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Chester Bennington 1976-2017

David Fricke Publicado em 25/08/2017, às 20h25 - Atualizado em 19/03/2018, às 18h09

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<B>Força ao vivo</b><br>
O cantor em show do Linkin Park em 23 de novembro de 2014, na O2 Arena, em Londres
 - Justin NG / Music Pics / Rex / AP
<B>Força ao vivo</b><br> O cantor em show do Linkin Park em 23 de novembro de 2014, na O2 Arena, em Londres - Justin NG / Music Pics / Rex / AP

UM ENCONTRO NO PASSADO

David Fricke reflete sobre entrevista realizada com o vocalista do Linkin Park no início da fama

Por David Fricke

Conheci Chester Bennington no começo de 2002, quando fui a Los Angeles para escrever uma matéria sobre o Linkin Park para a capa da Rolling Stone. Na época, a banda– Bennington, o rapper Mike Shinoda, o guitarrista Brad Delson, o baterista Rob Bourdon, o baixista David “Phoenix” Farrell, e o DJ Joseph Hahn – era uma das maiores novidades do rock. O primeiro álbum, Hybrid Theory (2000), tinha vendido 6 milhões de cópias nos Estados Unidos e mais de 11 milhões no mundo inteiro. Era uma raridade na fusão instável de punk, metal e hip-hop daquele período: é um trabalho coeso e articulado.

Minha entrevista com Bennington ocorreu em um restaurante em Santa Monica; a primeira esposa dele, Samantha, se juntou a nós. Também foi uma ocasião para comemorar. Algumas semanas antes, em 2 de janeiro de 2002, o vocalista tinha parado de beber. O casal brindou à nova fase com água mineral, mas ele falou sobre seus vícios anteriores – cocaína e metanfetamina na adolescência, um período recente e intenso de alcoolismo – como se fossem sombras permanentes, uma aula diária de autoestima.

“É fácil cair nessa coisa de ‘coitadinho de mim’”, disse. Ele também citou “Crawling”, de Hybrid Theory, como “uma música sobre assumir responsabilidade por suas ações. “Não digo você em nenhum momento. A letra fala de como eu sou o motivo para me sentir assim”.

Reler esta matéria, horas depois de o corpo de Bennington ter sido encontrado (o cantor cometeu suicídio por enforcamento em 20 de julho, na casa onde morava em Palos Verdes, Los Angeles), foi um lembrete da fragilidade temporal do que faço como jornalista. Escrevo sobre música e músicos para, tomara, a posteridade. Também dependo das verdades evidentes na época – o que as pessoas acreditam, sobre sua arte e elas mesmas, no momento em que conversamos. Aprendi sobre essa efemeridade, várias vezes, do jeito difícil – com Kurt Cobain, Scott Weiland e Chris Cornell, entre outros. Cornell, inclusive, era amigo de Bennington – ele também tirou a própria vida, em 18 de maio, e teria completado 53 anos no dia em que o astro do Linkin Park partiu.

Não tive a chance de outra longa entrevista com Bennington. Ainda assim, continuei um ouvinte e intrigado com o trabalho dele. Era um cantor poderoso e questionador, com uma elegância mutável e uma noção fi rme de melodia na voz. Achei que o EP High Rise (2013), que gravou como substituto de Weiland no Stone Temple Pilots, era uma tangente promissora, uma chance para ele vincular o canto a composições clássicas de rock pesado. Em vez disso, o STP está chorando a morte de mais um frontman; o Linkin Park perdeu mais que um vocalista; e estou escrevendo sobre mais um músico que escolheu partir, cedo demais e sem aviso.

ÍDOLO MODERNO

Bennington era a voz da dor e da agonia para a geração que cresceu nos anos 2000

Por Brittany Spanos

Depois que a chocante notícia do suicídio de Chester Bennington foi dada, muitas homenagens de artistas e fãs tinham uma coisa em comum.

“A Thousand Suns me ajudou a enfrentar um período terrivelmente sombrio”, escreveu o cineasta Joss Whedon, mencionando o álbum lançado pelo Linkin Park em 2010.

“O Linkin Park significa muita coisa para muita gente... definitivamente significa muito para mim”, Lupe Fiasco postou no Twitter. “As palavras e as vibrações [de Chester] me ajudaram em meus próprios períodos sombrios.”

O rapper Machine Gun Kelly, que faria shows de abertura para a banda em uma turnê ainda este ano, chamou Bennington de “uma voz para aqueles que tinham a necessidade de gritar [botar as coisas para fora]” em um post no Instagram. “Você esteve ao meu lado desde que eu tinha 11 anos.”

No amanhecer do novo milênio, o Linkin Park fez parte de uma nova revolução da juventude e a voz de Bennington era o trompete ressonante desse movimento. O estilo e as letras do artista juntavam vulnerabilidade sincera e raiva desenfreada. Músicas como “In the End” e “Crawling” o mostram alternando violentamente entre esses humores, fazendo declarações de derrota antes de a fúria subir borbulhando pela garganta e gerar gritos angustiantes de estourar as veias.

Para os jovens que viram suas explosões de tristeza e raiva quando o Linkin Park estourou, ele incorporou um tipo de dor reprimida que não podia ser expressa, liberada ou mesmo compreendida. Bennington passou a carreira sendo honesto e franco sobre suas lutas contra depressão, vício e trauma, especificamente por ter sofrido abusado sexual na infância.

Enquanto o nu-metal cresceu, a banda reescreveu as possibilidades do gênero. O machismo incensado pelo Limp Bizkit cedeu espaço à maleabilidade com que a voz de Bennington complementava o rap sutil mas eficaz de Mike Shinoda. O grupo adotou a música eletrônica de uma forma que complementava seu talento em vez de domá-lo. Durante todo esse tempo, a vulnerabilidade entre os gritos, os riffs pesados e os tons gélidos colocaram o Linkin Park um passo à frente.

Ao longo dos anos e ao passo que se tornava cada vez mais bem-sucedido em sua arte, Bennington foi um exemplo visível de como a doença mental é uma luta diária e permanente e revelou sua dor de formas mais complexas e maduras, desembocando no último disco com o Linkin Park, One More Light, lançado este ano. Em uma entrevista dada há alguns meses à Music Choice, ele descreveu sua mente como um “bairro ruim, no qual eu não deveria estar andando sozinho”.

Para muita gente que cresceu nos anos 2000, escutar o Linkin Park é como reviver uma lembrança de sobrevivência, o que aumenta ainda mais o fator trágico acerca das circunstâncias de como a vida de Bennington chegou ao fim.

GRITO PRIMAL

A força dos vocais do artista em 12 canções do Linkin Park

Por Brittany Spanos, Christopher R. Weingarten, Hank Shteamer, Maura Johnston, Patrick Doyle e Suzy Exposito

One Step Closer

2000

Desde seu single de estreia, o Linkin Park tinha todos os elementos que fariam da banda uma sensação do rap-rock: guitarra fora do tom, turntables a toda, raiva parte cantada, parte em rap e um refrão que oscila entre vulnerabilidade e

agressividade.

Crawling

2001

Bennington disse à Rolling Stone que “Crawling” e faixas com temas semelhantes eram o jeito dele de assumir responsabilidade pelos períodos difíceis de sua vida.

Papercut

2001

O compositor e vocalista descreveu a incendiária abertura de Hybrid Theory como “a identidade da banda” e sua úsica preferida do Linkin Park.

In the End

2001

Este estrondoso sucesso chegou ao número 2 das paradas norteamericanas. Uma das preferidas dos fãs ao vivo, “In the End” é um exemplo da capacidade do cantor de mesclar gritos e melodia.

Faint

2003

“Eu não posso me sentir do mesmo jeito de antes/ Não me dê as costas/ Eu não serei ignorado!”, berra Bennington.

Breaking the Habit

2004

Foi o quinto single de Meteora, que evitou a “maldição do segundo álbum” ao vender 27 milhões de cópias no mundo.

Numb/Encore, comJay-Z

2004

Aqui, a banda reforçou o desmonte dos limites entre rap e rock ao lado de Jay-Z.

What I’ve Done

2007

Para o terceiro álbum, Minutes to Midnight, o Linkin Park se uniu ao lendário produtor Rick Rubin, que ajudou a banda a ir além de suas raízes de nu-metal. O single “What I’ve Done” mostrou a nova abordagem.

Bleed It Out

2007

Esta faixa condensa o desprezo do grupo por limites de estilo, alternando versos em rap de Mike Shinoda com os refrãos de rock melódico de Bennington.

The Catalyst

2010

É um afastamento do som que os músicos faziam no início dos anos 2000, combinando synthpop com um toque industrial que lembra o Nine Inch Nails.

Burn It Down

2012

As texturas mais sutis e o vocal ardente de Bennington em “Burn It Down” foram um sinal do quanto os membros da banda tinham crescido como artistas desde que chegaram ao mainstream do rock quase 12 anos antes.

Heavy, com Kiiara

2017

“Lembro que o Chester entrou no estúdio e perguntaram: ‘Ei, como você está hoje?’”, Mike Shinoda contou à Billboard sobre a sessão de composição que gerou esta faixa pop lenta e sincera do mais recente álbum do Linkin Park, One More Light, em parceria com a cantora Kiiara. “E ele respondeu ‘ah, estou bem’. Depois de alguns minutos, falou: ‘Quer saber? Tenho de ser honesto. Não estou bem. Não estou ok. Coisas demais estão acontecendo comigo. Sinto como se estivesse submerso’.”