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Com plateia mais jovem, Jake Bugg mostra música nova no terceiro show em São Paulo este ano

Britânico se apresentou no Citibank Hall na última quinta, 27, com abertura do Moondogs

Lucas Brêda Publicado em 28/11/2014, às 02h56 - Atualizado às 16h19

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Jake Bugg se apresenta no Citibank Hall, em São Paulo - Camila Cara/T4f
Jake Bugg se apresenta no Citibank Hall, em São Paulo - Camila Cara/T4f

O britânico Jake Bugg foi atração do Lollapalooza 2014, tendo tocado também no Cine Joia, em São Paulo, na semana do festival, no mês de abril. Na última quinta, 27, ele voltou à capital paulista para uma nova apresentação e, desta vez, encarou uma plateia mais jovem e fanática, ganha pelo cantor desde antes dos primeiros acordes serem entoados.

Sem meias verdades, Jake Bugg admite solidão, compõe o tempo inteiro e faz pouco caso de (quase) tudo.

O público já dava pistas da empolgação para ver o astro no show de abertura. O quarteto paulistano Moondogs subiu ao palco com trajes pretos idênticos, decorados por uma gravata borboleta. A gritaria da plateia – ainda longe de estar lotada – foi uma resposta direta à demanda dos integrantes, combinando rebolados e piscadelas a cada riff entoado, em total contraste com a introspeção e falta de carisma da atração principal da noite.

Além das faixas do disco de estreia, Black & White Woman, a banda apresentou uma cover previsível de “Blue Suede Shoes”, de Elvis Presley, durante a qual o vocalista Johnny Franco desceu correndo à pista para dançar com uma garota escolhida aleatoriamente – para “mexer o corpo inteiro”, como disse ele. Apesar de tocadas com segurança, as músicas do Moondogs esbarram na falta de criatividade, tornando a banda quase um pastiche das fases mais pop de Beatles e Rolling Stones no começo da década de 1960.

Lembre como foi o show de Jake Bugg no Lollapalooza 2014.

Durou meia hora a apresentação do Moondogs, que chegou ao fim com o single “Black & White Woman” e os integrantes distribuindo cópias do único álbum de grupo. A espera foi curta, já que às 21h30 Jake Bugg deu início ao show pelo qual os fãs mais esperavam, com a aguda “Messed Up Kids” revelando o traço mais marcante de sua personalidade: a indiferença em relação ao ambiente externo à música.

Jake Bugg

“Ele não liga para a gente!”, gritou uma garota amassada na grade que dividiu a pista da pista premium. “Por isso que eu gosto dele!”, respondeu outra menina ao lado, também em alto volume. A histeria causada por um público mais jovem é compreensível, já que este foi o primeiro show de Bugg em São Paulo com classificação etária mais "baixa" (no Cine Joia, apenas maiores de 18 anos puderam entrar, enquanto no Lollapalooza menores tiveram que ser acompanhados por responsáveis).

Resenha: em Shangri La, Jake Bugg diversifica e deixa de ser um mero imitador.

Trocando a guitarra pelo violão, Bugg passou a mesclar faixas do primeiro (Jake Bugg) e do segundo (Shangri La) álbum: “Seen It All”, “Storm Passes Away”, “Trouble Town”, “Me and You” e “Two Fingers”. Apesar de tocadas em sequência, sem pudor, as faixas trazem consigo o rápido crescimento de Bugg: enquanto “Two Fingers” trata da adolescência dele em Nottingham, “Storm Passes Away” revela os versos “And they keep telling me/ I'm older than I'm supposed to be” ("eles ficam me dizendo que sou mais velho do que deveria"), em arranjos menos urgentes e mais polidos.

Na canção seguinte, “There's a Beast and We All Feed It”, Bugg alfineta: “They sing, but they don’t feel it” ("eles cantam, mas eles não estão sentindo"). Se os olhos sempre fechados durante as performances denunciam a indiferença do britânico, eles também revelam a faceta mais interessante do cantor: a sinceridade. Bugg enche de sentido todas frases que canta – assim como cada acorde que toca –, e isso é muito do que os fãs podem cobrar de um artista em uma apresentação ao vivo.

Edição 90 – Entrevista: Jake Bugg.

Vieram ainda “Ballad of Mr Jones” e “A Song About Love” antes de o britânico anunciar “uma nova música”. Com pegada de country norte-americano, “Hold On You” é mais serena que boa parte do repertório de Bugg e deve estar no próximo – o terceiro – álbum do cantor. As baladas “Slide” e “Simple Pleasures” foram reforçadas pelo coro ensurdecedor da plateia.

Jake Bugg

A parte mais interessante e atual do show de Jake Bugg é quando ele se entrega à guitarra. Com o instrumento elétrico, ele puxou a pegada “Kingpin”, a lado B do primeiro disco “Green Man”, o hit “Taste It”, “Slumville Sunrise”, uma curta cover de Little Richard (“Rip It Up”) e “What Doesn't Kill You”. Bugg aparenta manter uma relação cada vez mais íntima com a guitarra elétrica, dedicando solos mais longos e intricados que a cartilha pop/adolescente permite.

Edição 82 – Mesmo depois do sucesso na Inglaterra, Jake Bugg ainda se considera um cara comum.

O momento de maior euforia, entretanto, ficou por conta da performance acústica de “Broken”, com o britânico no centro de um grande holofote de luz. Até ali, Bugg havia trocado poucos agradecimentos com o público e assim foi até o fim de “Lightning Bolt” – primeiro grande single do cantor, escolhido como uma das músicas oficiais das Olimpíadas de Londres, em 2012. Essa foi a última do setlist, que não teve o tradicional bis.

Bugg andou de um lado a outro agradecendo, sem soltar um sorriso, contudo. Ao deixar o palco do Citibank Hall sem mais delongas, ele deixou para trás também uma fase de sua carreira, que mescla o garoto que tocava violão para se livrar do tédio – e se viu alçado ao topo das paradas – com o músico inquieto em busca de melodias mais sofisticadas e crescimento artístico.

Ouça: Jake Bugg lança EP no Napster com quatro músicas gravadas no Brasil.

Quando voltar a São Paulo, Jake Bugg já deve ter um terceiro disco na bagagem. Para se livrar do estereótipo de astro da música adolescente, porém, ele ainda precisa de mais coragem e ousadia – além da postura de durão que ostenta desde o começo da carreira. Bugg ainda se apresenta no Rio de Janeiro nesta sexta, 28, encerrando esta passagem pelo Brasil (que também contou com um show em Porto Alegre na terça, 25).