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Um Cara Diferente

Tom Hanks consegue fazer piadas na fila do banheiro e, depois, dar posse a um presidente. Um dia qualquer na vida de um ícone norte-americano

Josh Heells | Tradução: Ligia Fonseca Publicado em 13/12/2012, às 16h20 - Atualizado às 16h22

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<b>PREPARATIVO</b> Hanks em foto recente, já com o bigodinho para encarnar Walt Disney em Saving Mr. Banks - Sam Jones
<b>PREPARATIVO</b> Hanks em foto recente, já com o bigodinho para encarnar Walt Disney em Saving Mr. Banks - Sam Jones

Tom Hanks tem um problema com seu camarim. O ator, ganhador de dois Oscars e um verdadeiro tesouro nacional, acabou de chegar aos bastidores da Freud Playhouse na Ucla, arrastando uma sacola de viagem em cada mão com a esposa, Rita Wilson, atrás dele. Faz 35 anos que Hanks começou a ganhar a vida em um lugar como esse – um teatro com 567 lugares cuja última grande produção foi uma encenação feita por alunos de A Chorus Line – e, embora tenha a reputação de ser uma pessoa simples e pé no chão, ele também está acostumado com o conforto – algo adequado à sua posição como alguém que janta com primeiros-ministros e toma café da manhã com presidentes. Portanto, quando vê o pedaço de papel grudado na porta do camarim minúsculo que ele e Rita devem dividir e franze a testa, seu rosto diz que há um problema.

Quando encontra um assistente, Hanks não faz 2 rodeios. “Olha, este camarim”, diz, ainda segurando as sacolas. “Não precisamos de um só para nós. Dê para outra pessoa! Podemos compartilhar – com meninos e meninas.” Então, um sorriso malicioso: “Entende – ela com os meninos, eu com as meninas”.

Achou que ele iria reclamar? Este é o Tom Hanks. O Cara Mais Legal do Show Business. O Queridinho da América. Sim, recentemente virou manchete no Festival Internacional de Cinema de Toronto quando, durante uma coletiva de imprensa para seu novo filme, A Viagem, o épico de ficção científica dos diretores de Matrix que se passa ao longo de vários séculos, Hanks detonou os organizadores por conduzirem suas “celebridades por um curral como se fôssemos bois a caminho do abatedouro”. Só que, quando alguém tem a reputação de ser tão legal que uma queixa mínima como essa é considerada um escândalo, isso significa que provavelmente ele é uma pessoa incrível.

A ascensão de Hanks ao estrelato foi notável. Dizem que ele é antiquado – um tipo Norman Rockwell que ficaria à vontade em um filme de Frank Capra. Mas na última década ele também se tornou a real consciência norte-americana, o professor legal de história que conta casos sobre quem imaginamos ser. Hanks cresceu no final dos turbulentos anos 60. Sua reação não foi se tornar cínico em relação ao seu país, mas sim adotar as coisas boas dele. Parece alguém que vem de uma cidadezinha – honesto e sem ceticismo. Os filmes que Hanks estrela e produz dizem respeito ao passado, ao futuro, ao melhor caráter dos Estados Unidos. Ele leva esse papel a sério. “Acho este país muito bom”, diz. “Não me sinto responsável por promover algum tipo de pauta, mas há algo na força de vontade e disposição de fazer as coisas que só nós temos. Isso não é ufanismo nem nos torna melhores do que ninguém – mas, quando os norte-americanos se concentram em alguma coisa, ela acontece.”

Hanks está na Ucla para um evento beneficente para o Shakespeare Center de Los Angeles, uma organização sem fins lucrativos comandada por seu amigo Bem Donenberg. Todo ano, ele e Rita reúnem uma dezena de amigos atores – Billy Crystal, Martin Short, William Shatner – e montam uma das comédias do bardo. Este ano, é Sonho de uma Noite de Verão, que encenam como um musical psicodélico dos anos 60 cheio de camisetas tie-dye e músicas da época. Eles se encontram na hora do almoço, fazem uma leitura e uma prova de figurino e se apresentam, algumas horas depois, para pessoas que pagaram até US$ 1.000 por ingresso.

Hanks tem 56 anos e ainda parece um astro do cinema – nada mau para alguém que já se descreveu como tendo “uma bunda enorme e coxas grossas... um nariz estranho, orelhas enormes, olhos que me fazem parecer quase chinês e... uma barriguinha que tenho de vigiar”. Sentado na área externa usando uma camisa polo azul, jeans e botas marrons, a coisa menos favorável nele é seu novo bigode – fino, que ele não consegue parar de tocar, como se estivesse prestes a descolar. “Porcaria de bigodinho”, reclama. Está deixando crescer para viver nada menos do que Walt Disney em Saving Mr. Banks. “E, assim como a Disneylândia”, compara, “meu bigode nunca vai ficar completo.”


É óbvio por que às vezes Hanks é chamado de Prefeito de Hollywood. Ele adora cumprimentar, conversar, falar besteira. Mas o ator diz que é mais um cruzamento entre vice-diretor com palhaço da classe. Ele vai ao banheiro fazer xixi. Enquanto ainda está fechando o zíper, William Shatner caminha pelo corredor ensaiando suas falas da música “California Dreamin’”. Shatner declama a letra do clássico do The Mamas and the Papas em sua cadência inconfundível (“Stopped... into... a church...!”). Hanks se vira para o mictório ao lado. “Aquele cara”, sussurra, “é um baita gênio.”

Falar com as pessoas sobre Tom Hanks é um exercício em fadiga por elogios. Seu amigo Martin Short diz que ele é “um cara muito educado, encantador, expressivo, com uma mente fértil e ativa”. A amiga Meg Ryan fala que ele é “tranquilo, divertido, fácil de conviver, inteligente e coerente”. Converse com alguns amigos famosos de Hanks – na verdade, todos são famosos – e você começará a se sentir como Julia Roberts há alguns anos, quando ela recebeu a tarefa de discursar perto do final de um tributo a Tom Hanks e resumiu tudo: “Bom, já está tarde e estou pagando hora extra para a babá e tenho de ir ao banheiro, então: Tooooooodo mundo adora você pra caralho”.

Mesmo assim, passe algum tempo perto dele e uma imagem mais completa começa a surgir. Primeiro: ele é louco por atenção. Também adora provocar risadas. No set de A Viagem, ao final de um dia longo, Hanks fez toda a equipe se contorcer de rir ao recitar suas falas em qualquer estilo que pedissem: como Al Pacino, Tennessee Williams, Tolstoi ou Frankenstein. Segundo: ele pode ser um pouco babaca. É como dizer que Papai Noel odeia crianças, mas Hanks admite que é verdade. “Posso ser ríspido”, confessa. “Já tive reuniões nas quais estraguei tudo simplesmente por abrir a boca.”

Na peça de Shakespeare na Ucla, Hanks faz um dos mecânicos, os seis atores amadores que encenam uma peça dentro da peça. É Nick Bottom, o piadista da trupe. Ele o representa de forma comicamente exagerada – como um chapadão tipo Lebowski que pontua as frases com um alegre “caaaaaara” – e extrai o máximo da cena de sua morte. Em um momento, supera até Shatner, o que é notável. O resto é uma bagunça. No final do espetáculo, está tudo derrubado, e o roteiro de Hanks está se desfazendo. Ele rasga a metade superior e a joga do outro lado do palco: “Porcaria de Shakespeare!” O público enlouquece.

É raro ele se soltar assim. Algo que o incomoda é quando dizem que ele representa sempre o mesmo personagem – variações de “Tom Hanks”. “Quando filmamos Estrada para a Perdição”, conta, “os comentários eram: ‘Você sempre faz um cara bonzinho’. Mas eu dou um tiro na cabeça de alguém! ‘Sim, mas é pelos motivos certos’. Em À Espera de um Milagre, sou um policial do corredor da morte – frito umas três pessoas. ‘Sim, mas você fez isso para se aprimorar’.”

Eis um dia típico para Tom Hanks, de acordo com ele: “Primeiro, chuto a cachorra para fora do quarto. Temos uma pastora branca, Cleo, que me acorda lambendo a minha mão e me cutucando com o focinho. Ontem ela acordou às 6h30, então também acordei às 6h30. Liguei a cafeteira, abri o jornal e quando minha mulher chega à cozinha já estou animado”. Todos os filhos saíram de casa: o caçula, de 16 anos, frequenta um externato – escolha dele, como Hanks explica: “Não o mandamos para lá – então não tenho responsabilidades. Agora, é só eu e a esposa. Lemos o jornal, faço exercícios. Faço ginástica assistindo à gravação do programa do Dave Letterman – ele é meu cronômetro, sabe”.


O astro segue: “Era Yom Kippur [feriado judeu], tudo estava fechado, então voltei para casa e assisti a Minha Adorável Lavanderia, que nunca tinha visto. Aí chegou a hora da janta. Sem os filhos, não há regras, então saímos muito, encontramos os amigos, mas ontem à noite eu e a esposa jantamos em casa assistindo à BBC News e à NBC News e um episódio de Vegas. Depois, ela cuidou de algumas coisas enquanto assisti a Corações e Mentes. Só que eu pequei. Embora não seja judeu, na minha cabeça expio um pouco da minha culpa pelas grandes confusões. Sou um babaca às vezes e não vejo meus filhos o suficiente, e posso ser... posso ser bruto. Mas cuidei disso em alguns minutos e agora me sinto ótimo. Depois, escovei os dentes, fui para a cama, li um pouco de Os Espiões de Varsóvia, de Alan Furst, e fui dormir. E esse foi meu Yom Kippur”.

Um dos grandes temas em A Viagem é a maneira como pequenos momentos atravessam o tempo e têm grandes consequências. Tomando café da manhã em Nova York (ovos mexidos, salmão defumado, alcaparras, torradas, suco de toranja), Hanks pondera sobre o tema. “Se você começar a juntar as conexões entre onde estávamos e onde terminamos”, diz, “puxa, qualquer coisa que ficar fora disso fará uma diferença enorme. Por exemplo, se eu tivesse sido chamado para um espetáculo em Sacramento, nem teria começado com esse negócio todo de atuar.”

Hanks é bom em ser famoso. Ele nunca jogou um telefone longe, nunca pulou no sofá, nunca teve um colapso nervoso nem um vexame – e há mais de 25 anos, está não apenas constantemente sendo observado, mas sorri o tempo todo. Ser famoso o agrada. Ele fica muito bem com isso.

Apesar de sua mansão de US$ 26 milhões em Pacific Palisades, Hanks tem uma vida modesta. Dirige um Chevy Volt até seu escritório em Santa Monica, usa camiseta e bermuda em reuniões de negócio e espera na fila para comprar cachorro-quente no estádio como qualquer um. Na posse de Barack Obama em 2009, fez piadas para a multidão enquanto estava na fila do banheiro químico – e depois subiu ao palco para fazer um discurso. Gosta de tomar cerveja no fim do dia, mas não passa das duas latas.

Depois do café da manhã, o ator caminha pela Quinta Avenida, ao longo do Central Park. Uma chuva leve está caindo, e ele toma seu terceiro café. Na esquina, dois turistas – aparentemente italianos – estão tentando domar um mapa do metrô quando olham para cima e avistam Hanks vindo na direção deles na calçada. Eles dão os mesmos passos que as outras pessoas dão quando veem alguém famoso: “É ele? Acho que é ele? Devemos pedir uma foto? Não, não podemos...” Só que Hanks vê tudo isso acontecer e assume o comando, preparado para o que vem.

“Ei, como vocês estão? Querem uma foto?”, fala quase do outro lado do quarteirão. É uma jogada que, nas mãos de outra pessoa, poderia parecer idiota – só que eles realmente queriam uma foto e estavam tímidos demais para pedir, mas agora têm uma e Hanks ficou feliz em fazer isso. É uma transação de celebridade sem esforço e mutuamente satisfatória, conduzida por um especialista.

Hanks gosta do bairro. Ele e Rita compraram um apartamento no Upper East Side há cerca de 20 anos, quando os filhos ainda eram novos o suficiente para gostar de brincar no parque, e se hospedam aqui quando estão na cidade. Agora, estão em Nova York para um evento no Radio City Music Hall – uma festa beneficente do 25º aniversário da Children’s Health Fund, de Paul Simon. Hanks sempre foi muito fã de rock. Quando conseguiu poder suficiente em Hollywood para dirigir o próprio projeto, escolheu The Wonders – O Sonho Não Acabou, sobre uma fictícia banda de rock da era Beatles. Ele até batizou sua produtora de Playtone, como a gravadora fictícia do filme. Hoje, a Playtone é uma potência, produzindo minisséries como John Adams e The Pacific, bem como coisas menos tipicamente Hanks como Onde Vivem os Monstros e o filme Virada no Jogo para a HBO. Hanks ganhou um Emmy pelo último, e grudou o troféu no capô do carro.


A Playtone produz eventos para o Hall da Fama do Rock and Roll e, na cerimônia de 2008, Hanks introduziu o Dave Clark Five, soando como um senador no púlpito. Falou como, na infância, o rock lhe deu “um mundo além” da minúscula Red Bluff, na Califórnia. Quando viu os Beatles no The Ed Sullivan Show, diz que ouvia em “um alto-falante do tamanho do fundo de uma lata de refrigerante” no rádio-relógio da irmã e guardava moedas para usar na jukebox na pizzaria. Hanks é amigo das lendas que costumava idolatrar, como Bruce Springsteen e Robbie Robertson (The Band).

Hanks continua caminhando. Não é longe de onde ele e Rita tiveram um de seus primeiros momentos românticos, quando estavam de mãos dadas sob um poste de luz na esquina da Quinta Avenida perto do parque. Eles se conheceram há mais de 30 anos, quando ela fez um papel pequeno no seriado Bosom Buddies, que ele estrelava, mas só se reencontraram três anos depois, quando fizeram um filme chamado Voluntários da Fuzarca. Hanks a pediu em casamento no Réveillon de 1987, durante umas férias em St. Barts. Estão casados há quase 25 anos e ainda são apaixonados. “Ela tem níveis de graciosidade social que eu não tenho”, afirma. “Ela tem uma habilidade para interagir com as pessoas que me deixa maravilhado. É destemida, simplesmente fascinante.”

Quando você o vê no Oscar ou dedicando um memorial para veteranos, pensa: “Tom Hanks – eu conheço esse cara”. Só que não o conhece realmente. Por exemplo, você sabia que este é o segundo casamento dele? Ou que ele é filho de pais divorciados que morou, segundo suas contas, em dez casas diferentes com três madrastas diferentes até os 10 anos? Quando ele foi capa da Rolling Stone EUA há 24 anos, Sally Field disse sobre Hanks: “Ele é divertido, engraçado e fácil de conviver, mas, sabe, há algo mais por baixo disso... um lado triste, obscuro”. Ele diz que isso era verdade naquele momento, e continua sendo agora, mas não sente a necessidade de falar sobre isso, particularmente.

Há um grande momento que poucos percebem em O Resgate do Soldado Ryan. Acontece quando Matt Damon, como Ryan, está conversando com Hanks, como o capitão John Miller, poucos minutos antes da batalha climática. Ryan está preocupado por começar a esquecer os irmãos – não consegue visualizar seus rostos. Miller diz que o truque é pensar em algo específico, alguma lembrança preferida. Para Miller, é ver a esposa podar os roseirais. Ryan pensa nisso e começa a lembrar a última noite em que ele e os irmãos estavam juntos, antes da guerra. Pouco depois, está rindo, e é como se eles estivessem de volta. Então, pede para Miller contar sua história – sobre a esposa e os roseirais. Miller, que até aquele momento também estava rindo e sorrindo, de repente fica quieto. “Não, essa lembrança eu guardo comigo.” Assim como o capitão, algumas coisas Tom Hanks guarda só para si.

Tente dar o nome de um ator com um período de seis anos melhor do que este: Uma Equipe Muito Especial; Sintonia de Amor; Filadélfia; Forrest Gump, o Contador de Histórias; Apollo 13; Toy Story; O Resgate do Soldado Ryan. Sério, tente. Não dá. De 1992 a 1998, simplesmente não dá para vencer Tom Hanks – como Michael Jordan de 1987 a 1993 ou os Rolling Stones de 1966 a 1972. Até os seis filmes que se seguiram (Mensagem para Você, Toy Story 2, À Espera de um Milagre, Náufrago, Estrada para a Perdição e Prenda-Me se For Capaz) seriam uma carreira plena para a maioria dos atores; para Hanks, era apenas um plano B. Sem contar suas contribuições para o vocabulário da cultura pop: “Não há choro no beisebol”, “Houston, temos um problema”, “A vida é como uma caixa de chocolates”. “Wiiiiillllsoooooon!” Ele é como o Bartlett’s [livro de citações] de um homem só de Hollywood. Quando ele morrer, o pobre editor responsável por fazer a montagem no tributo do Oscar terá muito pra escolher. Não é por nada, mas Tom Hanks é o maior chamariz de bilheteria do mundo – arrecadou US$ 8,5 bilhões até agora.

Mas veio a maré baixa. Primeiro, Matadores de Velhinhas, mais lembrado por seu bigode horrível. Depois, foi a terceira parceria com Steven Spielberg, O terminal, que perdeu feio na bilheteria para Com a Bola Toda, de Bem Stiller. O Código Da Vinci e Anjos e Demônios foram sucesso, mas abaixo das expectativas. O último trabalho de Hanks como diretor, Larry Crowne-O Amor Está de Volta(2011), foi um fracasso. “Ele queria filmar, e filmou por nada”, diz amigo David Geffen. “Só que, sabe, ninguém faz só sucessos.” Hanks é realista: “Às vezes, alguém se aproxima de mim e me diz: “Sr. Hanks, tenho de dizer – pirei com Anjos e Demônios””. Ele ri. “Mesmo?” Hanks tem dedicado muito esforço à Playtone, o que diminui seus trabalhos como ator. Mas mesmo quando o filme é um fracasso, ainda dá para ver Hanks ali. Como Spielberg disse uma vez, Tom Hanks “é os Estados Unidos”. Ele faz filmes sobre beisebol, infância, espaço, romance, guerra – todas as coisas em que os Estados Unidos são bons. Ele representa arquétipos nacionais, mas sempre com um toque realista: o xerife inseguro, o soldado assustado. É um homem, diz Martin Short, que canta o hino nacional em jogos de beisebol com a mão no peito.


Hanks há muito tempo é mencionado como alguém com futuro na política. Faz sentido: um liberal ativo e rico da Costa Oeste próximo dos Clinton (ele já dormiu no Quarto Lincoln) e dos Obama (narrou o vídeo da campanha deste ano), que também é defensor de questões de soldados e veteranos e uma das poucas figuras na esquerda cujo patriotismo nunca foi questionado. É comum o suficiente para ser brega e Hollywood o suficiente para ser legal – um construtor de pontes que convida o republicano Clint Eastwood e Jack Valenti, ex-assistente do presidente norte-americano Lyndon Johnson, para os mesmos jantares. Até Bill Clinton quer ser Tom Hanks: na época em que Mike Nichols estava adaptando Segredos do Poder para as telas, Clinton disse que se alguém fosse fazer seu papel em um filme, queria que fosse Hanks.

Short afirma conseguir ver Hanks comandando um estúdio ou se candidatando para presidente. Hanks diz que isso é bobagem: “Nunca me interessei em ser candidato a presidente”, afirma. Quando se trata de suas causas preferidas, como o programa espacial ou os veteranos, ele diz que pode fazer mais como o astro do cinema Tom Hanks do que em algum subcomité congressional. “Se eu apareço, mais pessoas aparecem. Isso significa mais dinheiro arrecadado e mais gente fazendo o trabalho – fazendo as ligações e construindo edifícios e coisas que atendem à causa.”

O ator quer que seus filmes façam a diferença. Um interessado voraz em história que compra caixas de livros e batizou dois de seus filhos como Chester e Truman Theodore, Hanks adora poder contar histórias e fatos que as pessoas não sabiam. Sua meta é que os filmes sejam precisos, ou, como fala, “que se tornem documentos históricos e que sejam colocados nas prateleiras de bibliotecas, ou que você possa mostrar em sala de aula”. É o que o inspirou a filmar duas produções ainda pendentes: Captain Phillips, sobre um marinheiro norte-americano que vira refém de piratas somalis, e No Jardim das Feras, sobre as desventuras do embaixador norte-americano na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial. Agora que está mais velho, Hanks procura papéis um pouco mais complicados. “Por muito tempo, fui o exemplo para uma geração, de alguém que todo mundo é”, diz. “Eu não era o pistoleiro que vinha limpar a cidade dos bandidos. Era o cara normal em circunstâncias extraordinárias. Estou com 56 anos e não acho que alguém ainda espere que eu vá salvar o cachorro e conquistar a garota. Não que não consiga mais fazer isso – mas há um pouco mais de dignidade. Acho que, talvez, consigo representar personagens que realmente são extraordinários. Sou o cara experiente agora.”

Em A Viagem, Hanks faz seis personagens diferentes, de um cientista nuclear dos anos 70 a um médico perverso. “Ele conseguiu representar algumas pessoas bem desagradáveis, imperfeitas desta vez”, diz a coprotagonista Halle Berry. “E vi o quanto ele se divertiu com isso.”

Esta pode ser a chave para entender a cabeça de Tom Hanks: ele mergulha nas coisas. “Se eu pudesse ir à HBO e dizer: ‘A coisa mais importante retirada do solo é a batata. Imagino uma minissérie de seis horas’, aposto que conseguiríamos alguns roteiros escritos”, afirma Hanks. “Fico intrigado com qualquer coisa. Acho que dá para fazer um filme fascinante sobre construir uma ponte sobre o rio Mississippi – porque vi um documentário sobre isso e foi fascinante. Nos jantares, a Rita tem de falar: ‘Sabe, oi – já chega de República de Weimar’.” Hanks ri muito de si mesmo. “Só que, sabe...”, ele acrescenta com um brilho nos olhos, “o interessante sobre a República de Weimar é...”