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Rock in Rio 2017: conheça Mamani Keïta, artista do Mali que canta contra a mutilação genital feminina

Africana se apresenta no palco Rock Street neste último final de semana do festival

Anna Mota, do Rio de Janeiro Publicado em 22/09/2017, às 19h18 - Atualizado às 20h52

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Mamani Keïta no Rock in Rio - Marcelo Lopes/Estácio/Divulgação
Mamani Keïta no Rock in Rio - Marcelo Lopes/Estácio/Divulgação

Mamani Keïta é um nome que não figura entre os headliners do Rock in Rio 2017, mas seguramente é uma das figuras mais interessantes do festival. A cantora de 51 anos estreou no Brasil na última quinta, 21, como uma das atrações da Rock Street, onde se apresenta também neste sábado e domingo, às 17h30.

“É a primeira vez que me dão a chance de apresentar meu próprio repertório em um evento desta dimensão, e poder fazer isso no Brasil é emocionante”, comenta. Antes de lançar a carreira solo em 2002, com o disco Electro Bamako, Mamani teve a oportunidade de viajar o mundo como backing vocal de Salif Keïta, cantor conhecido como “a voz de ouro da África” (e citado em “À Primeira Vista”, canção de Chico César, no verso “quando ouvi Salif Keïta, dancei”).

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Da “voz de ouro” a cantora herdou o desejo de mesclar a música do oeste africano com a sonoridade ocidental. “A música é sem fronteiras, e você não pode limitá-la a um só país ou a só uma região. Eu me lembro de, quando adolescente, ter muita vontade de tocar piano, saxofone. E desde que eu fui para a França consegui fazer essa mistura. Depois nunca mais parei de buscar maneiras para aprimorá-la.”

Mamani nasceu no Mali, e quem vê o grande sorriso que carrega e o ritmo contagiante de suas canções não imagina os desafios da trajetória que a trouxe até a capital fluminense. “Minha mãe sempre me disse que eu não deveria ser cantora, afinal eu não era uma griot [palavra africana que designa os indivíduos que têm o dever de preservar histórias, canções e fatos históricos do povo]. Mas meu irmão a convenceu de que este era meu destino. Minha avó, que tinha o mesmo nome que eu, era cantora também, e ela sempre foi uma inspiração.”

De profissão, o ofício evoluiu para uma paixão. “Eu acredito que a música me salvou, porque eu não sei o que seria da minha vida sem ela”, enfatiza. “Eu não fui para a escola, já que meninas não recebiam este tipo de tratamento na minha época. E a música é o que permite que eu crie a minha filha, que eu coloque comida dentro de casa. A música me libertou.”

E, ao ser libertada, Mamani enxergou mais caminhos a serem conquistados pela cultura. Em março, ela lançou o primeiro disco junto ao grupo feminista Les Amazones d’Afrique, formado apenas por cantoras africanas. Em République Amazone, Mamani, Kandia Kouyaté, Angélique Kidjo, Rokia Koné, Mariam Doumbia, Nneka, Mariam Koné, Massan Coulibaly, Madina N'Diaye, Madiaré Dramé, Mouneissa Tandina e Pamela Badjogo lutam contra as violências físicas e psicológicas sofridas pelas mulheres africanas ao cantar pela equidade de gêneros.

“No princípio, criamos o Les Amazones d’Afrique para lutar contra a mutilação genital feminina. É algo que me afeta muito, porque eu mesma passei por isso quando criança”, relembra. A prática acontece em 27 países do continente africano, e consiste na remoção ritualista de parte ou de todos os órgãos sexuais externos femininos.

“A música tem o poder de colocar o assunto em pauta. No Mali, antigamente nós não podíamos nem falar abertamente sobre isso. Mas com o grupo nós podemos cantar. E a repercussão do disco fez com que as mulheres pudessem não só opinar, mas denunciar grupos que ainda praticam a circuncisão.”

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