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Vaca Amarela 2015: priorizando músicas novas, Tulipa Ruiz canta no meio do público no segundo dia de evento

Último sábado, 5, ainda teve as batidas de Indee Styla e Lei Di Dai e o hard rock de Muddy Brothers e Overfuzz em Goiânia

Lucas Brêda, de Goiânia Publicado em 06/09/2015, às 18h14 - Atualizado em 09/09/2015, às 19h01

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Tulipa Ruiz no segundo dia de Vaca Amarela 2015 - Cláudio Cologni/Divulgação
Tulipa Ruiz no segundo dia de Vaca Amarela 2015 - Cláudio Cologni/Divulgação

Mesmo sem se render às mais antigas – e conhecidas – canções da carreira, Tulipa Ruiz foi parar no meio do público do Vaca Amarela 2015, ao tocar no encerramento do segundo dia de festival. Contudo, se na sexta-feira, 4, Emicida foi absoluto como atração mais celebrada do dia, Tulipa rivalizou as atenções com as batidas de Indee Styla e Lei di Dai e o hard rock de Overfuzz e Muddy Brothers.

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No primeiro dos três dias de Vaca Amarela 2015, a escalação deixou bem claro o compromisso do evento com artistas contemporâneos, dos intermediários ao headliner. No sábado, 5, a atualidade não foi regra, e duas vertentes foram contempladas: as batidas (rap, raggamuffin, funk) e o hard rock. A diversidade das atrações provocou uma rotatividade grande do público, que andou bastante entre os espaços do Centro Cultural Oscar Niemeyer, fazendo com que os shows não ficassem exatamente lotados – apesar de muita gente estar presente na casa.

Pratas da casa

Assim como no primeiro dia, os primeiros horários do Vaca Amarela foram reservados às pratas da casa: artistas menores da cidade. Normalmente, as apresentações iniciais atraem um público quase irrisório, mas são amostra juta – com som de qualidade – do que anda acontecendo na capital goiana.

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Entre o rap do Gasper e o rock previsível do power trio Beavers, se destacaram Dry e Peixefante. A primeira banda, um quarteto, mostrou um hard rock azeitado, que flerta com gritos e passagens de heavy metal, com vocais em inglês e muita segurança. Já o Peixefante (foto abaixo) tem potencial para levar a nova psicodelia goiana além das guitarras do Boogarins, trabalhando com quatro teclados e vocais simultâneos recheados de candura.

Balanço da rua

Boa parte da escalação do sábado de Vaca Amarela 2015 foi dedicada à sonoridade identificada com a rua, baseada nos beats eletrônicos. A primeira representante do estilo foi a paulistana Lei Di Dai (foto), conhecida como a rainha do dancehall brasileiro. Acompanhada por um DJ e mais dez dançarinos e dançarinas locais, ela foi a primeira da noite a fazer o público balançar. Com um som derivado do reggae e hip-hop, ela fez citação a Tim Maia, cantou sobre os política e drogas, e desfilou mais de dez faixas na meia hora que teve de show.

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Às 22h, outra representante das batidas a promover o caos – e colocar para dançar uma quantidade expressiva de gente – foi a funkeira Deize Tigrona. Sem papas na língua, ela cita diversos sinônimos de órgãos e práticas e sexuais, à base da batida já tradicional do gênero carioca. É difícil imaginar como o público de bandas como o Overfuzz ou da própria Tulipa Ruiz conseguiu se relacionar com o som da carioca. Mesmo assim, o carisma do funk marcou uma das apresentações mais celebradas do segundo dia de Vaca Amarela.

De Barcelona, a rapper Indee Styla foi outra a trazer a rua para os palcos do festival goiano. Com muita simpatia, ela falou em português, conversou com a plateia e mostrou as rimas em espanhol. “Esta é minha forma de vida”, cantou ela em “Punto De Luz”, ressaltando a importância da música como “linguagem universal”. A empatia dela com o público foi instantânea: “Estou me expressando como posso”, disse, “desculpando-se” pelo português insipiente, para conquistar de vez os goianos.

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A exemplo de Lei Di Dai e Deize Tigrona, a espanhola foi acompanhada pelas batidas eletrônicas e passagens de DJs. A falta de uma banda – ou de mais DJs – no palco certamente diminui a diversidade das apresentações. Como os shows possuíram apenas meia hora, a falta de variação sonora não chegou a tornar as performances monótonas. Indee ainda mostrou diversos passos de dança, com muita técnica, mas dando a sensação de espontaneidade nos movimentos – e até voltou ao palco para um bis.

Direto

O outro “lado” conceitual do segundo dia de Vaca Amarela 2015 foi o do rock and roll direto e pesado. Depois do Dry, o trio capixaba Muddy Brothers tocou no palco principal do festival. Apesar de não possuir baixo, a formação não deixa a peteca cair: com uma guitarra de sonoridade alta e bem preenchida, a falta do instrumento não é problema nenhum.

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Eles apresentaram o repertório do primeiro álbum, Handmade (2013) e do EP Seasick (2014), mostrando um rock com referências setentistas – os riffs não escondem a influência de Black Sabbath, e os vocais remetem ao Led Zeppelin –, que não se preocupa em soar atual, mas cumpre o papel a que se propõe.

Algumas horas depois, representando Goiânia, o jovem grupo Overfuzz (foto abaixo) teve a responsabilidade de ter um dos três maiores shows do dia, tocando no palco principal para um plateia passiva mas numerosa. O power trio – desta vez com baixo, guitarra/voz e bateria – aproveitou a oportunidade com uma apresentação firme, pesada, que foi cartão de visita do grupo a um público novo e consolidou a admiração de quem já conhecia o som.

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Entre solos de guitarra e ritmos mais acelerados, eles adiantaram o primeiro álbum (Bastard Sons of Rock 'n' Roll), ainda inédito tocando uma nova música, um desabafo – como todas as outras, em inglês – de coração partido com base em um riff descendente de Tony Iommi, dando início a um encerramento épico. Houve uma troca de goles de Jägermeister entre banda e plateia e um final cheio de exibicionismo, sujeira e o baterista ficando sozinho no palco para estraçalhar o instrumento e colocar ponto final na apresentação.

Efêmera

Tulipa Ruiz está imersa em seu novo disco, Dancê. Ao tocar no encerramento do segundo dia de Vaca Amarela 2015, ela priorizou as canções do álbum, lançado este ano, dando pouco espaço para as mais antigas – pedidas aos gritos pela plateia – e conhecidas do repertório.

Saiba mais sobre Dancê.

Após a 1h30 da madrugada, “Prumo” deu início à festa de balanço e ritmo. Ela emendou o single “Proporcional”, cativante canção que mostra a habilidade de Tulipa de falar sobre coisas simples de maneira particular e criativa – aspecto só confirmado com a faixa tocada na sequência, “Elixir”. Na quarta música do setlist, ela visitou “Like This”, de Tudo Tanto (2012), e logo voltou ao Dancê, com “Jogo do Contente”.

“Meu pai é goiano”, revelou ela, dizendo que todo show em Goiânia é, de certa forma, especial por esta razão. O pai de Tulipa, Luiz Chagas, aliás, é guitarrista de banda que acompanha a cantora, e uma atração à parte, comandando de maneira quieta e minuciosa o instrumento durante todo o show. “Meu pai me pôs aqui, e ela me trouxe de volta”, acrescentou.

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Em “Só Sei Dançar Com Você”, Tulipa fez a tradicional performance enrolada no microfone, para delírio dos fãs mais próximos ao palco. A cantora também promoveu a apresentação sempre intensa de “Víbora”, andando devagarinho no escuro até a frente do palco, coberta por um pano rosa com pequenos furos e muita habilidade vocal. Depois, ela mostrou outras duas do novo disco, “Virou” e “Reclame”.

Com a banda encorpada por um duo – divertido nas dancinhas – de metais, o show de Tulipa Ruiz ganha ainda mais e sofisticação e particularidade. Mas apesar de ter uma das vozes mais marcantes e originais da música brasileira – e um novo e elogiado disco de inéditas –, a paulista não conseguiu encher o palco principal do Vaca Amarela como Emicida havia feito no dia anterior (o público total do sábado foi de 2,5 mil, contra aproximadamente 4 mil da sexta).

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Conforme o show foi chegando ao fim, a plateia foi rareando ainda mais, e Tulipa chegou a agradecer quem estava conhecendo o som dela “pela primeira vez” – caso de boa parte dos presentes no Centro Cultural Oscar Niemeyer no sábado. Aconteceram gritos histéricos da turma do gargalo em pedido pelas faixas “Do Amor” e “Efêmera”. A estrela do show ignorou as solicitações, mas deu início a uma performance arrebatadora de outra canção mais antiga, “É”.

Tulipa desceu pelo palco e foi parar no meio do público, por onde andou para lá e para cá sendo, por vezes, seguida por fãs. Ela saiu colocando o microfone nas bocas de quase todo mundo que encontrava pela frente. Ousadia tamanha o Vaca Amarela 2015 ainda não havia presenciado e, assim, a performance tão próxima da plateia supriu a demanda pelos hits, gerando um fim apoteótico, com o refrão de “É” sendo reproduzido, a vozes e estalos, por banda e público, simultaneamente.

Ouça “Proporcional”.

Os pedidos de “mais um” foram inevitáveis, e o bis aconteceu. Contudo, em vez das tão esperadas “Do Amor” ou “Efêmera”, Tulipa repetiu a performance de “Proporcional” (de Dancê, tocada por ela no começo da mesma apresentação), causando até estranheza na plateia, que passou a se dissipar de vez.

A corajosa decisão de priorizar o mais recente trabalho mostra a força da cantora paulista, que se dá ao luxo de não ceder às inquietações dos fãs no palco. Quando chegou ao fim o segundo dia de Vaca Amarela 2015, entretanto, poucos ainda davam as caras no Oscar Niemeyer, o que se deve não apenas à Tulipa, mas também à escalação diária extremamente diversa, que reuniu muita gente no local e não significou plateias abarrotadas.

O Vaca Amarela 2015 segue neste domingo, 6, veja a programação completa abaixo:

Domingo – 6 de setembro

01h Cone Crew (RJ)

00h15 Rollin Chamas

23h15 Fresno (RS)

22h30 Aurora Rules

22h Faroeste

21h30 Novonada (ITA/UK)

21h Cherry Devil

20h30 Maguerbes (SP)

20h Dogman

19h30 Dona Cislene (DF)

19h Red Light House

18h30 Sã Consciencia

18h OFF 1984

17h30 Feed My Kraken

17h Coerencia

16h30 Almost Down

Abertura dos portões 16h

O jornalista viajou a convite da produção