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The Police: Londres, 2007

Explosivos e desentrosados, com músicas que ainda soam originais + Police no Maracanãzinho em 1982

Ramiro Zwetsch Publicado em 05/12/2007, às 19h35 - Atualizado em 06/12/2007, às 09h15

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O ingresso para ver o trio na Inglaterra - Reprodução
O ingresso para ver o trio na Inglaterra - Reprodução

Tudo sobre o Police em nossa edição 14; conheça o índice aqui

Os alto-falantes tocavam "Get Up, Stand Up" - em sua versão definitiva, com Bob Marley & The Wailers - quando todas as luzes da Wembley Arena se apagam por volta das 21h. Dois holofotes acendem de trás da bateria de Stewart Copeland e iluminam Andy Summers. O primeiro faz seu imenso gongo oriental soar e o segundo emenda o riff de guitarra inconfundível de "Message in a Bottle". Sting aparece com baixo pendurado, camiseta regata e mãos ao alto que marcam o ritmo da música - um clássico do pop dos anos 80 - e 11 mil pessoas acompanham o movimento. Pronto: The Police, a partir daí, não precisou fazer muito para manter quente o público londrino ao longo de aproximadamente 1h40min de show. Foi a última apresentação da primeira turnê européia desde a volta do trio, que agora prepara-se para tocar na América do Sul.

Mesmo desentrosada, a banda britânica se garante sem fazer muito esforço. Bastou repetir a receita que a consagrou na virada dos 70 para os 80 e jogar pra galera: das 20 faixas tocadas, 14 ou 15 foram cantadas a plenos pulmões pelo público - com urros mais altos para "Walking on the Moon", "Every Little Thing She Does Is Magic", "De Do Do Do, De Da Da Da" e "Don't Stand So Close to Me". Com um repertório que fala por si, o Police lavou a alma da platéia quarentona e não deixou ninguém reparar muito no estampado desconforto que existe entre os três músicos no palco. Eles mal se olham, quase não interagem. Sting é o mais esforçado em disfarçar: apresenta ambos os parceiros como "lendários" e arrisca uma ou outra aproximação. Mas a recíproca nunca é verdadeira e quando Andy Summers lhe dirige o olhar é sempre com cara de poucos amigos ou como de quem reprova quando o cantor não alcança uma nota - como de fato aconteceu em "Synchronicity II", a segunda música do show.

Apesar do desentrosamento, a química do trio continua explosiva. A mistura de elementos do punk rock com reggae à moda branca, melodias grudentas e certo tempero oriental em alguns arranjos ainda soa como uma das mais originais do rock dos anos 80 e se dá pelas mãos de músicos tecnicamente acima da média do new wave ou de qualquer movimento pop de sua geração.

Diante da encruzilhada que todas as grandes bandas encaram quando resolvem retomar as atividades depois de uma longa pausa, o Police escolheu o caminho mais fácil - e que provavelmente guiará também os reencontros de Led Zeppelin e Sex Pistols - de apenas visitar os clássicos em seus arranjos originais, sem a ousadia de experimentar alguma música nova ou arriscar um cover inesperado. A única referência a outro artista surge em "Holy in My Life", com citação ao refrão de "Hit Road, Jack", de Ray Charles.

Quando arrisca pequenos desvios da rota segura, a banda derrapa (sem perder o rumo, é bom dizer). A dobradinha "I Can't Stand Loosing You" e "Roxanne" - ambas do primeiríssimo disco do trio, Outlandos D'Amour, de 1978 - tinha tudo para encerrar triunfalmente a primeira parte do show, antes do bis. Mas é justo naquela altura do percurso, perto da linha de chegada, que a banda se permita fazer manobras arriscadas: subverte a estrutura das músicas, arrisca improvisos e deixa a impressão de que teria se saído melhor se pegasse o atalho da fidelidade às gravações originais.

Mas o bis vem para recolocar a banda no eixo. "King of Pain" é uma daquelas faixas que diferenciam o Police de qualquer outra dos anos 80 e abre a sessão final para atestar isso. Enquanto Stewart Copeland explora os timbres agudos dos pratos orientais e Andy Summers faz aquela guitarra meio reggae que identifica seu estilo, Sting canta uma melodia de rara sofisticação para os padrões do pop. A seqüência traz "So Lonely", a inevitável "Every Breathe You Take" e "Next to You" encerra a apresentação pra cima - rápida, direta, pesada. O Maracanã pode se preparar para um show em que tudo é tão divino e maravilhoso quanto fácil, extremamente fácil. É isso que os fãs querem, afinal.