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Invencível

Lyoto Machida é o maior lutador brasileiro de vale-tudo da atualidade. Meio japonês, meio baiano, ele consegue fugir dos holofotes e se manter no topo: nunca perdeu um único round no sangrento octógono do UFC

Por Carlos Juliano Barros e Maurício Monteiro Filho Publicado em 09/10/2009, às 10h09 - Atualizado em 10/12/2011, às 11h00

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Lyoto Machida aguarda entre os rounds de sua histórica luta contra Rashad Evans, no UFC 98, em maio de 2009, em Las Vegas, nos Estados Unidos
Lyoto Machida aguarda entre os rounds de sua histórica luta contra Rashad Evans, no UFC 98, em maio de 2009, em Las Vegas, nos Estados Unidos

Lyoto Machida é apenas um rapaz latino-americano com um bom dinheiro no banco, parentes muito importantes e vindo do coração da Amazônia. É ali que estamos, em Belém do Pará, quando um SUV Honda se aproxima e estaciona em frente ao hotel para nos buscar. É domingo e os fins de semana são sagrados para a família Machida: haja o que houver, se estiverem na cidade, Lyoto, os quatro irmãos, as esposas e os filhos se reúnem na casa dos pais, em Ananindeua, cidade da região metropolitana da capital paraense. Não bastasse ter nos convidado a participar do almoço, Lyoto também nos oferece carona até lá.

Enquanto a janela filmada do carro se abre, vão se desligando os neons de Las Vegas, a capital mundial do Ultimate Fighting Championship (UFC), como se os milhões de dólares que essa indústria movimenta esvanecessem, e como se a crescente fama global fosse um véu facílimo de retirar. Atrás do vidro negro está só um cara normal, que poderia ser seu amigo. Ele ri sonoramente, pergunta tanto quanto responde, interessa-se pelas coisas do mundo fora dos ringues, mas não se incomoda nem um pouco de falar da vida de lutador por horas a fi o. Ele ouve Ivan Lins e Djavan, mas pira mesmo em Zé Ramalho e, sobretudo, Belchior. "Essa coisa de rock pesado é barulheira. Não entendo nada do que eles dizem", brinca Lyoto, que aos 31 anos, acaba de chegar ao topo do mais importante campeonato do chamado Mixed Martial Arts (MMA), estilo de técnicas mistas de luta que refinou a disputa do antigo vale-tudo.

Ao derrotar o então invicto Rashad Evans em maio deste ano, o brasileiro conquistou o cinturão da categoria meio-pesado, a mais disputada do circuito, na edição 98 do UFC. E está prestes a defender o título pela primeira vez, contra o compatriota Maurício "Shogun" Rua. A luta ocorrerá no dia 24 de outubro em Los Angeles, em um provavelmente lotado Staples Center, a casa dos Lakers, e será a atração principal do octógono - o ringue geométrico com formato de jaula em que é disputado o torneio - no UFC 104.

Lyoto Machida, 15 lutas disputadas, 15 vencidas, sequer um round perdido em toda a carreira, é um fenômeno. Enquanto percorre o estreito caminho que leva dos vestiários ao ringue, a meio metro de cada lado de uma multidão enlouquecida e até o instante imediatamente anterior a sua entrada no octógono, Machida é um monstro de quatro corpos e quatro mentes. Uma criatura mítica conectada a uma tradição milenar que até bem pouco tempo não tinha espaço no circo de protótipos de caminhoneiros norte-americanos promovidos a lutadores selvagens. Um verdadeiro dragão-samurai em meio aos bêbados brigões dos fundos de bares de beira de estrada. Lyoto "The Dragon" Machida, como é apelidado nos Estados Unidos, leva consigo nesse trajeto as três pessoas que mais contribuem em sua preparação: o pai, Yoshizo, o irmão Chinzo e a esposa, Fabyola. São esses os anjos de vanguarda numa constelação focada na ascensão de Lyoto, e em que também estão presentes a mãe, Ana, os outros dois irmãos biológicos, Takeriko e Kenzo, e o irmão de criação, Francisco. Também estão junto ao front o empresário Jorge Guimarães, o Joinha, o preparador físico Eduardo Lisboa, o sparring Laurel Moraes e o mais novo integrante do clã, Taiyo, filho de Lyoto e Fabyola, de um ano e um mês de idade.

A trajetória dos Machida é digna de uma narrativa cinematográfica que tem o caratê e a cultura japonesa como personagens principais. Durante a infância em Salvador, Ana nutria a curiosa mania de colecionar recortes de revistas com retratos de crianças de feições asiáticas. A inocente admiração pela beleza dos traços orientais falaria alto ainda durante a juventude, quando ela se encantou à primeira vista pelos olhos puxados de Yoshizo. O ambiente do primeiro encontro não poderia ser mais familiar: uma festa organizada na academia de artes marciais onde ele dava aulas para o então namorado da irmã de Ana. Porém, ela garante que demorou a ceder às investidas do confiante japonês que se transformaria no pai de seus filhos. Mais do que o charmoso automóvel Karmann-Ghia dirigido por ele na década de 1970, foi a mítica aura que envolve a filosofia do caratê que ajudou a arrebatar o coração da discreta Ana. A cerimônia de casamento contou com um ritual-surpresa preparado pelos colegas faixas-pretas da academia de Yoshizo, em meio a misteriosas luzes negras.


Apesar da fascinação que o caratê sempre exerceu sobre seu espírito, a mãe de Lyoto jamais assistiu a um combate sequer. Enquanto ele descarrega o repertório de chutes e socos devastadores que o consagraram nos modernos octógonos do UFC montados em território norte-americano, ela faz uma solitária vigília pelo sucesso do filho. Até quando confere o desempenho de Lyoto pelas fitas gravadas, tempos depois do combate, ela não contém o nervosismo e deixa escapar uma reza em voz baixa mesmo sabendo que nenhum golpe adversário foi capaz de arranhá-lo. Na verdade, Ana não precisou se preocupar até agora com ferimentos. Após suas lutas, Lyoto parece pronto a estrelar um comercial de lâminas de barbear. A única cicatriz perceptível no rosto do carateca, logo acima da sobrancelha esquerda, não foi resultado do golpe de nenhum de seus oponentes. "Eu caí da escada", gargalha.

Enquanto conversávamos sentados à mesa de refeições da família Machida, Fabyola preenchia os convites da primeira festa de aniversário do filho, Taiyo. Eles se conheceram bem crianças em um centro espírita de Belém, e o namoro engatou para valer quando ambos tinham por volta de 15 anos. Na faculdade de educação física, em que também estudaram juntos, ela costumava assinar a lista de presença e ajudar nas tarefas para que Lyoto pudesse treinar de manhã, antes da aula. Hoje, ela faz o meio-de-campo com os jornalistas que desejam entrevistá-lo. Também cuida do lançamento da marca de roupas com o nome da família que será vendida por meio do site oficial de Lyoto. E até já enviou fotos de seu próprio celular para duas fãs que não tinham máquina, mas que imploravam por um registro do encontro com o campeão paraense. Por toda essa devoção, é impossível definir em poucas palavras o papel que Fabyola desempenha na carreira do marido. "Faço de tudo para que ele não tenha de pensar em absolutamente nada, só em treino", ela resume.

A mesa da sala dos Machida merece um capítulo à parte na história da família. Foi em torno dela que se lapidou a educação dos cinco fi lhos do casal que há 35 anos come caranguejos todos os sábados, religiosamente. Nas frequentes reuniões que continuaram a ocorrer mesmo quando todos já haviam atingido a idade adulta, misturavam-se duas fontes de ensinamentos. Yoshizo extraía de seus livros em japonês histórias de samurai para transmitir noções de honra e disciplina. Ana, por sua vez, acrescentava às mensagens do patriarca da família a sua formação no espiritismo cristão. "Meu pai mandava bater e minha mãe falava para a gente rezar", brinca Lyoto. Para o velho Machida, o caratê foi um pacificador da alma. "Eu era quente", sorri marotamente o sensei. Numa das frequentes brigas da juventude no Japão, chegou a enfrentar três membros da temida máfi a Yakuza, até que uma garrafada em sua cabeça encerrou a disputa.

Quando Yoshizo chegou ao Brasil, mais de 40 anos atrás, para trabalhar como engenheiro civil na região de Tomé-Açu, município paraense de intensa imigração japonesa, o sangue já havia esfriado. Rodou o Brasil ensinando caratê, até que chegou à Bahia, onde conheceu Ana. Mas foi em Belém, mesma região por onde passa a saga da família Gracie, maior divulgadora do jiu-jítsu brasileiro, que Yoshizo fi ncou raízes. No dojo, o espaço da prática do caratê, da Academia Paraense de Artes Marciais (APAM), aos três anos, Lyoto e os irmãos arriscaram os primeiros golpes da luta. Trajetória que desembocou numa reviravolta completa da imagem da arte marcial, que andava completamente relegada ao corner dos ringues de MMA pelo mundo. "Eu recebo e-mails de caratecas do mundo inteiro, porque o caratê estava desacreditado", analisa ele. Atualmente, como nos sonhos que tinha ao observar Royce Gracie, o legendário vencedor das primeiras edições do UFC, Lyoto começa a forjar o que vem sendo chamado de "caratê Machida", moldado no exemplo do "jiu-jítsu Gracie": uma arte marcial milenar adaptada por brasileiros para ser exportada ao mundo como a arma mais eficiente no octógono. Isso deve ocorrer, ainda mais concretamente, em breve: o clã Machida pretende abrir uma filial de sua academia nos Estados Unidos. Para desenvolver o caratê único que enche os olhos do mundo, Lyoto conta com a ajuda preciosa de seu pai e do irmão e técnico Chinzo, que teve uma curta carreira como lutador de MMA, com uma vitória e uma derrota. Na opinião do pai, Chinzo chega a ser até melhor do que Lyoto como carateca. "O Chinzo é mais técnico. O Lyoto é porrada", compara o velho sensei.

Yoshizo atua como uma espécie de técnico do técnico. Junto com os filhos, garimpa livros antigos de técnicas de caratê em busca de golpes mais contundentes, que acabaram sendo deixados de lado no caratê profissional pelo alto grau de dano, mas que são perfeitos para o UFC. No japonês ainda fluente, anota em folhas de papel os pontos positivos e negativos dos adversários e do próprio Lyoto, segundo critérios que ele próprio escolheu. Pesam em sua análise fatores como mobilidade, jogo de pernas e defesas com braços e pernas, entre outros. "O Rashad [Evans, antigo campeão] costuma dar dois jabs e depois dar um soco 'grande'. Nessa hora, dava pro Lyoto entrar", explica, com um forte sotaque japonês, pronunciado na cadência dos golpes da arte que domina há décadas. Nesse jogo quase musical de tempo e contratempo, segundo o pai e sensei, Lyoto está próximo da perfeição.


Durante as lutas, Yoshizo fica calado, apenas observando, e prestando atenção ao corner adversário, para captar a estratégia do oponente. Ele passa essas informações para Chinzo, o único que entra no octógono com Lyoto, durante os intervalos de um minuto entre os rounds. De Yoshizo, Lyoto herdou também uma prática pouco ortodoxa: a de beber a própria urina. "A primeira da manhã é a mais rica", declara o campeão. De acordo com ele, a ideia é absorver substâncias importantes que não foram retidas pelo corpo e que acabaram eliminadas, fortalecendo a resistência do organismo.

Após o último soco da poderosa sequência de esquerdas e direitas que Lyoto utilizou para nocautear solenemente o então campeão invicto dos meio-pesados do UFC, Rashad Evans, os admiradores do MMA foram obrigados a dissipar todas as dúvidas quanto ao talento do carateca paraense. "Estou tonto ainda. Lyoto é muito difícil de decifrar e eu não o encontrei na luta. Estava tentando frustrá-lo no início, mas ele é um cara muito esperto e não entrou no meu jogo", admitiu o próprio Evans, logo após o término do combate que lhe subtraiu o título do UFC. A conquista do cinturão impressionou até mesmo o principal organizador do torneio, Dana White. "Eu acredito que está começando a 'Era Lyoto Machida'", sentenciou logo após o término do combate. Na verdade, o público parece ter percebido isso antes mesmo de White, quando vibrava em uníssono "Lyoto, Lyoto!" e "Machida, Machida!", instantes antes de Evans apagar.

Mas nem sempre foi assim. No começo de sua carreira, Lyoto foi bastante contestado pelos movimentos de xadrez que coloca em prática no ringue contra seus oponentes. O estilo cauteloso não raro se chocava com a sede do público de presenciar dois touros indomáveis se batendo desordenadamente até que um deles desabe. "As pessoas vaiavam. Era tão ruim", confessa Fabyola. Mas a série de vitórias contra oponentes de alto nível amoleceu o coração dos admiradores do MMA. "Os pit boys gostam de ver sangue. Com eles, é ligar o ventilador e sair dando. Um cara mais formal gosta de um negócio mais técnico, mais estudado", analisa Lyoto. Ele agora está à procura de um novo patrocinador, que reflita com mais precisão a sua filosofia. "Eu não sou um bad boy. Esse não é meu estilo", garante.

Depois da avassaladora vitória sobre Rashad Evans, a volta para Belém parecia o desembarque de uma celebridade pop internacional. Fãs extasiados amontoaram-se no aeroporto à espera do ídolo, disputando praticamente a tapa os centímetros que garantiriam a foto mais próxima do campeão. Houve desfile em carro de bombeiro pelas ruas da cidade, acompanhado por uma multidão enlouquecida. Lyoto também virou blockbuster da indústria da pirataria na capital paraense. Quando a febre Machida explodiu com a conquista do cinturão do UFC, os DVDs com seus combates à disposição nas barraquinhas no centro da cidade bateram até mesmo as vendas das megaproduções da cantora Ivete Sangalo. Justamente por contribuir com o leite das crianças dos vendedores ambulantes, Lyoto já chegou a ser surpreendido por uma calorosa salva de palmas dos camelôs, enquanto andava pela região. A maré do universo das celebridades até agora não arrastou Fabyola, que ainda passa por uma simples mortal. Certa vez, ao topar com a propaganda dos DVDs com as lutas de Lyoto, ela não resistiu à tentação e se denunciou:

- "É o meu marido."

- "E eu sou namorado da Xuxa", emendou o camelô.

Mas Lyoto nem de longe parece se deslumbrar com a fama. Nada parece capaz de inflar seu ego. Nem as centenas de milhares de dólares que acumulou com os combates vencidos, nem as nove revistas de todo o mundo que já estamparam seu rosto na capa, nem um famoso jogo de videogame que transforma os lutadores do UFC em heróis virtuais, nem mesmo as chamadas marias-tatames, que avançam sobre ele com mais voracidade do que os próprios adversários, segundo sua segura esposa. "As coisas aconteceram muito devagar para mim. Então, este sucesso de hoje é encarado de forma natural", ele afirma.

Em 2002, quando resolveu de fato tentar a sorte no MMA, Lyoto viajou para o Japão a convite de Antonio Inoki, um conhecido promotor de eventos de artes marciais que estava à procura de uma nova pérola brasileira. No começo da década, o principal campeonato mundial dessa modalidade ainda era o Pride, então sediado no Japão, e que já não existe mais. O país do Sol nascente era, portanto, o Eldorado de qualquer lutador em começo de carreira. Porém, a promissora caminhada de Lyoto começou de maneira turbulenta. Antes de desembarcar na terra natal de seu pai, ele teve de fazer uma escala de 40 dias para aperfeiçoar seu muay thai, praticamente internado em uma academia da Tailândia.


Quando finalmente partiu para o Japão, logo de cara passou a desconfiar das práticas pouco transparentes, por assim dizer, do empresário designado por Inoki para agenciar suas lutas. Por ironia do destino, os desentendimentos com o manager, que lhe renderam um cartel de poucas lutas e um dinheiro muito aquém do esperado, foram sanados em 2004, com a bancarrota do escritório que promovia os eventos de artes marciais. "Foi a falência mais comemorada", relembra Fabyola, que naquele mesmo ano se casou com o marido em segredo, já que o empresário de Lyoto se opunha ao matrimônio. Mas os problemas não cessaram por aí. Em 2005, ele passou o ano inteiro sem disputar um combate sequer. "Eu dizia: 'Vai chegar a minha vez'. Eu li aquele livro do Paulo Coelho, O Alquimista. Esse livro fala em sinal. Quando eu via um passarinho na janela, eu dizia: 'Deve ser esse o sinal'. Você tem que acreditar que nada vem fácil e a natureza está sempre te testando para ver se você é merecedor daquilo que quer conquistar", reflete.

A rotina disciplinada de treinos e essa blindagem contra os vícios da fama fazem com que, aos olhos de lutadores que mudam o estilo de se vestir e de agir logo após a primeira luta no UFC, Lyoto seja visto como alguém que está perdendo a chance de surfar a onda da fama. "Esses caras vão dizer que eu sou careta", diverte-se. "Eu respeito cada um, acho que eles não estão errados, mas eu me sinto bem na minha forma, até porque a arte marcial que estou defendendo é o caratê, que é mais tradicional."

Lyoto mantém a estabilidade necessária para debelar não só o glamour, mas também a pressão que vem do fato de a família toda estar envolvida em cada golpe que ele desfere. No instante em que cruza as grades do octógono, o monstro Machida se desconecta de todos os seus outros corpos e mentes e se reduz a um indivíduo. Desliga os holofotes do ginásio, bloqueia o rugido da plateia, seleciona apenas o que deseja ouvir do seu corner e reduz todo o universo àquele espaço pequeno demais para dois vencedores que é o ringue. "Aquele momento é meu. Meu pai sempre disse isso pra gente: 'Meu filho, a pessoa mais triste ou mais feliz depois da competição é você'. Naquele momento, eu não sei nem que tenho filho. Sou eu e eu, acabou", crava Lyoto.

Todo esse equilíbrio vem de mais um ensinamento do velho Machida aos filhos, que Lyoto leva para dentro do octógono em sua solidão de samurai. É um tripé composto pelos princípios milenares do shin, gi e tai. Simplificadamente, trata-se da unificação, respectivamente, da mente ou espírito, da técnica e do corpo. Lyoto acredita que, em termos de técnica e corpo, os lutadores do UFC estão praticamente nivelados. Porém, no que diz respeito ao tai, a própria ciência discorda dele. Um minucioso exame recente feito por um professor de uma universidade em São José do Rio Preto, oeste do estado de São Paulo, revelou que Lyoto tem uma capacidade aeróbia realmente diferenciada. E que seus ossos apresentam densidade muito superior à média de um atleta de alto rendimento. Em sua maneira de trabalhar o shin, ele se distancia ainda mais de seus adversários, bebendo direto da fonte dos guerreiros japoneses. "Naquele momento da luta, é importante você estar vazio. É o estado de mushin, que quer dizer 'estado de vazio'. Os samurais usavam muito isso no Japão", explica Lyoto. "Se você simplificar tudo aquilo [os fatores externos que atrapalham na hora da luta], é a mesma coisa que você pegar dois caras e botar pra brigar numa praia que não tem ninguém, só eles dois."

E Lyoto Machida está cada vez mais sozinho nessa praia cada vez mais sua, vivendo confortável a saga de seu personagem inquebrável de carne, ossos densos e mente vazia do videogame de sua vida real. Incólume.