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P&R - Ed Motta

Cantor discute música pop sofisticada e fala sobre as polêmicas na internet

Carlos Eduardo Lima Publicado em 11/06/2013, às 14h10 - Atualizado às 19h33

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<b>APURO SONORO</b> Ed Motta, em favor da boa audição - DARYAN DORNELES
<b>APURO SONORO</b> Ed Motta, em favor da boa audição - DARYAN DORNELES

Ed Motta está feliz e realizado por lançar AOR (sigla para adult-oriented rock, ou “rock para adultos”), seu 11º disco. Com uma carreira que já bate os 25 anos, ele pode se dar ao luxo de usufruir da liberdade criativa e dar forma às suas pesquisas sobre música. AOR é fruto dessa interação entre o ávido ouvinte e o músico talentoso. Já quando comenta sobre o estado atual da música mundial e brasileira, ergue-se um espírito contestador e crítico. Em casa, estantes cheias de DVDs e uma coleção de vinis que ultrapassa as 30 mil unidades dão a Motta a segurança para se manter fiel ao que acredita ser o mais importante: a apreciação sonora. Sempre eloquente, o cantor mostra que discorrer sobre música também é um de seus maiores prazeres.

Defina o estilo AOR para quem não é inteirado em gêneros musicais.

É música pop de alta excelência, com influência de rock, soul e jazz. O ápice do AOR foi entre 1977 e 1982, assim como o soul e o rock que eu gosto, que vão de 1966 a 1975. A polidez que existe no AOR não funciona para mim no rock. Rock tem que ter excesso, gordura. O AOR é o estilo em que essa polidez se encaixa melhor. Quem fazia o AOR eram Doobie Brothers, Hall & Oates, Christopher Cross, Alessi Brothers, Earth, Wind and Fire, Gino Vanelli. Tudo isso é música pop, tocava nas rádios.

Você escreveu este disco pensando em quem?

Em quem gosta de música. E sempre faço discos com a minha própria audição em mente, algo que me agrade escutar. Sou um ouvinte assíduo de discos, viciado. Eu costumo escutar meus próprios trabalhos. Existem artistas que dizem que não escutam seus discos, mas eu escuto. Principalmente quando acabo, ouço bastante. Fiz um disco que, acho eu, reúne um pouco de tudo o que eu já fiz. É pop, não é hermético.

Como você avalia a produção musical de hoje?

Isso é cíclico. Fica um hiato esquisito, vivemos um clima meio “nostradâmico”, uma inversão de valores total, mundial, um vazio criativo que já dura cerca de 20 anos. As pessoas acham que o Ed Motta é um chato, que só gosta de coisa técnica; elas não sabem que eu tenho disco do Echo and the Bunnymen em casa, cujo baterista era péssimo. Elas não sabem que eu tenho disco do Cure em casa. Se você chega para o Robert Smith e pede: “Querido, dá um ré menor aí”, ele não vai fazer.

Você acha que estamos indo para o esquema do “quanto pior, melhor”?

A maioria sempre preferiu o pior. Sempre. Isso não é inédito, o ser humano sempre escolheu errado, não é privilégio dos nossos tempos. Isso piorou e há uma junção hoje nessa nova geração nacional. Eu não vivi os anos 70; nos anos 80 vieram aquelas bandas de meninos ricos, filhos de pessoas com grana, políticos e, em seguida, nos anos 90, apareceram as bandas e os artistas supermercantilistas, com a visão comercial muito clara. Neoliberais, com uma clareza de visão sobre o produto.

E hoje...

Bom, hoje você tem um monte de gente que só atrapalha quem faz música, porque elas não ficam ricas e também não fazem música. Na hora que um sujeito desses vai marcar um show no Sesc, podem deixar de contratar um show meu pra marcar uma dessas coisas aí. Não vão pra lugar nenhum, não irão. A música é arte, tem que ser levada a sério.

Então, está difícil lidar com as coisas no Brasil?

A impressão que você tem ao participar da cultura de hoje é perceber que as coisas morreram. Não participo de nada do que acontece hoje. Eu não leio jornal, não leio revista, não participo. Passo mal. Houve um tempo em que eu assinava cinco jornais e eu nunca li nada que não fosse cultura e arte. Quando vejo alguma coisa que odeio sendo incensada como algo que tem algum valor, vou à loucura completamente. Melhor não ler.

Como você encara essas polêmicas em que se mete nas redes sociais?

Todo mundo está achando tudo perfeito. Eu não sou Darth Vader, eu sou o Luke Skywalker: só ataco o que é do mal. Mas eu tenho um comportamento Darth Vader. Tem porrada, tem polêmica, mas é em defesa de algo que eu acredito. Sempre dizem que eu sou invejoso e tal. Eu sou a mesma pessoa de sempre, falo as mesmas coisas que sempre falei.