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Jards Macalé 70 anos: artistas falam sobre a importância e a relação com o músico

Leia depoimentos de Luiz Melodia, Falcão (O Rappa), Frejat e outros

Guilherme Bryan Publicado em 03/03/2013, às 12h17 - Atualizado em 04/03/2013, às 15h57

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Jards Macalé - Divulgação
Jards Macalé - Divulgação

Eryk Rocha, diretor do filme Jards: “Jards Macalé desmistifica certo status do artista. Ele é um homem de grande generosidade, inquieto, criativo, anárquico e inovador, que tem diálogo muito forte com a nova geração. Um libertário. Tem um espírito muito democrático na forma de ser. Fala com todo mundo. É do povo brasileiro, desprovido de ego. Caminha muito pelas ruas do Rio de Janeiro. É rápido e comunicativo. Muito afetuoso. Ou seja, um homem de 70 anos, com espírito jovem e muito frescor. Há nele uma abertura para a vida. Multifacetado, conversa com os vários estilos e vertentes da música brasileira, e com as mais diferentes manifestações artísticas. É muito expressivo na voz grave única, performático e possui um jeito todo próprio nos gestuais e no movimento de corpo".

Marcelo Falcão, vocalista d’O Rappa: “Jards é um daqueles grandes nomes que é mais conhecido no meio musical do que pelo grande público. Ao mesmo tempo, suas composições se misturam com momentos chave da música brasileira. Seu nome surge na história do Rappa com ‘Vapor Barato’. O disco Rappa Mundi tinha um time forte, com ‘Hey Joe’, ‘A Feira’, ‘Miséria S.A.’, mas foi com ‘Vapor’ que a gente apresentou um lado diferente da banda, mais introspectivo talvez. Ela foi uma plataforma para mostrar nossa versatilidade, trabalhando com programação eletrônica, por exemplo, que era algo novo para a banda naquela época. Essa é uma característica que nos acompanha até hoje. Além de ‘Vapor Barato’, eu gosto de ‘Movimento dos Barcos’, é sincera, direta e de uma beleza dolorida muito difícil de retratar. Tão definitiva quanto ‘Vapor Barato’. Mas a obra do cara é imensa. Tem até um disco em homenagem ao aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, que mostra uma postura com a sua arte que reflete o que a gente viria a pensar anos mais tarde”.

Roberto Frejat, vocalista e guitarrista do Barão Vermelho: “Ele é uma figura muito especial, porque atravessa várias gerações da produção musical. Nós batemos bem de primeira. Desde o momento em que trabalhamos juntos no disco Real Grandeza, temos estado próximos. Inauguramos uma parceria que espero que seja prolífica e temos intensificado nossa amizade com papos maravilhosos. Ele é uma pessoa especial, doce e intenso ao mesmo tempo. Artisticamente, soma-se a isso uma sofisticação musical e um gosto pelo improviso, pelo fazer cada vez diferente, que me agrada muito. Eu gosto de toda a safra dele com o Waly ou daquele período. Acho que ali tem um tipo de sentimento que vai dar nos blues brasileiros que eu e Cazuza fizemos depois. Eu adoro uma que é como um ponto afro, que se chama ‘Ponto de Luz’. Por isso, nesses 70 anos, dedico a ele a canção ‘Se Todos Fossem Iguais a Você’, de Tom e Vinicius”.

Luiz Melodia, cantor e compositor: “O Macalé é um garoto rebelde e indisciplinado, mas com disciplina [risos]. Sempre me parece um inquieto e muito moderno. Sempre à frente do seu tempo. Às vezes, polêmico. Foi um dos artistas muito marcantes durante a minha carreira e até hoje é muito presente. Então, só tenho elogios. Não sei nem se ele sabe disso [risos]. Ele me influencia porque eu também sou uma pessoa musicalmente inquieta. Só não tivemos a oportunidade de fazermos uma canção juntos, o que ele me cobra o tempo todo, mas acredito que vá acontecer. Eu tive o privilégio, a sorte e a bênção de conhecer o Macalé nos anos 70. Algumas amigas minhas que moravam no Estácio tinham contato com os baianos, Gal Costa, Torquato Neto, Hélio Oiticica, essa turma toda. E foi através dela, entre as quais estava uma menina Rosa, que não está viva mais e para quem compus algumas canções, que vim a conhecer o Macalé. Lembro de um show dele numa penitenciária com Gal Costa. Ali tive a oportunidade de apertar a mão dele e conhecê-lo. Daí fomos ficando amigos. Para mim, foi tudo de maravilhoso, até porque eu o tive como um ídolo mesmo, como o tenho até hoje. Ele chega aos 70 melhor do que muitos da Tropicália. Autêntico o tempo todo. Eu o acho um gênio”.

Elton Medeiros, cantor, compositor, produtor musical e radialista: “Todo mundo olha o Macalé pelo lado folclórico dele e pelas brincadeiras, talvez humorístico, mas, no fundo, ele é um artista muito sério e um excelente violonista. Ele escreve mesmo música e canta bem. Eu gosto da obra dele como um todo. Eu trabalhei com ele junto com Ciro Monteiro e Nora Ney, em 1968, numa peça que teve que ser interrompida, porque jogaram uma bomba dentro do teatro Santa Rosa. Sou amigo do Macalé. Tenho uma admiração muito grande por ele, é um grande companheiro de trabalho. Por isso, merece ser visto com outros olhos e não como um simples brincalhão. Tem uma obra ainda a ser, boa parte dela, revelada”.

Cida Moreira, cantora e atriz: “O Jards Macalé, desde que apareceu, ainda gordo e completamente diferente do que ele se tornou depois dos anos 70, sempre foi muito forte para mim, em termos de postura, força, irreverência e coragem de se colocar no mercado daquela maneira, porque dava para entender que ele era só um tropicalista. Assim como o Tom Zé, ele corre num trilho só dele. Ele sempre foi espantoso para mim, no sentido da estética e da coragem. Eu amo, amo, amo o texto dele. As coisas que ele diz continuam até hoje absolutamente vivas e claras para mim. Tudo o que ele faz tem uma coerência incrível e envelheceu artisticamente maravilhosamente bem. Eu sempre estou tentando interpretar as coisas dele, mas gostaria de cantar muito mais. As coisas dele sempre me dizem muito. ‘Hotel das Estrelas’, por exemplo, é um mote na minha vida desde sempre. Também adoro a fase vampiresca, barra pesada, alertando que estamos correndo grande perigo o tempo todo. Ele chega em excelente forma artística, física e emocional aos 70 anos, continua sendo interessante e ainda tem uma contribuição a dar".

Nelson Pereira dos Santos, cineasta: “Eu conheci o Macalé através do Bigode [o cineasta Luiz Carlos Lacerda]. Eles moravam na mesma casa. Convidei o Macau para fazer a música de ‘Amuleto de Ogum’. Foi uma experiência muito bacana. Ele não só é o autor da música, como cuidou do som, da gravação dos diálogos e dos ruídos ambientes. Também fez a mixagem. Além do trabalho no cinema, a gente tem uma amizade. É um personagem permanente aqui no meu âmbito de vida. Macalé é um companheiro fantástico que está sempre inventando coisas divertidas e engraçadas, e também topando qualquer novidade. Ele faz parte de um grupo que está em permanente evolução, para não dizer revolução. Está sempre inventando e criando".