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Escrita Identificada

Lázaro Ramos se expõe mais do que nunca no livro com toques biográficos Na Minha Pele

Guilherme Bryan Publicado em 22/07/2017, às 11h57

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<b>Ajudando a Entendê-lo</b><br>
Livro de Lázaro Ramos trabalha em cima da identidade do ator
 - Bob Wolfenson/ Divulgação
<b>Ajudando a Entendê-lo</b><br> Livro de Lázaro Ramos trabalha em cima da identidade do ator - Bob Wolfenson/ Divulgação

‘‘Biografia nem pensar!” Foi o que disse o ator Lázaro Ramos nas primeiras reuniões com os editores do selo Objetiva para falar sobre o recém-lançado livro Na Minha Pele. Naquela época, ele não poderia imaginar que em 2017 seria uma das estrelas da principal festa literária do país, a Flip, que acontece de 26 a 30 de julho em Paraty/RJ. “Fui pela primeira vez no ano passado, na Flipinha, e foi lindo. Comecei a ir para a mesa das outras pessoas e fiquei louco. Muitas ideias surgem ali.”

Na Minha Pele é definido por Ramos como “uma conversa disforme sobre formação de identidade”. A linguagem é coloquial, envolvente e, como o próprio autor avalia, repleta de hipertextos – não há uma linha temporal muito clara, o que a aproxima de um discurso oral. Dentre os temas, ele discorre sobre ser um artista negro no Brasil, algo que permeia as memórias da infância na Bahia; a trajetória profissional, desde o início no grupo de teatro Bando de Teatro Olodum até o estrelato; o sucesso como apresentador do programa Espelho, no Canal Brasil; e os dilemas em torno da educação dos filhos João Vicente, de 5 anos, e Maria Antônia, 2 anos, frutos do casamento com a atriz Taís Araújo.

A identidade é o mote principal, pautada pelas experiências e características que formam o ser humano sem que ele se dê conta disso. “Quando você pergunta qual é a minha identidade, ela é tudo o que eu sou e vivi, incluindo ser um homem negro, baiano, nordestino, morar no Rio de Janeiro, ser ator, pai de duas crianças e conviver com a minha família, que mora num bairro central em Salvador. E, ao mesmo tempo, viajar com meu espetáculo e conviver com diferentes culturas”, reflete.

Esta não é a estreia literária de Lázaro Ramos – ele é o autor dos infanto-juvenis Caderno de Rimas de João e A Velha Sentada, e os próximos livros que planeja lançar serão nesse segmento. Mas esta é a primeira vez que ele se expôs tanto por meio da escrita, tratando de temas contemporâneos e contando sobre a intimidade com os pais, as principais referências literárias e os episódios em que foi vítima de discriminação racial. “Faça o seguinte teste. Pergunte: ‘Quem acredita que tem racismo no Brasil?’ Um monte de gente levantará a mão. Agora pergunte: ‘Quem é racista aqui?’ Ninguém terá coragem de assumir. É um negócio meio doido: onde está o racismo, então?”, questiona. “Lembrei das inúmeras vezes em que senti que alguém estava me fazendo entender que eu tinha que pedir licença ou até mesmo agradecer por estar num lugar que, ao que parece, não me pertencia. Esse traço do racismo brasileiro é muito perverso. E é muito difícil de comprovar, pois está em uma frase enviesada, em um olhar dissimulado e em ações que se tornaram naturais.”

Se, por um lado, incomoda Lázaro Ramos o fato de ele ser reconhecido como o “melhor ator negro do Brasil”, uma vez que, o artista pontua, não dão a denominação “a melhor atriz ruiva” para Marina Ruy Barbosa, por outro ele reconhece que é um ponto de referência e pode significar que traz uma ancestralidade na interpretação. “Acho importante a gente pensar sobre isso, inclusive a imprensa que utiliza essa categoria dia após dia”, analisa. O tema está quase sempre presente no programa Espelho, no ar há 12 temporadas, na série que protagoniza ao lado de Taís, Mister Brau, cuja quarta temporada está sendo escrita, e no espetáculo O Topo da Montanha, da nova-iorquina Katori Hall, que imagina as últimas horas de vida de Martin Luther King – Ramos e Taís rodaram o país com a montagem, que já foi vista por mais de 80 mil espectadores.

Sem fazer um tratado sociológico e, ao mesmo tempo, sem concessões, Lázaro Ramos apresenta no livro uma série de questionamentos bastante atuais. “Todos os meus trabalhos têm um viés social, que é a minha voz, mas, junto a ele, há também o desejo, do qual me orgulho muito, que é o de entreter. Apesar de apresentar coisas que são duras e às vezes dolorosas, a tentativa é a de fazer uma conversa agradável e que prenda a pessoa até o fim.”