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Revolta Permanente

No future for you! Há 40 anos, os Sex Pistols detonavam a explosão do punk - e você vive os resquícios disso até hoje

Paulo Cavalcanti Publicado em 18/05/2017, às 19h54 - Atualizado às 19h57

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<b>40 Anos da Explosão do Punk</b>
<b>40 Anos da Explosão do Punk</b>

Não interessa a sua idade. não importa se você é liberal, radical, conservador, anarquista, alternativo ou feminista. Se você respira hoje, então algum aspecto da sua vida passou pela cultura punk. Mesmo não ouvindo a música ou não conhecendo quem fez parte dessa frente, ninguém escapou, direta ou indiretamente, da força intelectual, estética e cultural do movimento que rachou o mundo ao meio.

O punk nunca foi necessariamente sobre posições políticas à esquerda ou à direita. Muitos skinheads se apoiavam no neonazismo (e o punk original possuía um fetiche equivocado por adereços hitleristas, como a suástica), enquanto bandas como The Clash perseguiam ideais igualitários e humanistas. Mas o espectro político e social do punk é algo muito mais vasto. Hoje não é mais uma ameaça à moral e aos bons costumes, já que muitos desses muros próprio movimento ajudou a derrubar. Também não é cultura retrô irrelevante, uma busca por algum tipo de nostalgia saudosista.

O cerne do punk é a rebeldia. Rebelar-se ante o que lhe é imposto contra sua vontade. Ser punk significa viver sob os próprios termos.

Celebramos quatro décadas da explosão definitiva do punk, tendo como ponto de partida o momento em que os Sex Pistols deram um soco nas instituições da velha Inglaterra. Pela primeira (e talvez única) vez uma banda de rock causou tamanho caos social em um país. É importante retratar esse momento: é história, tanto do rock quanto da sociedade moderna. Pergunte a algum inglês que hoje tenha 60 anos. Para ele, talvez seja algum tipo de melancolia indulgente se lembrar de gente usando corte de cabelo moicano, roupas esfarrapadas e com tachinhas e alfinetes, tocando músicas de três acordes de bandas cujos integrantes cuspiam no público. Anos mais tarde, quando um gaiato anônimo começou a grafitar a expressão Punk’s Not Dead (O Punk Não Morreu) por Londres, inspirado na capa do LP homônimo de 1981 do The Exploited, havia muita verdade ali. Nada mal para um movimento cuja banda mais infame e que efetivamente apertou o gatilho para a revolução durou pouco tempo. E que ainda clamava não haver futuro nenhum.

Mas é bom lembrar que em todos os espectros da cultura de massa, seja na música, no cinema, seja na moda, é preciso que as partes que irão formar o todo se unam de maneira orgânica. É também necessário que haja um big bang. No caso do punk rock, a fagulha distante e primária se acendeu quando Elvis Presley apareceu na televisão norte-americana, nos anos 1950, mexendo os quadris de forma sedutora. O cantor foi considerado indecente e corruptor da juventude. Assim, o rock supostamente passou a ser a trilha sonora dos delinquentes juvenis, um ponto de ruptura entre “eles” e “nós”. Ao longo das décadas, o rock mudou, e com ele a sociedade.

Nos anos 1960, a música foi considerada uma utopia válida e transformadora. No entanto, aquela década acabou em violência, mortes e desencanto. Algo impactante como o punk só poderia ter aparecido em um tempo tão tortuoso e propenso a mudanças radicais quanto os anos 1970.

Nos Estados Unidos, já preparando o terreno, a segunda metade da década de 1960 e a primeira da seguinte trouxeram a explosão das bandas de garagem (The Standells, Count Five, The Music Machine, The Shadows of Knight), a vanguarda marginal do Velvet Underground, a fúria primal dos Stooges e do MC5 e a paródia stoneana esculachada do New York Dolls. Foram os Ramones, no entanto, que efetivamente começaram a espalhar o que se chamaria de música punk, em 1976, lançando canções curtinhas e poderosas que poderiam ser tocadas mesmo por quem não tivesse técnica ou experiência musical.

Paralelamente, Patti Smith e Television davam um verniz artístico e intelectual à cena. A insatisfação de todos eles tinha a ver com o momento musical vigente. Era uma alergia a uma indústria milionária e elitista que só aceitava sons suaves criados em estúdio. Era também uma reação aos excessos pretensiosos do rock progressivo. Eles queriam resgatar a essência do estilo de farra, diversão e rebeldia dos primórdios do rock and roll. Mas faltava um elemento de perigo ao punk norte-americano; o caos social e a revolta nas ruas não eram fatores de fato levados em conta nesse panorama.

Um inglês perdido na América chamado Malcolm McLaren, mistura de empresário, agitador cultural, provocador, anarquista e oportunista, viu no New York Dolls uma chance de usar a tática do choque. Tornou-se empresário deles e passou a vesti-los com roupas do Exército Comunista Soviético. A rejeição foi enorme, a banda era escorraçada onde quer que fosse. McLaren só perdeu dinheiro com a aventura, mas aprendeu alguns truques em sua empreitada nos Estados Unidos. O guitarrista Johnny Thunders, do New York Dolls, chamou o empresário de “o maior vigarista de todos os tempos”. Em suas intermináveis maquinações, McLaren entendeu que o punk era uma massa de contradições políticas, sociais e musicais. O rock and roll era a única cultura com a qual os jovens se importavam e, nessa equação, o apelo sexual era primordial. Ele também inseriu outro fator na fórmula: a violência.

Não deixa de ser irônico que o punk inglês tenha começado com uma “cultura fake”, um mero produto das aspirações estéticas e fashionistas de McLaren. Quando voltou a Londres em meados de 1975, ele abriu uma loja de roupas e acessórios chamada SEX, localizada na região de Chelsea. Lá, vendia modelos com apelo sadomasoquista, criados pela namorada e colaboradora, Vivienne Westwood, uma artista e designer genial que capturou de forma instintiva o autêntico look das ruas. Um tal de Glen Matlock foi trabalhar na loja e McLaren descobriu que ele era um baixista amador. Junto aos amigos Paul Cook (bateria) e Steve Jones (guitarra), ele queria formar uma banda. O empresário os acolheu e financiou o projeto, achando que seria uma boa propaganda para a loja e seus empreendimentos.

Faltava um frontman para liderar o saco de gatos. O eleito foi um rapaz pálido, de dentes podres e usando uma camiseta esfarrapada do Pink Floyd com a inscrição EU ODEIO rabiscada em cima. O nome dele era John Lydon. “Era o que queríamos: um frontman lunático. Ele não sabia cantar, mas para nós não havia problema: também estávamos aprendendo a tocar”, recordou o baterista, Paul Cook. No teste, Lydon balbuciou a letra de “I’m Eighteen”, de Alice Cooper. Foi rebatizado de Johnny Rotten por Jones. Aos poucos, os músicos

amadores ganhavam alguma cancha.

O quarteto conseguiu um contrato com a gravadora EMI e lançou o single “Anarchy in the U.K.” em novembro de 1976. Chegou apenas à 38ª posição nas paradas, com pouca rotação nas rádios. Em 1º de dezembro, a banda apareceu no Today, programa de variedades apresentado por Bill Grundy; a situação quase acabou em briga, com os integrantes detonando uma avalanche de palavrões e se estranhando com o embriagado apresentador de meia-idade. A confusão foi parar nas primeiras páginas dos jornais – o Daily Mirror usou a célebre manchete “The Filth and the Fury!” (O Lixo e a Fúria). Havia comentários negativos, mas para algumas pessoas não era nada que os Rolling Stones não tivessem aprontado antes.

Chegou, então, o momento crucial para os Sex Pistols e para o punk como um todo. O ano de 1977 marcava o jubileu de prata da rainha Elizabeth II, quando o país se enfeitou com as cores da Union Jack, a bandeira inglesa. O velho orgulho do Império “onde o sol nunca se punha” havia voltado. Era o momento perfeito para McLaren sabotar as festividades patrióticas britânicas e finalmente mostrar a que os seus pupilos vieram. O momento de virada de que o punk inglês necessitava estava prestes a acontecer. No dia 27 de maio daquele ano, os Pistols lançaram o single “God Save the Queen”. Se até então a sociedade em geral procurava ignorá-los, achando que eles eram apenas uma versão mais boca-suja dos Rolling Stones, desta vez não era mais possível. “God Save the Queen” chegou à massa, e mesmo sem execução nas rádios alcançou o segundo lugar das paradas – alega-se que só não ocupou o primeiro por causa de um boicote por parte da indústria fonográfica inglesa.

Na letra, Rotten vomitava que o governo da rainha “era fascista” e que a monarca “não era um ser humano”. Os mais velhos e conservadores se sentiram extremamente ofendidos com o duro ataque à senhora que representava a monarquia e as instituições. Quando o cantor bradava “Nenhum futuro para vocês”, estava apenas constatando a realidade. A Inglaterra da década de 1970 passava por um caos social real, uma humilhação para um país que já havia dominado boa parte do mundo. Depois de todo o otimismo ocorrido nos anos 1960, quando os ingleses viveram um tempo de estabilidade financeira, cultural e política, a década seguinte foi de desilusão. Era um tempo de inflação alta, desemprego, greves, sujeira nas ruas, violência e hooliganismo. Só em 1976, cerca de 100 mil jovens terminaram o segundo grau para encarar uma vida sem emprego e nenhuma perspectiva. E o punk era o espelho partido dessa condição.

Em “Anarchy in the U.K.”, Johnny Rotten cantou: “Eu sou um anticristo, eu sou um anarquista”. Nem todos prestaram atenção à provocativa mensagem. Mas com o impacto causado por “God Save the Queen” essas palavras voltaram com força para lembrar que os Sex Pistols representavam o perigo.

Os integrantes foram considerados inimigos públicos nacionais. Hotéis e restaurantes se negavam a servi-los. Eram perseguidos nas ruas. No mês de lançamento de “God Save the Queen”, Johnny Rotten e Paul Cook foram parar no hospital, atacados por gangues de “patriotas”. Mas eles não baixavam a cabeça e partiam para o confronto. Impulsionados pelo quarteto, os jovens ingleses respondiam na mesma moeda quando se sentiam ofendidos e repelidos. E havia também o contexto racial. O punk abriu um vespeiro e impulsionou a revolta da população negra e dos imigrantes, que eram sempre marginalizados.

Foi uma das primeiras vezes que nasciam astros do rock que não eram considerados símbolos sexuais – era a postura que importava. Em seu primeiro grande perfil publicado no semanário musical Melody Maker, Johnny Rotten definiu a questão: “Sexo... ah, isso é tão fácil hoje em dia. Eu não acredito em amor, e nunca vou acreditar. Você só precisa de amor... Esse é outro mito criado nos anos 1960 para vender discos. Amor é algo que você sente por um cachorro ou gatinho. Não se aplica aos humanos.”

A mensagem dos novos párias do rock era diferente. Se os norte-americanos Patti Smith, Television e Lou Reed faziam questão de se mostrarem como herdeiros de Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, os Sex Pistols achavam que poetas mortos eram apenas velhos inúteis. A mesma opinião valia para outros ícones do rock. De Elvis a Led Zeppelin, todos eram desprezados. “Nós estamos interessados em caos, e não em música”, disse Johnny Rotten. As apresentações do quarteto eram feitas de cacofonia. Os locais dos shows eram depredados e os equipamentos destruídos. Anarquia na Inglaterra, sem dúvida.

Mesmo falando que a música para eles era secundária, os Sex Pistols entraram em estúdio para gravar o primeiro álbum. Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols foi lançado no dia 28 de outubro de 1977. Um pouco antes disso, mais um personagem apareceu nessa estranha saga: John Simon Ritchie-Beverly, que ficou mais conhecido como Sid Vicious. Naquele período, o grupo começou a se desentender com o fundador, Glen Matlock. “Ele queria que a gente fosse uma banda que divertisse as pessoas – como os Beatles!”, disse Rotten, horrorizado. Mesmo sem saber tocar nada, Vicious foi convocado para tomar conta do baixo. A contribuição dele ao álbum foi praticamente nula. O guitarrista, Steve Jones, gravou as partes de baixo nas faixas. Com sua icônica e influente capa, o disco foi uma carta de intenções – canções como “Pretty Vacant”, “Holidays in the Sun” e “No Feelings” exemplificavam o estado de anarquia vigente.

Com Never Mind the Bollocks nas lojas, os Pistols diziam que queriam mais bandas como eles. E conseguiram: em pouco tempo havia dezenas de bandas punk em Londres gravando por selos independentes, vendendo os discos nos shows ou então pelo correio. Qualquer um tinha condições de tocar aquele tipo de música. E foi justamente isso o que aconteceu: nas garagens, nos becos e em clubes mambembes britânicos, surgiam novas bandas a cada dia. Nem todas duraram, mas era um caminho sem volta.

Musicalmente, os Sex Pistols queimaram de forma rápida e intensa. Porém, um mito havia sido criado. Quando a farra acabou de forma infame em plena turnê norte-americana, em janeiro de 1978, Johnny Rotten retornou a Londres e voltou a usar o nome de registro, John Lydon. Nunca mais quis que o chamassem pelo apelido que o eternizou em sua encarnação punk. Com sua nova banda, o Public Image Ltd (ou PiL), se voltou para um som industrial, usando também elementos de world music. Em 1980, quando o punk original já havia dado uma esfriada, ele declarou à revista New Musical Express: “O rock and roll acabou, você não entende? Durou por 25 anos e teve que ser cancelado. Nós [os Pistols] acabamos com ele”.

O The Clash foi o outro lado da moeda diante dos Sex Pistols. Para muita gente, Joe Strummer e cia. foram a grande banda punk, superior aos Pistols. Musicalmente, eles eram bem mais diversificados e ecléticos, colocando em seu som reggae, rockabilly e ska. Os integrantes do The Clash apareceram não para ficar famosos, ganhar dinheiro ou destruir o sistema. Eles vieram para fazer a diferença. Se os Rolling Stones cantavam em “Street Fighting Man” que um pobre garoto não poderia fazer muita coisa na vida além de tocar rock and roll, a banda liderada por Strummer, filho de um diplomata, mostrou que sim, os garotos tinham potencial para fazer muitas outras coisas. Para eles, o estilo musical tinha condições também de virar uma arma política e social focada e com uma agenda. Se os Pistols atuavam como vândalos, os integrantes do The Clash agiam como guerrilheiros da resistência, sempre buscando uma causa pela qual valesse a pena lutar. Eram honestos e não estavam interessados em simbolismo e implicações metafísicas. Quando o The Clash lançou o colossal London Calling naquela virada da década de 1970 para a de 1980, os princípios deles foram consolidados. Eles servem de exemplo até hoje para ativistas de diferentes esferas.

Quando a poeira do punk original baixou, talvez tenha restado uma ressaca, mas também um novo panorama musical e social pôde ser vislumbrado. A conservadora Margaret Thatcher foi eleita primeira-ministra em 1979 e toda uma atmosfera mudou na Inglaterra. Chrissie Hynde, futura líder do The Pretenders, era uma observadora atenta daquela cena e viu que até o punk tinha virado modismo. “No começo, eu me lembro, o Johnny Rotten andava por Londres com uma jaqueta vagabunda cheia de alfinetes e mostrando o dedo do meio para as pessoas na rua. Ele tinha prazer de insultar particularmente aqueles que considerava hippies”, ela apontou anos mais tarde em uma entrevista ao jornal Melody Maker. “Uns quatro anos depois, havia pessoas circulando com alfinetes e usando toda aquela parafernália punk. E eram justamente aquelas pessoas que antes o Johnny gostava de ofender.”

Johnny Rotten quis cancelar o rock, mas ironicamente fracassou na missão. A década de 1980 foi justamente uma das eras mais criativas e febris da história da música popular e toda essa efervescência e inovação foi fruto da liberdade estilística gerada pelo punk. A música e a atitude dos pioneiros estiveram em todas as vertentes sonoras. O punk se fez presente em bandas dark e góticas, como The Cure, Smiths e The Jesus and Mary Chain. Infiltrou-se no synth pop do Joy Division. Foi ingrediente integral da new wave e do post-punk. Esteve presente na postura grandiloquente de estádio do U2. Até mesmo no heavy metal o punk deixou sua marca. A turma da New Wave of British Heavy Metal adotou a postura de autossuficiência do “faça você mesmo” das bandas dos anos 1970. O Guns N’ Roses, formado pelos reis do excesso, ouviam punk. A homenagem ao estilo está no subestimado “The Spaghetti Incident?” (1993), em que regravaram Dead Boys, U.K. Subs, The Damned, Misfits e outros ícones. O punk também foi elemento marcante no riot grrrl, embebido pelo feminismo, e na atitude do grunge.

O punk rock tem uma capacidade notável de se reinventar e de se regenerar. Nos Estados Unidos, o movimento surgiu originalmente em Nova York, fruto de uma onda cultural e artística que estava incutida no underground da cidade. Era difícil acreditar que a grande segunda onda do movimento iria florescer justamente na ensolarada, praieira e cuca-fresca Califórnia, com artistas sendo agraciados com discos de ouro e de platina. As tatuagens as pranchas de skate e os cabelos tingidos

dos californianos se tornaram tão icônicos para a estética do punk quanto os moicanos e os coturnos dos britânicos e as jaquetas de couro usadas inicialmente pelos nova-iorquinos.

Historicamente, o som punk já dava a cara na Califórnia desde a década de 1970. Apesar de ser uma cena intensa e diversificada, a fragmentação e o descompromisso dos artistas garantiam que o impacto fosse apenas local. Havia nomes que faziam um som militante, como Black Flag e Dead Kennedys, e que se tornaram conhecidos. Mas o que eles menos queriam era o estrelato e tocar nas rádios. Na década de 1980, as coisas começaram a mudar. O DNA do punk já estava infiltrado na música pop. E ainda houve a mistura sonora do estilo com ska, reggae, surf music e outras vertentes. O punk foi adotado por skatistas, surfistas e gente interessada em uma vida e cultura alternativas. Com o advento da MTV, houve uma visibilidade para os novos artistas, como Bad Religion e Rancid. Quando chegou a década de 1990, o caminho já estava devidamente preparado.

No momento em que o Green Day estourou em 1994 com Dookie, o punk da Costa Oeste virou um negócio milionário. Logo vieram astros como Offspring, que fez sucesso com Smash (1994), e Blink-182, emplacando Cheshire Cat (1995). Puristas torceram o nariz para esse tipo de punk, aparentemente feito para adolescentes que gostavam apenas de farra. Mas as canções desse período também eram pertinentes e eficazes, radiografando de forma realista a juventude da época. O punk pop ajudou a abrir uma caixa de Pandora. Muitos garotos descobriram uma grande e rica subcultura, cheia de ideias e possibilidades.

Hoje, o punk pode não ter mais o poder de chocar – afinal, o que hoje consegue provocar choque dentro do âmbito da cultura pop? Ainda assim, segue como um caminho de autoexpressão, resistência, independência e com a crença de que sempre existem alternativas fora do status quo.

In Loco

Em 1977, a Rolling Stone EUA cruzava o oceano para tentar entender o punk inglês

Enquanto o caos reinava em Londres, aos poucos os norte-americanos tomavam conhecimento do que acontecia lá. O repórter Charles M. Young foi à Inglaterra para ver o que estava acontecendo na terra da rainha. A matéria de capa foi publicada pela Rolling Stone EUA na edição 250 (outubro de 1977), com o título “Rock Is Sick and Living in London” (O Rock Está Doente e Vivendo em Londres) e apresentou para o público norte-americano os Sex Pistols e o punk britânico. Na longa, detalhada e hilariante reportagem, Young frequentou os clubes londrinos e conheceu os integrantes da banda. Ele achou que Paul Cook e Sid Vicious eram tímidos. E Johnny Rotten, para o jornalista, era mais uma figura burlesca e provocadora do que propriamente uma encarnação do anticristo.