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Registro ao vivo define momento para a artista que ajudou a redesenhar o papel das cantoras

Redação Publicado em 09/05/2009, às 08h40 - Atualizado em 12/05/2009, às 21h20

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Vanessa da Mata - Multishow ao Vivo
Vanessa da Mata - Multishow ao Vivo

Vanessa da Mata

Multishow ao Vivo

Sony

O primeiro disco ao vivo de um artista sempre convida a uma reflexão sobre sua carreira (desde que o artista não seja o Inimigos da HP, novatos como Vanguart ou essas duplas sertanejas que estreiam com disco ao vivo). Esse de Vanessa da Mata está mais até para um registro da última turnê do que para uma retrospectiva. Mas deixa claro que já há um legado a ser analisado.

Hoje, quase toda cantora brasileira quer ser a Vanessa da Mata. No sentido de almejar destino parecido, identificar-se com a proposta, rezar na cartilha. Essa mato-grossense surgiu no começo da década, num momento em que o programa Casseta & Planeta fazia piada sobre um novo tipo de calçado que o Brasil estava exportando para os países vizinhos: “as sapatas”. (No esquete, os calçados eram representados por personagens que lembravam cantoras daqui, todas gozando de altíssimo sucesso na época.) Você ligava o rádio e ouvia voz

grossa, não importava o sexo. Cássia Eller escarrava no chão. Nossa MPB parecia mais viril do que muito zagueiro da segunda divisão do Campeonato Gaúcho. Corta para 2009 e o que temos é um cenário de belíssimas e promissoras cantoras. Todas extremamente femininas. Doces. Suaves. Céu, Mariana Aydar, Nina Becker, Luisa Maita... O que foi que aconteceu em tão curto período? Aconteceu Vanessa da Mata. Ela nos devolveu o que tínhamos perdido e nem lembrávamos mais. Pintou falando dos moços que observava na pracinha em frente à loja FNAC de Pinheiros (bairro paulistano onde morou no começo da carreira), delirando sobre o casamento externando preocupações de uma jovem adulta com delicadeza. E cantando daquele jeito que Gal Costa ensinou, sem agressividade gratuita, sem vontade de impressionar pela potência.

Também por ser – acima de tudo – uma compositora, não apenas uma intérprete, Vanessa serviu de inspiração para muita gente. Não fosse seu empurrãozinho, a amiga e ex-modelo (como ela) Cibelle não teria tomado gosto por compor canções nem teria se mandado para Londres para tentar a sorte e se dar bem por lá. Várias outras viram em Vanessa uma possibilidade, um novo velho mundo se descortinando. Mesmo antes de ela lançar o primeiro álbum. “Viagem” foi gravada por Daniela Mercury quando Vanessa só tinha CD-demo. É um dos achados de Multishow ao Vivo (que foi captado em Paraty, RJ, e que também sairá em DVD, com direito a seis músicas a mais que as 15 do CD, além de canja dos jamaicanos Sly & Robbie e um documentário rodado na Europa). Com a baiana, a faixa já chamava a atenção pelo balanço e pelas imagens desenhadas na letra. Neste registro ao vivo, ganha trecho de “Mamãe Passou Açúcar em Mim”, corroborando para a tese de que 2009 é “o ano Simonal”.

Outra joia do disco é “Acode”. Lançada por Shirle de Moraes, ela voltou para Vanessa no último CD de Sérgio Mendes. Mas agora é que ficou boa de verdade. Muito por causa da guitarra esfuziante de Davi Moraes. Donatinho, nos teclados, é o outro destaque da banda: no afrobeat “Baú”, ele simplesmente arrasa. Claro que Multishow ao Vivo tem todos aqueles defeitos inerentes aos discos ao vivo e só deve entrar na sua discoteca se você já tiver os três álbuns de estúdio de Vanessa. Mas ele é importante por simbolizar a vitória de alguém que inaugurou uma nova era no pop nacional. Tudo ficou mais atraente com Vanessa de farol da raça. Que ela siga iluminando o caminho de outras cantoras que estavam acanhadas – ou talvez pensando em mudar de sexo para ter voz.

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR