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Uma conversa profunda com RM, do BTS, sobre os primeiros anos do grupo, Drake e mais [ENTREVISTA]

"Tive uma sensação de urgência e desespero em ir atrás dos meus sonhos", diz o líder do BTS, RM

BRIAN HIATT | ROLLING STONE EUA Publicado em 29/06/2021, às 07h00

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RM, do BTS, na capa digital da Rolling Stone EUA vestido de cinza e com a mão na boca (Foto: Hong Jang Hyun para a Rolling Stone)
RM, do BTS, na capa digital da Rolling Stone EUA vestido de cinza e com a mão na boca (Foto: Hong Jang Hyun para a Rolling Stone)

"Eu era uma pessoa que queria ir para uma grande faculdade. Uma universidade Ivy League para os padrões americanos", diz RM, líder do BTS. "Eu era o típico estudante que se esforçava para alcançar. E então eu confiei no Mr. Band [Fundador da HYBE] e comecei a trilhar um caminho diferente. Tive uma sensação de urgência e desespero em ir atrás dos meus sonhos." O talento de RM enquanto rapper, compositor e produtor foi essencial para o desenvolvimento do BTS, assim como os abrangentes interesses intelectuais. Em uma entrevista concedida na sede da gravadora, o artista, anteriormente conhecido como Rap Monster, refletiu se o BTS deve ser considerado k-pop, sobre a singularidade do hip-hop sul-coreano, os destaques da era Most Beautiful Moment in Life e mais.

[Em comemoração à capa mensal da Rolling Stone do BTS, capas individuais digitais com cada integrante da banda foram publicadas diariamente ao longo de uma semana no mês de maio]

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Você citou o grande artista abstrato Kim Whan-ki recentemente: "Sou coreano e não posso fazer nada que não seja coreano. Não posso fazer nada além disso, porque sou um estranho". Você disse ser uma ideia importante em que tem pensado ultimamente. Como essa ideia se aplica ao seu trabalho?

Muito do pop e do hip-hop que escutei, vem da América. Mas para mim, enquanto coreano, acredito termos nossas próprias características e algum tipo de identidade local. Não consigo explicar isso muito bem, mas existem algumas características que nós coreanos temos, ou talvez, nós pessoas orientais. Então, tentamos meio que combinar as duas coisas em uma, e sinto que criamos um novo gênero. Alguns podem chamá-lo de K-pop; alguns podem chamá-lo de BTS, ou alguns podem chamar de uma combinação musical oriental-ocidental, mas acho que é isso que estamos fazendo. Se você pensar na Silk Road no passado, há essa ideia de povos orientais e ocidentais se encontrando em algum tipo de grande estrada, vendendo e comprando coisas. Penso que a história se repete, e algum tipo de fenômeno novo e interessante está acontecendo. Sentimo-nos muito honrados por estarmos bem no centro deste grande furacão.

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Há ótimos hip-hop coreanos, incluindo seus primeiros heróis, Epik High, que ainda estão ativos. O que você ouviu nisso no início, e o que você ouve agora?

Sempre há um processo de quando algo novo entra em uma outra cultura, onde a identidade se transforma, muda e se adapta a este novo lugar. Obviamente, há diferenças entre a Coreia e os Estados Unidos, que influencia a música. Por exemplo, a Coreia não é um país multiétnico como os Estados Unidos. Desse modo, existem diferentes sensibilidades subjacentes à música. Rappers coreanos certamente têm o próprio e diferente lirismo, as próprias situações e dificuldades que se encaixam neste processo. Enquanto coreano, é claro, essas são as coisas que ressoam em mim.

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Obviamente, há um ditado que diz que não há nada novo sob o sol. Portanto, especialmente para pessoas como nós, que estão nas margens do mundo, por assim dizer, precisamos pensar em como podemos transformar e torná-lo nosso. Essas são as coisas em que penso quando tento equilibrar a inspiração entre rappers coreanos e americanos. E, acredito que, atualmente, há uma convergência de todos os gêneros musicais.

Foto: Hong Jang Hyun para a Rolling Stone

Quando o BTS começou, existia um conflito na mente das pessoas e na sua própria ideia sobre ser um rapper ou um idol - o que chamamos de pop star. Obviamente, isso é algo abordado na sua música. Talvez você possa explicar um pouco sobre esse conflito e por que ele parecia tão importante na época?

Quando eu era jovem, queria ser escritor de prosa e poesia, e então descobri o rap. E, muito do que eu queria fazer foi para a música. E, sim, havia essa ideia de ser um artista puro ou um rapper puro. No começo, então, é verdade que quando estávamos estreando como um grupo pop, houve momentos em que eu tive que reorganizar minha identidade e refletir sobre o que é minha identidade. E, no início, não vimos resultados positivos. Não tínhamos muitos fãs. Não tivemos bons resultados. Houve alguns momentos em que fomos ridicularizados.

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De fato, é verdade que demorou algum tempo para essa identidade se desenvolver e se firmar. Mas, você sabe, seja rap, música pop, ou seja o que for, é outro método para eu mostrar minha mente e expressar minha voz, e fazer isso ressoar com as pessoas. Portanto, muito desse conflito se resolveu. E, acredito que hoje em dia, as coisas estão muito diferentes do que eram em 2013, porque embora ainda haja muita discussão sobre o que é puro, o que é autêntico, o que é sincero, o que é ser um artista, o que é um músico pop, essas limitações são menores e menos significativas. Enquanto eu puder mostrar o que escrevo, é válido como a continuação do meu sonho e do que sempre quis fazer. 

Parece que o BTS realmente se encontrou na era de Most Beautiful Moment of Life. É aí que tudo se juntou. Como você olha para aquela época?

Ao contrário do nome, a era de Most Beautiful Moment in Life, foi, na verdade, um momento muito conturbado para mim e para nós. Havia a imagem difícil que tínhamos criado naqueles momentos iniciais em 2 Cool 4 Skool, e aquela espécie de expressão exagerada, de resistência e de uma certa angústia. Então, diminuímos um pouco o ritmo e tentamos expressar emoções dos jovens que não tinham nada além de sonhos. Era um tipo de expressão mais sincera, e testemunhamos como isso estava ressoando em muitas pessoas.

Houve uma certa confusão, porque isso era um novo começo e nós estávamos mostrando nosso lado mais vulnerável, mais delicado, o que era muito diferente. Mas nós percebemos que isso era significativo, e conforme avançávamos para a série de Love Yourself, começamos a descobrir mais sobre isso enquanto continuávamos [avançando]. 

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Sei que muitos fãs não enxergam o BTS como k-pop. E você, vocês mesmos disseram que "BTS é um gênero". Como você enxerga isso?

Este é um importante debate. Porque o que chamam de K-pop [esse gênero] está se expandindo muito rápido. Por exemplo, alguns dos chamados grupos de K-pop têm apenas estrangeiros, da Europa, Índia, China, etc., de todos os lugares. Não há integrantes coreanos, mas todos fazem a coisa do K-pop, e assim por diante. O BTS também está expandindo muito rápido. E, atualmente, o K-pop é muito amplo. Alguém poderia dizer que o K-pop é para coreanos que cantam música coreana. Isso poderia ser K-pop. Mas, e quanto a "Dynamite"? Cantamos toda a música em inglês. Mas somos todos coreanos, então alguém poderia dizer ser uma música de K-pop. Ou eles poderiam dizer ser apenas uma música pop, porque é em inglês. Mas, nós realmente não nos importamos se as pessoas enxergam a gente dentro ou fora do K-pop. O fato importante é que somos todos coreanos e estamos cantando música pop. Então, esta é a razão de dizermos que nosso gênero é apenas o BTS. Este debate é muito importante para a indústria da música, mas não muito significativa para nós, integrantes.

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Qual música realmente mudou a sua concepção sobre o que é artisticamente possível?

Comecei com Nas, Eminem, a era de ouro do hip-hop. E a virada foi Drake, em 2009, quando ele lançou Thank You Later. Aquele disco foi meio chocante para mim, porque era meio estranho um rapper realmente poder cantar. Depois disso, muitos rappers começaram a cantar, decidindo colocar as melodias nas próprias canções em todos os gêneros, entre rap e melodia. Então, sim, esse foi o momento.

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Quando você canta que "sua sombra... é chamada hesitação", o que você quer dizer com isso?

Pode ser chamado de hesitação ou cautela, mas, creio eu, existe uma forma de hesitação que o impede de correr riscos e desafiar a si mesmo.

Sei que você motiva os integrantes ao dizer que seus netos poderão assistir a performance de vocês no Grammy algum dia. Isso é algo que você pensa sobre com frequência?

Isso me dá muitos arrepios às vezes, porque cada momento que vivemos deixa vestígios online, onde todos podem acessar. Então, sim, penso que isso nos ajuda a nos manter motivados.

Alguns atores de cinema costumam dizer: "A dor é temporária. O filme é para sempre".

[Concorda com a cabeça] A vida é curta. A arte é para sempre. 


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