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Vidas Pop Não Autorizadas

Ou “quando os famosos lutam para que não seja proibido proibir”

Miguel Sokol Publicado em 20/11/2013, às 14h08 - Atualizado em 28/11/2013, às 17h59

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Ilustração - Gabriel Góes
Ilustração - Gabriel Góes

“Eu nasci muito jovem, quando dei por mim já tinha lá uns 4 ou 5 anos...” Assim começaria minha autobiografia autorizada, mas eu jamais autorizaria uma autobiografia minha, por vários motivos que não vêm ao caso (e dois que vêm). O primeiro e menos importante é que alguém já começou uma autobiografia assim. O segundo e mais importante é que, se autorizada fosse, minha biografia não participaria da discussão surreal das biografias não autorizadas. E isso seria uma pena.

Eu entendo que discutir o sexo dos anjos seria mais proveitoso do que discutir se a liberdade de expressão, subentendida no ato de biografar quem quer que seja, fere o direito a privacidade, subentendido para o biografado que for. Em outras palavras: por que mosquito tem perna se ele voa?

Não consigo entender por que um G8 formado por Paula Lavigne mais sete músicos (a saber: Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Djavan e Roberto Carlos) uniram forças para trazer à tona a discussão supracitada do mosquito, digo, da liberdade de expressão versus o direito a privacidade. É triste ver esses senhores, que já fizeram história, se preocupando não mais em fazê-la, mas com quem vai contá-la.

Eu não entendo nada de lei, também não entendo nada de economia, mas entendo uma única coisa de histórias: entendo que elas devem ser contadas, pois a verdade – o G8 devia saber – não tem uma versão oficial e muito menos uma versão só.

Um exemplo musical e biográfico da pluralidade da verdade é a autobiografia do Bob Dylan, Crônicas. Nela, o biógrafo, que não por acaso também é o biografado, mente, mente deslavada e descaradamente, tem o desplante de afirmar que, para visitar a casa do ídolo Woody Guthrie, no bairro do Brooklyn (Nova York), teve de atravessar um pântano ao sair do metrô e a lama, que atingiu a altura dos joelhos, congelou depois, por causa do frio. Convenhamos, a lama que congelou na perna de Dylan já estaria congelada muito antes no pântano de onde ela saiu, e mais: que pântano é esse que ficava no Brooklyn ao lado de um metrô?

Dylan deturpou os fatos para transmitir uma sensação, e nós teríamos de chamar essa fantasia louca de verdade absoluta se um G8 norte-americano embargasse a biografia não autorizada que traz a verdade factual dessa história. No entanto, ainda não apareceu um grupo assim por lá e a soma dos dois livros – o autorizado e o não autorizado – nos rende uma verdade muito mais rica.

Eu incito! Escrevam biografias não autorizadas, mais do que nunca, de todo os brasileiros que mereçam uma! E para quem se arriscar a produzir uma possível biografia (autorizada ou não) do Silvio Santos, eu empresto até um título: O Senor dos Abravanéis.