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Questão Diplomática

De Tóquio, dias antes de chegar ao Brasil para uma apresentação no clube Glória, em São Paulo, o dj e produtor norte-americano Diplo tenta explicar por que ele gosta tanto da nossa música

Ademir Correa Publicado em 16/08/2007, às 16h23 - Atualizado em 31/08/2007, às 14h52

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Diplo, eclipsado: para ele, o funk carioca ainda é revolucionário - Ben Harris/Divulgação
Diplo, eclipsado: para ele, o funk carioca ainda é revolucionário - Ben Harris/Divulgação

Você é um dos grandes incentivadores da carreira internacional de bandas brasileiras como a Cansei de Ser Sexy e a Bonde do Rolê, além de ter um interesse especial pelo funk carioca. O que o atrai na nossa música?

É essa mistura. Fiquei particularmente surpreso com a Cansei de Ser Sexy porque eles fazem esse mix de estilos, a banda tem uma atitude sexy e punk rock ao mesmo tempo, entende? Não sei se existem outros grupos como o CSS, mas só o Brasil conseguiria fazer algo assim porque vocês têm essa herança africana e européia. Copiar a música norte-americana é uma coisa obsoleta.

É bacana ser considerado o "antropólogo das subculturas cariocas" (ele está finalizando um documentário, Favela on Blast, sobre o funk carioca)?

Acho que o Hermano Vianna [antropólogo, autor dos livros O Mundo Funk Carioca e O Mistério do Samba, Editora Jorge Zahar] é quem merece esse título, mas fico feliz porque as pessoas respeitam meu trabalho e conseguem entender que estou tentando trazer mais atenção para o que é feito no Brasil. Acredito que o funk carioca, por exemplo, estoura mais rápido no exterior porque os brasileiros ainda têm preconceito por ritmos que vêm das periferias. É como aconteceu com o hip hop nos Estados Unidos nos anos 80. Mas hoje essa cultura já está nos norte-americanos, existem rappers em todos os estados. Até a música country já está tendo essa influência.

O funk carioca é realmente uma revolução musical?

Sim, da mesma maneira que foi o hip hop em 1981. O funk carioca, por exemplo... Nenhum outro ritmo deu tanta voz a uma cidade e isso pode ser considerado uma revolução. É um som que vem da periferia e as pessoas se orgulham ao dizer que são funkeiras, isso é muito bacana. Se o funk carioca não existisse, eu estaria em outro lugar procurando um som tão interessante como esse.

O que você sabia de música brasileira antes de vir para cá?

Eu sou um aficcionado por vinis antigos. Tinha uma época em que eu acordava super-cedo e ia aos sebos e garagens à procura de clássicos. Nessa busca, encontrei músicas de Tom Zé, Jorge Ben Jor... Também conheci o som do [músico e compositor carioca] Marcos Valle, de que particularmente gosto muito, ele é estranho, loiro... E, claro, sou fã do Sepultura.

Você viaja muito. Além do funk brasileiro, quais outras cenas musicais destacaria hoje?

Quem fala português deve prestar atenção em Angola e Moçambique, é muito louco o som que está sendo feito lá hoje. Também aprecio sonoridades tipicamente latinas como a salsa, a cumbia, a champeta, que estão passando por mutações interessantíssimas nas mãos de jovens e seus computadores...

Além da música, o que mais influencia seu trabalho como DJ e produtor?

As mulheres, é claro.