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VIDA POP

O Futuro é Azul

Por Miguel Sokol Publicado em 18/03/2010, às 05h05

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Avatar: uma realidade que incomoda? - DIVULGAÇÃO
Avatar: uma realidade que incomoda? - DIVULGAÇÃO

Liberdade, igualdade e fraternidade. é com um futuro assim que a humanidade sonha há pelo menos 200 anos. E o sonho não acabou, ao contrário, ganhou recursos para ser sonhado em 3D. É só colocar os óculos e ver a mata florescer fluorescente diante dos teus olhos, brilhando colorida num mundo em que todos têm uma trança no cabelo que não é uma trança, mas um cabo USB que serve para fazer download das árvores, dos bichos e até de Deus - tudo de graça. E, quando alguém morre, transferem-se os arquivos da alma do morto para outro hardware, digo, corpo, e assim todos vivem felizes e conectados para sempre em um futuro que só não é perfeito porque o James Cameron vacilou ao colocar um rabo enorme e azul pregado no futuro do seu traseiro. Gostou?

O Bono não. Ao que parece, o vocalista do U2 é contra a idéia de um futuro azul, libertário, igualitário, fraterno e rabudo à base de downloads gratuitos. E o problema não é o rabo. Na guerra 'USA x USB' ele declaradamente torce para o tio Sam: "A única coisa que ainda protege a indústria do cinema e da televisão é o tamanho dos arquivos, mas em breve será possível baixar uma temporada de 24 Horas em 24 segundos." Ele disse e completou: "Talvez os magnatas do cinema tenham sucesso onde os músicos fracassaram, porque uma década de compartilhamento e roubo de arquivos musicais comprovou que os que sofrem são os artistas, sobretudo os jovens compositores, que não conseguem se sustentar apenas com a venda de ingressos". Jovens compositores? O que é isso? Eu quero nomes! A "jovem compositora" mais jovem que eu conheço se fez na internet. Perguntemos à Mallu Magalhães se ela foi prejudicada pelo download ilegal. Ou ao Strokes.

Os "jovens compositores" da dupla Fiery Furnaces não ficam lamentando o fim do disco - o disco como o Bono conhece e não consegue mais vender - em vez disso, eles se inspiraram pela situação e decidiram compor, que é o que devem fazer os compositores, afinal. O resultado já está anunciado, o próximo lançamento da dupla será o Silent Record, um disco silencioso mesmo, nada de áudio: trata-se de um calhamaço de letras, partituras, gráficos e ilustrações musicais. À prova de qualquer download, quem quiser ouvir as próximas músicas do Fiery Furnaces vai ter de tocá-las. E isso não é castigo nem vingança, já que a dupla promoverá shows para os fãs tocarem essas músicas. O Fiery Furnaces é ousado. Ou é o Bono que está ficando velho? Eu ficaria com a segunda opção se fosse uma questão de idade, mas a jovem Lily Allen concorda com o vocalista do U2: "Os fãs precisam gastar para entender o valor das músicas". Liberdade? Igualdade? Fraternidade? Se o futuro é mesmo azul, a chapa do Bono é branca e a vergonha que eu sinto da Lily Allen é vermelha.