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Nome forte da música independente, Hurtmold completa 20 anos de álbuns sólidos e experimentações

“Somos amigos há muito tempo. A banda é uma consequência disso, e não o contrário”, diz Guilherme Granado

JOÃO PAULO VICENTE Publicado em 22/06/2018, às 15h37 - Atualizado às 22h30

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Hurtmold - Sr. Calvente/Divulgação
Hurtmold - Sr. Calvente/Divulgação

Uma “banda punk”: é assim que o músico Guilherme Granado enxerga o Hurtmold, grupo instrumental que completa duas décadas de existência em 2018. “Pelo menos é a nossa ideia de punk”, diz. Junto a Marcos Gerez, Maurício Takara, Rogério Martins e os os irmãos Fernando e Mário Cappi, Guilherme integra este que é um dos mais inventivos representantes da música independente brasileira, transitando com facilidade entre rock, jazz e caminhos experimentais.

“O som que fazemos é o som que sai quando tocamos juntos”, tenta explicar Granado. Vestindo camiseta branca e um boné azul turquesa de uma marca de skatewear, ele usa onomatopéias como “nhémmm” e “hummm” para responder a qualquer pergunta mais reflexiva sobre o Hurtmold. “Nós começamos, continuamos e agora estamos aqui, onde quer que seja.”

O primeiro contato foi em 1995, quando Granado (teclado) conheceu Mário (guitarra) e Gerez (baixo) no primeiro ano do ensino médio. Como muitos adolescentes interessados em tocar, viviam montando e desmontando bandas. Logo, começaram a frequentar o El Rocha, estúdio da família do baterista Takara (e dos produtores Daniel Ganjaman e Fernando Sanches).

O El Rocha era uma espécie de meca para o rock independente paulista entre o final dos anos 1990 e começo dos 2000. E foi ali que, junto a Fernando (guitarra), o grupo se uniu à procura de um som que sintetizasse o que todos queriam fazer. Nas primeiras gravações, essa ideia de busca fica clara em registros mais caóticos. “A nossa música nunca foi pensada ou discutida. Nas primeiras demos estávamos tentando uma história que não tínhamos habilidade para fazer, mas já estava ali”, elucubra Granado.

As coisas foram ficando mais cristalinas nos lançamentos seguintes, até culminar em Mestro (2004), um clássico da discografia da banda. No meio desse processo, em 2003, Rogério Martins (clarinete e percussão) se juntou ao grupo. “Eu os conheci não muito tempo antes. E logo eles viram que eu era uma pessoa incrível e insistiram muito para serem meus amigos”, brinca Martins. Apesar da piada, a amizade é, de fato, o fio condutor do Hurtmold. “Nós somos amigos há muito tempo. A banda é uma consequência disso, e não o contrário”, conta Granado.

Além de diversos projetos individuais, os integrantes do Hurtmold já lançaram um split com os americanos do The Eternals, gravaram dois álbuns com Marcelo Camelo (além de terem atuado como banda de apoio para shows do hermano), e convidaram Paulo Santos, músico mineiro conhecido pelo uso de instrumentos não convencionais, para participar do mais recente disco, Curado (2016). Por conta dessa amplitude de frentes de atuação, desde Mestro a banda leva, em média, quatros anos entre um álbum e outro. “Colocar seis pessoas numa mesma sala em 2018 para compor não é nada fácil”, afirma Granado. “Não compomos se não tiver todo mundo. Alguém chega com uma melodia, às vezes ritmo, outras uma linha de baixo ou só uma ideia. E aí vamos fuçando, todo mundo pega instrumento dos outros… é bom, mas é um processo longo.”

Nesses 20 anos, o propósito do Hurtmold permaneceu o mesmo, mas algumas coisas mudaram. A faixa “Bulawayo”, lançada no disco Cozido (2002) e regravada em Curado, é um bom exemplo disso. Lá atrás, a sensibilidade da canção contrastava com uma bateria mais marcada; já a versão de 2016 é mais sútil, com os diversos elementos dissecados em pequenas camadas de som. Martins concorda com a afirmação de que a banda passou por alterações ao longo do tempo, mas prefere fazer piada a fazer análises. “Eu fui ficando melhor, daí o som foi ficando melhor também. Os caras melhoraram um pouco, bem pouco mesmo, quase nada. Na real, acho que o Mau precisa melhorar mais ali na batera. Vou falar com ele.”