Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Tristeza Não Tem Fim

Wado se finge de alegre para explorar contradições

Alex Antunes Publicado em 08/07/2008, às 15h01

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Wado: Agora sozinho, músico lança quarto disco melancólico com animação disfarçada
Wado: Agora sozinho, músico lança quarto disco melancólico com animação disfarçada

Se dependesse do release divulgado para a imprensa, o quarto disco do catarinense-alagoano Wado, Terceiro Mundo Festivo - Brazilian Eletro/ Funk/ Disco/ Reggaeton/Afoxé, seria um "compêndio de ritmos animados e composições solares". Nada disso. Apesar dos enfeitinhos eletrônicos e ênfases percussivas, e do quase sumiço dos violões nos arranjos (mas tem pianos, cellos e flautas), este é mais um álbum de puro... Wado. Quer dizer, um acréscimo ao rico repertório de canções com aquele toque de melancolia, uma profundidade e um encanto característicos de um dos grandes compositores brasileiros que surgiram na esquina da MPB com o indie rock. "Nós, artistas de classe média, nunca conseguiríamos fazer música festiva com a competência dos caras periféricos", confessa o músico de 31 anos.

Na verdade, o disco é o balanço de uma fase esquisita, inaugurada quando Wado fraturou um osso da mão, em uma queda. Voltou para Maceió, para ser operado, depois de um bom período entre São Paulo e Rio de Janeiro, onde estava estabelecido. Para completar, rompeu com suas bandas, Rea-lismo Fantástico e Fino Coletivo. Talvez por isso ele tenha criado esse conceito de "felicidade periférica" (que articula com o título do álbum anterior, A Farsa do Samba Nublado, de 2004, uma espécie de enigma ou paradoxo). "Eu mesmo não sei o que é, mas acho diferente do último", especula sobre o disco. "Aquele era meu embate com São Paulo, com o céu nublado, o ambiente urbano."

"Este novo disco tem umas nuances, é tecnicamente muito bem gravado, acima dos outros", complementa Wado. O pseudofunk "Teta" é a demonstração perfeita dessa "farsa do som alegre": apesar das programações safadas e da letra quase pornô, é pura inquietação existencial. O samba "Fortalece Aí" estabelece uma improvável ponte filosófica entre Martinho da Vila e Walter Franco. Antítese da felicidade fake das micaretas, Terceiro Mundo tem uma certa qualidade paradoxal da MPB do início dos anos 70 - antes que o país se convertesse em clichê.