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Terno Rei, Duda Beat e Rodrigo Alarcon mostram que estão prontos serem grandes no Festival Bananada

Além de anunciar as datas da edição de 2020, festival cumpriu a função de elevar o patamar de artistas independentes dentro do circuito

Pedro Antunes, de Goiânia* Publicado em 20/08/2019, às 12h58

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Fotos: @arielmartini (Duda Beat) e  @mm.faria (Terno Rei e Rodrigo Alarcon)
Fotos: @arielmartini (Duda Beat) e @mm.faria (Terno Rei e Rodrigo Alarcon)

Os Los Hermanos não tinham contrato assinado com gravadora e eram, basicamente, moleques do Rio de Janeiro quando se apresentaram no  festival Abril Pró-Rock. Verdinhos que só, eles traziam com um punhado de canções de hardcore em português, letras que escorriam desamor, embaladas por uma vibe ska de festa. Lá, foram descobertos. Ali, naquele exato instante, a banda subiu um degrau em uma carreira eficiente como a maior banda da sua geração - e da seguinte, também, é bom dizer.

Festival de música tem essa função praticamente obrigatória de colocar bandas/artistas no radar. Ou mostrar qual é o impacto real de canções além da numeralha de views e streams.

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Florido de boas atrações, descobertas e shows de sucesso garantido (caso de Pitty, Metá Metá e Boogarins), o último dia da 21ª edição Festival Bananada, no domingo, 17, também mostrou como três artistas especificamente estão prontos para um novo salto.

Duas horas depois do início dos shows do festival (mais ou menos, se contar com um outro atraso), Rodrigo Alarcon tinha uma plateia numerosa diante de si, em um dos palcos de nome Tropical Transforma, enquanto, ao lado, a banda chilena The Holydrug Couple desovava uma psicodelia guitarrística.

Com o fim do som do palco de lá, Alarcon tomou a frente e, desde os primeiros acordes, aquela figura magra, esguia e de bigode volumoso e violão nos braços foi recebida de forma  efusiva.

"Ano passado eu estava em um showcase, agora estou aqui. Isso é muito importante para mim", celebrou Alarcon. O artista, com um EP chamado Parte, lançado em 2019, se mostra um fenômeno.

No palco, as músicas ganham uma versão mais crua, acústica, menos florida se comparada às gravadas em estúdio. Soam melhor, também, com mais vida, justamente por isso. Em 30 minutos, ele viu um público que sabia cantar todas as músicas, do começo ao fim, de forma intensa.

Uma espécie de Tiago Iorc indie - por conta da boa voz, pelo violão como instrumento guia e pelo público entregue -, Alarcon é sagaz na construção de canções de amor adoravelmente fora do óbvio, como em "Sinusite", na qual canta: "Eu não sei se é só sinusite, ou se são meus olhos reclamando não te ver".

Alarcon é artista pronto, com seguidores já fiéis e uma porção de outras músicas interessantes - ouça "Amor Acidente", "Capricórnio" e "Corte de Papel" - e mostrou, no Bananada, que tem potencial para crescer. E, quem sabe, voltar no ano seguinte, em um palco e horário melhores.

O mesmo se dá com Terno Rei, o quarteto paulistano que não ficou preso à estética formatada em Vigília e Essa Noite Bateu Como Um Sonho, discos de 2014 e 2016, respectivamente - além do ótimo EPzinho de 2012, chamado Metrópole. Estão prontos para algo maior. Muito dessa conquista está em Violeta.

Lançado pela Balaclava Records, Violeta é um espetacular álbum sobre solidão, ansiedade, saudade e erros do passado, coloridos com um filtro descolado dos Stories do Instagram - que, neste caso, são linhas de synth saborosas. "A simetria é tão sem graça", canta Alê Sater, voz de quase todas as músicas. 

A maturidade do quarteto chegou no palco, também. Soam tinindo, sem perder as viagens dos ecos propostos no estúdio agora também ao vivo. A chegada de Lucas Theodoro, da banda E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, para cuidar do som da banda nos shows também tem responsabilidade nisso. 

Ao tratar com gentileza doce os mais terríveis dos sentimentos - como nesse verso da música "Yoko": "Você está amando, estou juntando os cacos" -, o Terno Rei disparou para fora da bolha do indie. No Bananada, também tiveram o espaço diante de si lotado, público com as letras na boca e olhinhos fechados, para sentir as vibes sofridas de Sater e companhia.

Por falar em espaço lotado, precisamos tratar do fenômeno que se tornou Duda Beat. Com um disco, Sinto Muito, ela foi alçada ao posto de rainha da sofrência indie. No domingo, ela mostrou que deixou de ser indie faz tempo, na verdade. É sofrência pop. Sofrência pura. E linda.

Se Sinto Muito era um álbum de dançar doloridinho, vagaroso, no palco, ele ganha andamento, ritmo, e se transforma em uma celebração de corações partidos. As novas adições do cancioneiro de Duda, como "Chega" (com Mateus Carrilho e Jaloo), "Só Eu e Você na Pista" (com Illy) e "Chapadinha", também colorem o que era dor cinza com tons vibrantes.

Duda dominou o Bananada como se fosse uma velha conhecida headliner da noite (no caso, era Pitty). Não era, mas mostrou que já poderia ser. Show com nuances, entre euforia e calmaria, que funciona muito bem em palcos grandes, para públicos enormes.

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No último dia de festival, o Bananada trouxe mais do que o óbvio, o certeiro. Duda Beat, Terno Rei e Rodrigo Alarcon, definitivamente, estão próximos para um próximo passo, um voo maior ou qualquer que seja a metáfora que você preferir. Eles estão prontos para um momento de carreira maior do que tinham até aqui. É o que importa. 

Edição de 2020 anunciada

A organização do Bananada tomou o palco antes da apresentação do Metá Metá para também anunciar as datas da edição do festival em 2020, com a abertura da venda de ingressos. O Festival Bananada 2020 será realizado entre 17 a 23 de agosto. E o ingresso já à venda custa R$ 110.

A cobertura completa, com os destaques dos três dias de festival, está no nosso Instagram, confira.


*O repórter viajou a convite da organização do festival