Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

A volta de Beavis & Butt-Head e a possibilidade de um fracasso histórico

Será que o humor ofensivo ainda tem espaço, em meio a tantas lutas constantes contra todo e qualquer tipo de preconceito?

Igor Brunaldi Publicado em 27/07/2020, às 07h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Beavis & Butt-Head (foto: reprodução/ MTV)
Beavis & Butt-Head (foto: reprodução/ MTV)

Criado pelo animador, ilustrador, artista, músico, roteirista e ex-físico Mike Judge, o desenho animado Beavis & Butt-Head com certeza deixou uma marca permanente na história da indústria das animações dos anos 1990 e começo da década de 2010. 

Seja por ter basicamente originado o formato de vídeo de reacts (tão popular nos dias de hoje) ou pelo abuso do humor politicamente incorreto (tão inaceitável nos dias de hoje), não há como ignorar o impacto que esses dois jovens roqueiros tiveram na cultura pop ao longo dos quase 20 anos em que foram exibidos pela MTV.

+++LEIA MAIS: 4 motivos para querer a volta de Beavis e Butt-Head em 2020: Clipes, cinema e sarcasmo [LISTA]

Agora, nove anos após a transmissão do último episódio, o Comedy Central (canal que abriga desenhos como South Park e Ugly Americans) anunciou o retorno de Beavis and Butt-Head para pelo menos mais duas temporadas.

Ao mesmo tempo que essa volta pode ser incrível, pode ser também que ela resulte em um enorme desastre, devido a todas as complicações que envolvem trazer de volta à tona uma obra muito amada em outros tempos e por outra geração.

E de certa forma, se analisarmos essa situação da forma mais crítica possível, a ressurreição do desenho tem muito mais a perder do que ganhar. E não é muito difícil entender por que.

+++LEIA MAIS: 4 Motivos para a volta de Beavis e Butt-Head não ter sentido em 2020

Por um lado, digamos que o criador, que vai participar como roteirista e produtor dos novos episódios (além de obviamente voltar a emprestar a voz para os protagonistas), decida manter o humor polêmico que consagrou a animação. Esse rumo com certeza vai chamar a atenção dos autointitulados "fãs raiz", e eles, por sua vez, vão elogiar e enaltecer Mike Judge por ter se mantido fiel aos princípios que os levaram a amar o desenho lá atrás, em 1993.

Ao mesmo tempo, permanecer nesse caminho controverso significa lançar em pleno 2020 novos episódios de um desenho carregado de piadas machistas, homofóbicas e até xenofóbicas. Como qualquer um que se informa um mínimo sobre o mundo atual sabe, esses não são mais tópicos aceitos na esfera do humor. Pelo menos não da forma escrachada que Beavis & Butt-Head fazia.

+++LEIA MAIS: Clássico dos anos 1990, Beavis e Butt-Head terá mais duas temporadas

Em outras palavras, ignorar (ou até muito pior, tirar sarro de) todo o avanço que a sociedade teve ao longo dos anos nessas esferas sociopolíticas, e todas as lutas fervorosas e diárias para combater todo e qualquer tipo de preconceito, pode até cativar o "fã raiz", mas com certeza vai repudiar o grupo denominado "fãs nutella". E isso nos leva ao outro lado da situação.

Se por acaso a equipe do Comedy Central decidir de fato levar em consideração as mudanças que aconteceram desde a época em que o desenho estreou (e isso significa abolir o humor ofensivo, além de remodelar toda a mentalidade dos protagonistas), então Judge e companhia serão massacrados por comentários dos "fãs raiz" acusando-os de se renderem à "geração mimimi".

Esse é, inclusive, o momento perfeito para que o desenho reflita, através de um amadurecimento dos personagens, o passar do tempo e o caráter atual do mundo, assim como usar dessa popularidade que tem para deixar claro que a comédia não precisa se apoiar em estereótipos e no preconceito.

E isso não é tarefa fácil para uma animação que utilizou tanto dessa técnica ao longo de oito temporadas.

+++LEIA MAIS: Criador de Beavis e Butt-Head já sabe como trazer os personagens para os dias atuais com novo filme

Ainda assim, mesmo se conseguirem executar essa transformação da melhor forma possível (como por exemplo os dois amigos reagindo e refletindo sobre as babaquices da juventude), o desenho não estará totalmente a salvo de não reverberar com uma nova audiência, o que seria a catástrofe final, já que a repaginação do humor certamente significaria a perda de grande parte daqueles que amavam o programa.

Então fica evidente que a reconstrução quase completa se mostra essencial para que Beavis & Butt-Head seja bem recebido nesse início da década de 2020. Cada uma das decisões tomadas pela equipe criativa tem peso primordial para o sucesso dos novos episódios. Ou para o fracasso.

No fim das contas sobra apenas uma questão: será que não era melhor ter deixado os dois metaleiros lá no passado?


+++ FREJAT: O DESAFIO É FAZER AS PESSOAS SABEREM QUE O DISCO EXISTE