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Músico, produtor e ator, Steven Van Zandt, que toca com Bruce Springsteen, comenta a nova era da TV

Artista é roteirista, produtor executivo, supervisor musical e ainda atua na série Lilyhammer, produção original da Netflix

Stella Rodrigues Publicado em 23/12/2013, às 13h25

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Lilyhammer - Divulgação
Lilyhammer - Divulgação

“Tem sido uma aventura”, define Steven Van Zandt, o talentoso músico da E Street Band, banda de Bruce Springsteen, sobre todo o processo de atuar, roteirizar, produzir e supervisionar a parte musical da série Lilyhammer, produção original da Netflix feita em parceria entre Estados Unidos e Noruega. “Estávamos trabalhando em um país estrangeiro. Alguns amigos fizeram isso com filmes, mas não conheço ninguém que tenha feito isso com TV”, conta ele. “Estava curioso com as diferenças culturais e eram muitas. Como ator, passei por várias coisas que o [personagem] Frank enfrentou. Foi uma oportunidade única de misturar as culturas, os noruegueses queriam muito saber como são feitas as séries norte-americanas.”

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A segunda temporada da série, com oito episódios, já está no ar. Ela estreou para os usuários da Netflix em dezembro, mas foi exibida no canal estatal norueguês NRK a partir de outubro, no sistema tradicional de transmissão. Van Zandt vive o mafioso nova-iorquino Frank Tagliano, que delata o antigo chefe e é mandado para a Noruega como parte do serviço de proteção à testemunha. Acaba se estabelecendo, ao longo da primeira temporada, na pequena e gélida Lillehammer, onde, na segunda temporada, já arrumou namorada, filhos e diversos problemas, alguns semelhantes aos que tinha no passado.

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Uma das principais diferenças entre os Estados Unidos e a Noruega no modo de se fazer TV é que os noruegueses não entendem o conceito de temporada como os norte-americanos. “Tradicionalmente, as séries na Noruega não voltam. Acho que foram seis em toda a história que retornaram. E, quando isso acontece, são exibidas ano sim, ano não”, explica Van Zandt. “Conversei com eles desde muito cedo sobre como no resto do mundo funcionava de outro jeito. Desde o começo já queria vender a série para os Estados Unidos, e eu achava que conseguiríamos, mesmo que os noruegueses nunca tivessem vendido uma série para fora antes. Tivemos uma reunião e eu vi que seria muito complicado tentar mudar o esquema deles. Nesse meio tempo, Bruce [Springsteen] me ligou querendo saber se eu estava ocupado e eu realmente não sabia dizer. Acabou dando certo, fiz a turnê no ano seguinte e eles conseguiram fazer as coisas do jeito deles. E a Netflix foi muito legal e entendeu – graças a Deus são fãs do Bruce [risos]”.

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“Agora eles estão se acostumando com a ideia de fazer as coisas todo ano”, continua. “Estamos falando de fazer uma terceira temporada e deve sair ano que vem. Foi estranho, mas acabou funcionando a meu favor. Com 130 países exibindo a série, eles precisam fazer as coisas como no resto do mundo [risos].” Resolvida essa porção mais cabeluda da adaptação cultural, ainda fica a questão de se acostumar ao frio que impera na Noruega: “Uma das primeiras coisas que fiz quando virei roteirista foi fazer com que ele abrisse uma casa noturna, assim a gente poderia passar mais tempo do lado de dentro”, ri.

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Para a segunda temporada, as coisas ficaram mais fáceis em outros aspectos também. Além de achar um ponto em comum com os noruegueses, a produção agora conta com a vantagem de que não precisa mais abrir caminho. A série fez um moderado sucesso (tendo tido mais destaque nos países nórdicos) e não tem mais a desvantagem de ser vista (com alguma desconfiança, talvez) como a primeira produção original Netflix. Esse matagal já foi desbravado com louvor e abriu um caminho razoavelmente largo para brilharem, por exemplo, House of Cards e Orange Is the New Black, ambos sucessos globais. Isso resultou em vantagens como mais dinheiro para a produção. “Quando isso acontece, você tem que tomar cuidado para que todos os departamentos cresçam igualmente. Não pode parecer óbvio que as locações são melhores ou o guarda-roupa é todo novo e a iluminação é muito diferente. Você quer que as pessoas percebam que está melhor, mas que não saibam exatamente o quê. Melhore todos os departamentos igualmente”, ensina Van Zandt. “Ficamos preocupados porque a primeira temporada foi tão popular, nos surpreendeu. Queríamos pelo menos igualar isso e acho que fizemos melhor.”

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Nova era na TV

Durante a conferência em que Steven Van Zandt conversou com jornalistas do mundo todo, foi inevitável que esbarrássemos na questão da “nova era da TV”, ou “terceira era de ouro”, que é como tem sido chamada essa fase recente da televisão, que vem dando um olé no cinema. “Uma era tinha começado com Família Soprano e fiquei feliz de estar lá para isso”, diz ele, que interpretou Silvio Dante no drama da HBO sobre mafiosos – seu único outro trabalho como ator. “Estou feliz de agora fazer parte da continuação dessa era com a Netflix”, diz. “A Netflix não estava nem no jogo há dois anos e agora rivaliza com a HBO, foi incrível de assistir.”

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“Diz muito o fato de terem colocado uma série estrangeira assim, logo de cara, na TV norte-americana”, reflete. “E abriu caminho para os outros sucessos que eles tiveram em seguida. É a primeira serie internacional nos Estados Unidos que não é remake”, afirma.

“A única programação para adulto que temos hoje está na TV – e especificamente na TV a cabo. E quando digo adulto, não é só sexo, violência e palavrão, mas inteligência, complexidade, literatura, coisas que deixam uma série mais interessante. Os 20 filmes mencionados no Oscar todo ano são provavelmente os únicos 20 filmes adultos feitos naquele ano, a esta altura”, acredita.

A parte difícil

Além de ser estrela, um dos roteiristas e produtor executivo de Lilyhammer, Van Zandt, que já havia criado a música tema da série, ainda cuidou da trilha de toda a segunda temporada. Um desafio novo que apenas ele poderia ter encarado, conforme conta. “Filmei tudo e aí comecei a pensar na música. Eu supervisionei a primeira temporada e tinha feito a música tema, mas desta vez queria levar a série pra outro nível”, diz ele, que garante que compor foi apenas fácil e divertido, mas que lidar com licenciamento de músicas de outros artistas foi pura dor de cabeça. “Esta parte, acredite, deu muito mais trabalho do que escrever a trilha. Não deveria ser o caso, mas é. Todo o universo de licenciar música está passando por um processo de transição e são muitas discussões, é mais difícil do que deveria ser. Basicamente, a evolução da indústria de licença precisa ser examinada. É algo novo, que não existia há 20 anos. Era tudo promoção antigamente, TV, cinema, as gravadoras e artistas queriam que a música fosse promovida na série. De repente virou uma indústria e aí os contadores começaram a dominar tudo”, diz. “Por sorte, tenho muitos amigos artistas e em gravadoras, publicadoras. Deu meio certo, mas para mim também foi difícil”, conta ele, que tinha uma moeda de troca especial. “Metade do tempo, eu sou o único que toca algumas dessas músicas no meu programa de rádio, então tenho essa vantagem em relação aos outros, mas ainda assim é difícil.”

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