Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Nunca à Deriva

Laura Neiva tem muita sorte e vive um dia de cada vez, mas não sai da rota

Carina Martins Publicado em 06/07/2012, às 11h51 - Atualizado às 11h57

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Laura Neiva tem muita sorte e vive um dia de cada vez, mas não sai da rota - Autumn Sonnichsen
Laura Neiva tem muita sorte e vive um dia de cada vez, mas não sai da rota - Autumn Sonnichsen

As aulas de balé duraram só um ano, mas todo movimento na vida de Laura Neiva, 18, causa um grande impacto. Do intenso treinamento no Theatro Municipal de São Paulo, ficou o desconforto da lembrança de ver crianças da idade dela cheirando cola no caminho que fazia com a babá. Ficaram também a postura impecável e uma memória muscular que ajuda um corpo que não precisa de ajuda alguma e que ela contorce com riso e graça em falsas poses de dança para a sessão de fotos na sala do apartamento de sua empresária, nos Jardins, em São Paulo. A jovem atriz de À Deriva e E Aí, Comeu? tem muita sorte – azar, afinal, é uma daquelas coisas que só a bailarina é que não tem. Sorte de ter sido famosamente descoberta no Orkut, há quatro anos, pela produtora de casting Anna Luiza Almeida, que hoje cuida da carreira dela. Sorte de ter nascido dona de imensos olhos verdes e boca à altura. Sorte de ser uma menina serena e madura.

Outro talento especial que as bailarinas têm é fazer parecer que a magia que apresentam acontece sem esforço. Não é diferente para Laura Neiva. Naturalidade é uma palavra bem cotada para descrever a maneira com que ela mesma atende a porta para receber a reportagem, como ela equilibra o sorriso constante e animada disposição com que ouve as perguntas com a ausência de qualquer excesso causado por efervescência adolescente. É também coerente com a pequena tatuagem onde se lê “maktub” (estava escrito). É possível que muito esteja mesmo. Mas, além da sorte, existe trabalho. No caso dela, ele tem consistido, em grande parte, em dizer “não”. Coisa de quem constrói uma carreira muito bem pensada. “Fiz tudo muito devagar, todas as minhas escolhas de trabalho. Não tive pressa, não tenho pressa, tenho 18 anos. Ainda me seguro, porque se a gente for muito forte, muito obcecada, acredito que não é bom”, ela conta.

Por isso, ela não se preocupa em encenar negociações de projetos misteriosos. Faria o novo filme de Heitor Dhalia, Serra Pelada, mas a produção parou. Com a conclusão do ensino médio, seu cotidiano está tranquilo. “Tenho duas cachorras, então tenho que passear com elas todos os dias. Tento fazer ginástica, correr, mas cada dia tenho uma desculpa”, ri. Parece fácil. Será truque de bailarina? Laura nega os fortes rumores de que esteja em negociação com a Globo. “Não, não. Por enquanto não tenho nada”, afirma. Mas... “Tenho vontade, sim, claro, é a única coisa que ainda não fiz. Antes não conseguiria fazer TV por causa da escola. Agora fica mais fácil.”

Serenidade não é estagnação. Nos quatro anos de carreira, além dos dois longas, Laura fez dois curtas-metragens – um de Beto Brant e um de Igor Bonatto –, e ficou um ano em cartaz com a adaptação teatral de Ligações Perigosas, ao lado de Maria Fernanda Cândido. Nem muito, nem pouco, e só escolhas sólidas. “Acho que isso já vai dando um caminho de que eu gosto.” O ponto final desse direcionamento é um ponto alto. O que Laura Neiva quer – mesmo que lá longe – é tornar-se uma referência de cinema. Não exclusivamente da tela grande, mas principalmente. “Quero ser uma pessoa que tenha isso do cinema, uma atriz de cinema”, explica, desviando de rótulos como “diva”, mais por elegância do que por falta de ambição. “Seria uma honra.” Para chegar a esse objetivo, além da vontade de voltar a trabalhar com Heitor Dhalia, o tipo de trabalho no qual se espelha é o papel de Michelle Williams em Namorados para Sempre. “Gostaria muito de ter feito esse filme. Acho muito lindo, uma história de amor, de família, que é real.” Ela também anseia por “papéis diferentes, dificuldades novas, não sempre fazer o papel da menininha. Vai ser uma delícia poder experimentar algo novo, como uma personagem bem má, mas com uma maldade muito inteligente. Tipo Violência Gratuita”, conta, referindo-se ao trabalho que o diretor austríaco Michael Heneke filmou duas vezes, em 1997 e 2008.

Laura tem muito mais clareza sobre seu futuro do que a maioria de seus contemporâneos. E tanta certeza teve como embrião outro movimento aparentemente banal na vida dela: uma mudança de escola. Laura reprovou a 5ª série, quando estudava em um colégio que considera “megatradicional”. “Tinha outros valores com minhas amigas da escola. Era muito mais importante fofocar, falar do namorado, da marca, do tênis, do que a escola mesmo. Foi um período em que eu estava voltada para outra coisa e que não foi legal para mim, acabei repetindo de ano”, pondera, já a esta altura da vida, sobre o próprio passado. Os pais ficaram preocupados, e encontraram a pedagogia Waldorf, que prevê, entre outras coisas, uma educação holística. A experiência mudou Laura. “Minha escola e minha mãe foram as duas coisas mais importantes para mim, me formaram em todos os sentidos”, afirma. “A Waldorf prepara o ser humano para a vida toda. Me ajudou em tudo – como lidar com a minha carreira, para onde ir, aonde eu queria chegar, como eu queria que as pessoas me vissem.”

E ela sabe como quer ser vista. “Entendo que as pessoas me acham bonita, mas não quero que me vejam só assim.” Não que ela discorde. Laura também se considera bonita – adiciona à declaração a tradicional ressalva de que há dias e dias, mas é bom manter em perspectiva que um dia de Laura Neiva se sentindo feia é melhor do que o dia mais lindo de muita gente. Provavelmente porque é difícil encontrar o que melhorar no rosto, Laura dispensa a maquiagem – “acho que estraga a pele, e aí sim você vai mesmo precisar!” –, apesar de adorar a sensação do contato com os pincéis. Para a sessão de fotos, ela mesma prende os cabelos em um coque, sem pente nem espelho.


Então, quando quer caprichar, ela se perfuma e se inspira. “Gosto muito de me perfumar. Uso só um perfume, sempre usei esse e nunca usei outro – Narciso Rodriguez, o preto. Acho que é muito feminino.” Quem usa o mesmo perfume, Laura revela, é a atriz Débora Bloch, que ela conheceu em seu primeiro trabalho, À Deriva. “Sempre achei ela uma mulher muito bonita, e a relaciono com esse cheiro. Então, quando eu quero ficar bonita, ponho o cheiro da Débora Bloch”, diz, rindo. O encontro profissional com a atriz de 49 anos foi marcante. “É uma grande atriz, uma mulher incrível. As escolhas dela, a postura, acho tudo perfeito. Sou amiga dos filhos dela e apaixonada pela família. É elegante, bonita e tem uma autoestima grande, mas sem se achar. É como eu gostaria de ser.”

A citada elegância, surpreendente em alguém tão jovem, também está entre as qualidades que Laura não deixa de reconhecer em si mesma por falsa modéstia e que, apesar de não querer que a aprisione, é provavelmente sua característica mais reconhecível e cultivada. Não à toa, ela acaba de ser eleita pela Chanel a fidèle brasileira da marca – o título significa “fiel”, e há meia dúzia de escolhidas em todo o mundo. Na prática, Laura será convidada para eventos da marca francesa, que também a vestirá em alguns outros eventos. Como tudo na vida dela, um movimento aparentemente suave, mas de grande relevância. “Sempre tive um cuidado estético que vem de mim mesma. Acho que mais do que a roupa que você veste, é o jeito que as pessoas te veem, seu comportamento. Eu sempre tentei ser o mais discreta e educada possível”, ela diz. “E eu acredito em relações verdadeiras, sabe. Se estou falando que gosto de você é porque eu gosto de você. Acho que isso passa para o estilo, uma coisa está ligada à outra. Me considero madura, e entendo que o modo com que me visto passa isso.”

Discrição é uma dessas muitas coisas de Laura que dão trabalho danado apenas para pas sarem despercebidas. Voluntariamente, ela diz que nunca posaria nua para uma revista. Mas dá uma pirueta para desconversar sobre a existência de um convite: “Não importa, não sei”, sacode a cabeça, séria. Outra pirueta a leva a dizer que “não concordo nem discordo das opiniões” que cercavam suas declarações e enorme foto em uma polêmica reportagem na qual socialites falavam sobre a onda de arrastões em restaurantes de São Paulo. Mas antes ri muito, divertida com a saia-justa. Apesar de nenhuma fala publicada de Laura se destacar, as colegas de reportagem declaravam coisas como “se levarem uma bolsa Hermès minha, vou chorar mais do que tudo” e a matéria acabou repercutindo mal. “Havia pessoas que foram assaltadas, cada um tem uma reação”, contemporiza. “Já fui assaltada algumas vezes, é muito difícil, você fica totalmente à mercê do outro. Mas a gente acaba não vivendo se começar a pensar que não vou jantar com meus amigos hoje porque pode ter um arrastão, sabe?”, completa.

A autoconsciência é grande, mas não infinita. Magra e delicada, ela é uma menina de 18 anos – bonita daquele jeito de uma menina dessa idade, até de menos. Mas, se em algum momento acaba representando uma fantasia de Lolita para homens mais velhos ela diz que nem nota. “Eu sou bem desligada”, afirma. Profissionalmente, diz, é fácil, e nunca se pegou pensando na sensualidade de seus ensaios de fotos. “É como se eu vestisse um personagem, mas tento ficar o mais parecida comigo mesma, natural. Não ligo para essa coisa sensual que posso fazer, mas não acho que sou só isso, nem acho que as pessoas só me vejam desse jeito.” Pessoalmente, no entanto, é mais rígida. Diz, torcendo o nariz, que uma vez, e uma única vez, foi abordada por um homem bem mais velho que parecia enxergá-la do jeito que ela não quer. “Chegou até a ser meio ridículo. Levei numa boa, achei engraçado, sem chance”, conta. “Nunca me interessei, apesar de achar que quem quiser pode ficar com quem quiser, questão de idade não importa. Mas, principalmente para uma pessoa mais velha, chegar numa menina de 18, tem que existir um cuidado, um respeito, um caminho.”

O apresentador Felipe Solari, 30, deve ter acertado a rota, já que os dois namoram desde o ano passado, apesar dos quase 12 anos de diferença. E “meio” moram juntos, segundo a atriz, que descreve sua residência oficial como “um pouco com minha mãe, um pouco com meu namorado”. Aliás, os roommates de Laura, sim, têm praticamente a mesma idade. “Minha mãe tem 34 anos e meu namorado tem 30. Cheguei a pensar que um já poderia ter ficado com o outro”, brinca, enquanto faz cara de chocada. “É meu primeiro mais velho. Mas parece menos. Às vezes, eu olho para ele e digo: ‘30 anos, uau’. Ele fica superfeliz”, sussurra, fazendo lembrar que é uma adolescente. Os dois se amam e gritam para todo mundo ouvir no Twitter, que cora com os trinados de “bom dia, amor” e até simulação, via troca de mensagens, de uma cena final de filme romântico em que ele fingia invadir a pista do aeroporto e ela corria ao encontro dele quando os dois tiveram que se separar por alguns dias. Nenhuma discrição resiste ao amor.

Como se precisasse de confissão oficial, Laura admite que é “muito” romântica e, a exemplo do namoro nas redes sociais, deixa o estilo low-profile de lado e gesticula amplamente, joga os braços para o alto e faz, caricata, pose de diva de ópera para explicar o tamanho de seu romantismo. “Eu acredito em casamento que dura pra sempre, que não há idade para encontrar o amor, que seu primeiro namorado pode ser para a vida toda. Amo bilhetinhos pela casa, telefonemas no meio do dia. Faço e amo receber, amo tudo isso.” Desilusão, também, é coisa que bailarina não tem.