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"Tem de surgir um movimento para o rock voltar", diz vocalista do Black Keys

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Dan Auerbach falou sobre a turnê com o Arctic Monkeys, pirataria na internet e a vontade de tocar por aqui

Bruno Raphael Publicado em 06/02/2012, às 18h00 - Atualizado em 14/03/2012, às 23h48

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Dan Auerbach - The Black Keys - AP
Dan Auerbach - The Black Keys - AP

Antes de 2010, ouvir falar do Black Keys era uma sorte de poucas pessoas. Apesar dos nove anos de carreira e dos cinco discos lançados até aquele momento, a banda nunca havia sido uma unanimidade nem mesmo para seus integrantes, o guitarrista e vocalista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney, que jamais se assumiram como ótimos instrumentistas. Brothers, álbum lançado naquele ano, foi o responsável por catapultar a banda a novos territórios e rendeu à dupla seu primeiro Grammy, por melhor disco de rock. Desde então, a história do Black Keys, que demorou dez anos para estourar, tem sido reproduzida a esmo.

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"Nós sabemos que somos uma exceção à regra", reflete Auerbach, em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Isso não acontece para muitas pessoas e nós nunca tivemos de nos adaptar, sempre fizemos da nossa maneira. Se tem algo que as pessoas devem se dar conta, é que fomos uma banda por oito, nove anos antes de darmos esse passo gigantesco. Teve muito trabalho duro por trás disso."

Um ano depois de Brothers, um trabalho que transitava entre o blues e o soul mais sofisticado, o Black Keys lançou El Camino, cuja capa retrata a van em que a dupla excursionava no início da carreira. O álbum traz a banda de volta à origem do blues mais cru, com um som orientado pelos riffs setentistas de canções como "Lonely Boy" e "Little Black Submarines", músicas assumidamente inspiradas em hits de grupos como Yardbirds e Led Zeppelin. No entanto, ser um músico de rock nem sempre esteve presente nos planos de Auerbach quando era um adolescente de Akron, Ohio. "Não era pelo rock and roll", revela. "Eu queria fazer música desde criança e tocar guitarra. A família da minha mãe tinha uma forte influência de blues e, quando eu fiquei mais velho, fiquei muito seletivo sobre o tipo de coisa que gostava. Há um tom meio deslocado no blues de Memphis – é mais sujo, mais direto – e eu me identifico com o estilo, como Howlin' Wolf em Moanin' in the Moonlight. Eu prefiro isso a coisas de Chicago."

A turnê de El Camino, conforme Auerbach conta numa fala pausada e quase professoral, começou há poucas semanas, com os britânicos do Arctic Monkeys a cargo da abertura de alguns shows nos Estados Unidos. Curiosamente, eles também são adversários em algumas partidas de futebol. "Nós tentamos fazer jogos todos os dias nesta turnê", revela Dan, que era capitão do time na época do colegial. "Vamos jogar algumas partidas ‘Black Keys contra Arctic Monkeys’ todos os dias. Aparentemente, dois dos integrantes da banda também jogaram bola no time do colégio, então eles devem ser muito bons [risos]. Veremos."

Com três discos lançados nos últimos quatro anos, é visível que o processo criativo do Black Keys se mostre mais prolífico do que o de inúmeras bandas atuais. A dupla trabalha com O renomado produtor Danger Mouse desde Attack & Release (2008), o primeiro disco em que a banda decidiu trocar as fábricas (Rubber Factory, de 2004, foi gravado em uma usina abandonada) e porões por um estúdio em Nashville, onde Auerbach e Patrick Carney residem atualmente. "Provavelmente, nosso lugar favorito é o estúdio", conta. "Então, assim que arrumarmos tempo, nós faremos [um novo álbum]. Quando vamos fazer um disco do Black Keys, apenas vamos para o estúdio. Não há um planejamento e, realmente, nenhum método. A inspiração apenas vem."

Capa recente da Rolling Stone EUA, o Black Keys se tornou a mais "nova" revelação do rock com dez anos de carreira e, consequentemente, a mídia agarrou a banda com unhas e dentes. Uma declaração de Patrick Carney sobre o Nickelback ("As pessoas não ligam mais que a maior banda de rock do mundo seja sempre uma merda") vira assunto por semanas nos principais sites de música, por bem ou mal. A pressão diária e a rotina de entrevistas, no entanto, é algo com que Auerbach ainda não aprendeu a lidar completamente. "Essas coisas variam a cada dia", reflete. "Às vezes, estamos descansados, em outras estamos...sabe? Outras vezes nos pegam bem quando nós acordamos e estivemos bebendo a noite toda. [risos] Você nunca sabe o que vai ter."

Dois assuntos parecem incomodar o vocalista do Black Keys. "Você ouviu a história da pessoa que é dona do Megaupload?", ele pergunta, após a reportagem pedir sua opinião sobre SOPA e PIPA, as leis norte-americanas de combate à pirataria online que vêm gerando polêmica e resultaram na prisão do alemão Kim Dotcom, dono do site Megaupload, fechado recentemente. "Ele vive numa mansão e faturou cerca de US$ 40 milhões no ano passado graças ao site e ainda tem uns 20 carros clássicos, cara. Eu vejo ele como uma espécie de chefão do crime ou algum grande traficante de drogas."

Ao contrário de músicos como Thom Yorke e do rapper brasileiro Emicida, Auerbach se diz contra o compartilhamento gratuito de música na internet. "Eu acho que é tão fácil e, apesar de muitas pessoas fazerem isso, deveria ser ilegal porque é roubo", dispara ele, que proibiu o streaming de El Camino à época de seu lançamento. "Quer dizer, você não trabalharia de graça e ninguém trabalharia de graça, sabe? E é isso que está acontecendo com as gravadoras e a indústria fonográfica, atualmente."

Em um momento de "seca" para a música feita com guitarras, Auerbach acredita que a culpa da ausência do rock nas paradas, com exceção do Black Keys, é de um movimento cíclico que tem como gênero favorito a música eletrônica, atualmente. "Sempre haverão ciclos - algo que é popular e que depois voltará a ser popular", diz. "Eu lembro quando a música eletrônica ficou popular nos anos 90 e, alguns anos depois, era embaraçoso dizer que gostava daquilo. Eu acho que tem mais a ver com a indústria musical atual e as rádios, cara. Eles definem esse balanceamento do que é popular e, se você é um DJ de rádio, geralmente te dizem o que tocar. Você não pode colocar o que quiser. Então, é mais difícil divulgar seu som por lá. Acho que um movimento tem de surgir para [o rock] voltar. Isso abriria muitas portas para inúmeras bandas."

A vinda do Black Keys ao Brasil parece algo iminente. Com shows marcados em quase todo o primeiro semestre, incluindo um como headliner do Coachella Festival, uma passagem da dupla pelo país não deve acontecer no primeiro semestre. Mas Auerbach sinaliza que, se não ocorrerem imprevistos, ainda este ano estará por aqui: "Nós acertamos alguns shows recentemente que impossibilitam isso, mas sempre tivemos essa vontade e ainda não conseguimos. Iremos para aí assim que pudermos – nós realmente queremos isso."