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A Condessa de Nova York

Em Girls, Lena Dunham e cia. voltam mais velhas, nem um pouco mais sábias e um pouco mais desesperadas

Rob Sheffield | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 11/02/2014, às 09h31 - Atualizado em 26/05/2014, às 21h10

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CONVERSA DE GAROTAS
A Hannah de Lena Dunham continua fracassando na vida adulta - Divulgação
CONVERSA DE GAROTAS A Hannah de Lena Dunham continua fracassando na vida adulta - Divulgação

Na excelente nova temporada de Girls (exibida no Brasil pelo canal pago HBO), Hannah Horvath, a personagem de Lena Dunham, continua firmemente comprometida com a piada narcisista que é a vida dela. Hannah ainda caminha por Nova York com seu grupo de garotas emocionalmente complicadas, dividindo detalhes íntimos demais (como, por exemplo: “Estava jogando ‘verdade ou desafio’ na primeira vez que levei uma dedada!”). Ela não consegue entender os detalhes da compaixão humana tanto quanto consegue manter um emprego de verdade ou usar cotonete, mas todo esse distanciamento sociopata tem um sabor bom para a personagem.

Como Lena Dunham transformou uma vida de ansiedade, sexo ruim e inúmeros remédios psiquiátricos no programa mais engraçado da TV.

De muitas maneiras, Girls tem a mesma premissa de Downton Abbey. Ambas as séries apresentam um grupo de pessoas superficiais fazendo discursos sobre como o mundinho delas está mudando. Elas lutam contra os efeitos alienantes da tecnologia. Hannah realmente é uma condessa de nosso tempo, o que significa que em vez de reclamar sobre os empregados e divagar sobre o rei Canute ela pondera sobre como pronunciar o nome de Ryan Phillippe. Agora, Girls já durou tempo suficiente para ter uma terceira temporada – o que significa que, assim como Hannah e seus amigos, a série chegou ao ponto onde adquiriu um cheiro de desespero adulto. Só que isso faz as risadas doerem um pouco mais. Chegando aos 25 anos, até Hannah percebe que essa rotina de artista malcriada e egoísta tem um prazo de validade.

À medida que a nova temporada se desenrola, algumas garotas de Girls demonstram envelhecer mais graciosamente do que outras. A Marnie de Allison Williams se desenvolveu em um personagem surpreendentemente interessante, ainda mais agora que dispensou o namorado insuportável, Charlie (Christopher Abbott). A Shoshanna de Zosia Mamet ainda é um furacão de falatório cômico, mas a rotina de vadia precoce de Jessa (Jemima Kirke) ficou muito mais difícil de engolir. Como se fosse para compensar a ausência de Charlie (a decisão de sair da série foi do próprio ator), conhecemos Gaby Hoffmann como a irmã de Adam Sackler, o namorado de Hannah. E ela consegue ser a reclamona mais intolerável até agora, em um programa cheio de mulheres assim.

O realismo emocional de Girls continua preciso até demais. Esses hipsters não pedem muito da vida, mas odeiam trabalhar nisso. Então, acomodam-se em rotinas horríveis e repetindo os mesmos velhos erros, porque isso é menos trabalhoso do que tentar algo novo. Eles esperam que seus trabalhos eventualmente virem empregos sérios, assim como esperam que seus relacionamentos preguiçosos se transformem em vidas amorosas dignas de um adulto. Mas quer saber, tanto faz. Hannah costuma se gabar: “Estou acostumada com gente se sentindo menosprezada por meu fluxo de pensamento em alta velocidade”. Só que, agora, ela está começando a suspeitar que pode não ter muita coisa a dizer – e o gosto disso não é nada bom.