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Que Horas Ela Volta? expõe realidade incômoda das relações de poder

Stella Rodrigues Publicado em 07/08/2015, às 17h27 - Atualizado em 10/09/2015, às 17h19

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Regina Casé (babá) e Karine Teles (patroa) em cena de Que Horas Ela Volta? (No detalhe) A diretora, Anna Muylaert. - Divulgação
Regina Casé (babá) e Karine Teles (patroa) em cena de Que Horas Ela Volta? (No detalhe) A diretora, Anna Muylaert. - Divulgação

Diretora e roteirista Anna Muylaert se lembra bem de quando teve a ideia para realizar Que Horas Ela Volta?, longa nacional premiado nos festivais de Sundance e Berlim. Foi há duas décadas, quando teve filho e optou por mudar sua rotina para poder criá-lo sem contratar uma babá. De lá para cá, o projeto sofreu uma série de alterações, mas manteve o princípio de levar para a tela essa relação de trabalho e afeto tão única, mas reconhecida em qualquer lugar do mundo. Para Anna, esse foi o segredo do sucesso internacional do filme. “Eles podem não ter os mesmos costumes que a gente, mas relação de poder é algo universal, pode ser com a babá, empregada, faxineiro, o que for”, reflete.

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Na trama, Val (Regina Casé) trabalha há muitos anos na casa de Bárbara (Karine Teles), criando o filho dela (interpretado por Michel Joelsas, o menino de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, escrito por Anna). O garoto, como costuma ocorrer, desenvolve com Val a relação de respeito e carinho que geralmente se tem com a mãe. Tudo muda quando a babá precisa ser mãe para a filha biológica, Jéssica (interpretada por Camila Márdila), que ela deixou no Nordeste para ir ganhar dinheiro na capital paulista. A garota vai passar uma temporada em São Paulo para prestar vestibular de arquitetura e o discurso da importância da educação que ela incorpora é o fator de mudança necessário para balançar a situação estabelecida. Jéssica não se curva às regras impostas e questiona o conceito velado de que é inferior por ser “filha da babá”.

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A coragem dela diante do medo de todos os outros personagens de “tirar as coisas do lugar” é o ponto-chave. “Isso tudo é tão naturalizado no Brasil que o filme incomoda”, avalia Regina Casé. “E só a educação ajuda a não perpetuar isso. O legal é que o roteiro não está nos diálogos, está na geografia da casa, no curso de arquitetura como uma forma de mudança social”, elogia Regina, que dividiu com Camila um prêmio de atuação no Festival de Sundance. “Apesar de ser uma situação de muita opressão social, a Anna não fez uma leitura simplista.”