você fica mais engajado em quem você é como pessoa. Acredito que é uma viagem, momentos sombrios no disco. Mas existe um equilíbrio com momentos mais leves. Mostra uma perspectiva mais ampla sobre a vida. Você consegue medir o que é bom e ruim. O que mais mudou foi nossa consciência de onde queremos estar como pessoas e artistas, e nos dirigir ao respeito dos nossos fãs, o que eles querem ouvir, e o que queremos tocar em 10, 20 anos. 


RS: Musicalmente, também. Vocês estavam cada vez mais pop. Agora, trouxeram de volta as guitarras, e tudo isso… Como foi essa transição, de voltar ao punk rock?

CH: Todo os nossos álbuns foram uma progressão natural. Não existe realmete uma discussão de quanta guitarra, samples e tudo isso queremos. É mais uma seleção natural. É a progressão da banda. Mas acredito que, assim, cresci ouvindo punk e rock, a maioria da música que ouço toca isso. Então, é vital, especialmente se você quiser ter uma vida realmente de banda de rock, ter guitarras na música. Mas, principalmente no espaço pop que estamos agora, precisamos ser espertos sobre como usamos ou como manipulamos o som, ainda mais porque somos pessoas familiarizadas com a guitarra. 

RS: Mas a música pop no geral está mais sombria e madura, né? Os dois maiores hit do Grammy foram Lizzo e Billie Eilish, e elas vão para esse lado; não são a imagem típica do pop. E como você vê essa mudança na música mainstream?

CH: É fantástico participar dessa época da música. Sinto que as linhas entre os gêneros estão borradas. Definitivamente, você vê as letras meio loucas virando essa new wave industrial - o mainstream é problemático, agora. O que é ótimo para banda, porque isso é o nosso natural. Fico feliz com essa mudança da música mainstream.

Quando falamos de acessibilidade, está mais amplo do que nunca. Artistas que nao necessariamente teriam atenção há 10 anos, agora têm a chance de se expresszxarem de maneira individual. Isso cria um ambiente melhor para todos os amantes de música, é um momento animador para estar aqui.

RS: Você tem uma música preferita em Calm? 

CH: Tenho! Vou escolher “Wildflowers,” foi o último single que lançamos antes do disco. Porque é um ponto diferente no álbum, e uma música tão boa. E acho que nossas fãs tão bem empolgadas com ela, então escolho esta.


RS: A minha favorita foi “Teeth”, acho. Tom Morello toca nela, né? Como foi trabalhar com ele?

CH: Olha, foi ideia do nosso produtor, Andrew Watt. Ele tem esses ótimos relacionamentos, com todos esses músicos incríveis, como Tom. Ele pediu pro Tom tocar com a gente, ele topou. Realmente aumentou todo o sentimento da música, e precisava muito dessa pureza de Tom Morello. E é uma sensação ótima poder dizer "Tom Morello tocou em uma das nossas músicas". O mesmo aconteceu com The Edge, do U2, ele participou de “Best Years”, foi tão incrível quanto.

RS: Tem mais alguém com quem vocês querem tocar?

CH: Tem muita gente… Provavelmente, algum artista australiano, como nós. Mais do que nunca antes, tem muita gente boa ganhando destaque aqui. Anitta, também; seria ótimo colaborar com ela. Nunca fizemos nada com alguém da América do Sul. Mas, ei, as possibilidades são infinitas!

RS: Vocês lançaram um disco em um momento paralisado. Ninguém pode sair de casa, ir para um show… Como foi isso? Vocês já tinham data marcada, por isso lançaram agora? 

CH: Era a data original. Remarcar tudo seria a coisa errada para fazer. Em tempos como esse, as pessoas precisam de música mais do que nunca. É bem simples; você precisa, também, entender como é sortudo por estar nessa situação, poder se afastar e ficar em casa durante um tempo, e poder não ficar tão preocupado com isso como aquelas pessoas que não podem fazer isso. Então, era o mínimo que podíamos fazer.

RS: Como foi a reação dos fãs ao seu novo disco?

CH: A resposta foi incrível! Nossas fãs são muito apaixonadas. Pudemos ver todos eles crescendo, junto com a gente, nos últimos 10 anos, já. É incrível ver como músicas diferentes gravitam em direção a cada fase. Especialmente as letras. Somos, essencialmente, os mesmos, mas estamos em ambientes diferentes, experimentando coisas novas… Humanos estão todos na mesma linha do tempo. E foi incrível ver a recepção.

RS: É, sinto que seu disco conversa muito com sua geração. Letras animadoras, sombrias… Era essa a intenção, um reflexo de gente com 20 e poucos anos? 

CH: Acho que, principalmente nas letras, está ficando muito importante para a nossa banda passar uma mensagem, sabe? Sempre foi muito importante, também, escapar ouvindo música. Queremos mostrar um bom exemplo e criar um ambiente seguro para quem sente tudo isso. É simples, pra gente. Escrevemos sobre o que sentimos e tentamos articular de maneira que seja recebida por quem ouve da maneira mais gostosa possível.

RS: Outra retrospectiva, então, para fechar a entrevista! A capa que vocês fizeram pelados para a Rolling Stone em 2015. Vocês tinham essa vida meio doida de adolescentes, mas, agora são adultos. Wueria saber o que mais mudou no estilo de vida de vocês desde aquela época.

CH: Hm… O que mais mudou em mim? [Silêncio]. Difícil, essa… Mas acredito estar mais pé no chão, agora. Vejo um panorama maior do que eu. Foi uma época caótica para a banda, aquela, sermos tão novos e estar vivendo daquela maneira. Mas tudo isso me levou para um nível mais calmo - ah, fiz uma piada! - e espaço mais limpo. Em termos de criação, isso é mais saudável e equilibrado. Tem mil respostas diferentes para essa pergunta, mas essa é a ideia geral.

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