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Saiba como foi o Colossal Clusterfest, festival norte-americano que pretende ser o “Coachella das risadas”

Evento aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de junho, em São Francisco, na Califórnia, e reuniu nomes como Sarah Silverman e Jerry Seinfeld

Gus Lanzetta, de São Francisco Publicado em 08/06/2017, às 17h45 - Atualizado em 21/06/2017, às 17h02

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O comediante Jerry Seinfeld em performance na primeira edição do festival Colossal Clusterfast - Reprodução/Twitter
O comediante Jerry Seinfeld em performance na primeira edição do festival Colossal Clusterfast - Reprodução/Twitter

A primeira edição do Colossal Clusterfest aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de junho em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos. Organizado pelo canal de TV a cabo Comedy Central, o evento foi a primeira tentativa de misturar o popular formato dos festivais modernos de música com comédia (stand up, sitcoms, podcasts e comédia musical também). Por mais que já existam grandes festivais de comédia no mundo (os principais sendo os de Montreal e de Edimburgo), eles seguem um molde mais parecido com os dos festivais de cinema, com atrações espalhadas por diversos locais durante muitos dias, e cada um com sua bilheteria.

Sabendo que o público millennial já adora esse tipo de festival, a Comedy Central aproveitou a onda de popularidade da comédia e criou o Coachella das risadas.

Como alguém que faz stand up e já cobriu a Virada Cultural de São Paulo, a ideia de assistir a comediantes no meio da tarde, em um parque, não parecia promissora. Porém, a organização evitou a maior parte dos problemas ao criar três espaços internos para shows de stand up e usando os palcos ao ar livre para apresentações musicais ou de variedades durante o dia.

À noite, o show de encerramento era sempre no maior palco ao ar livre, o que causou alguns problemas, especialmente no sábado, 3. Bill Burr reclamou (de maneira descontraída, mas sincera) diversas vezes de estar se apresentando no frio em um "estacionamento". O show dele acabou sendo interrompido abruptamente: o limite de horário em que se podia fazer barulho havia passado. Temendo uma multa, a organização cortou o microfone de Burr, que reclamou de não ter recebido um aviso quando ainda havia uns minutos antes de encerrar.

Além dos problemas pontuais com a apresentação de Burr, os shows de stand up ao ar livre sofreram com a atmosfera pouco convidativa à risada. Milhares de pessoas de pé, no frio, prestando atenção em um telão a quase um quilômetro de distância, com uma acústica que não “segura” o som do riso, resultaram em espetáculos em que as primeiras fileiras riem e a grande maioria no máximo sorri. Foi impossível não se lembrar de Steve Martin, que se aposentou do stand up quando lotava estádios exatamente porque sentia que aqueles não eram o lugar ideal para comédia. É o ápice do sentimento de "devíamos ter ido ver o filme do Pelé". Ou, pelo menos, devíamos ter visto na Netflix.

O tamanho da plateia por si só não é um empecilho para um bom show de comédia nessa escala. Hannibal Burress ilustrou isso bem: os shows dele no palco interno, com público de cerca de 5 mil pessoas, foram incrivelmente bem-sucedidos. Ajudou muito o fato de o comediante agora ter um show mais produzido, com breves vídeos nos telões, um DJ e até a presença irônica de bailarinas no encerramento.

Foi nesse palco interno, o teatro Bill Graham, onde vários dos momentos mais memoráveis do Colossal Clusterfest aconteceram. O autodenominado absurdista TJ Miller (recém-saído de Silicon Valley) explorou ideias de como devemos aceitar e celebrar a morte e como o tempo é a coisa mais próxima que temos de uma divindade. Sarah Silverman testou piadas bem íntimas sobre masturbação. Nomes em ascensão na comédia, como Aparna Nancharla e James Adomian, mostraram que conseguem entreter muito bem milhares de pessoas.

No último dia, Bill Burr entrevistou Jerry Seinfeld. O icônico comediante falou sobre Comedians in Cars Getting Coffee (que chegará à Netflix em breve), sobre sua sitcom histórica e, é claro, stand up. Seinfeld reconheceu que a plateia do festival era de nerds de comédia. "Essas são as pessoas que se importam", ele comentou ao falar sobre os bastidores da vida de comediante, a qual ele disse que atraía pessoas "intolerantes, julgadoras e ranzinzas", que compensam essas características sendo engraçadas.

Seinfeld também falou a respeito de não ter usado drogas nem na época do boom da comédia, nos anos 1970 e 1980, e não sair depois dos shows nas suas viagens. "Se você quer ter essa cara aos 63, volte direto pro hotel", ele disse a Burr, que respondeu dizendo achar difícil evitar sair depois dos shows, mesmo sempre se arrependendo. Burr se divertiu muito entrevistando o próprio ídolo e arrancou risadas da plateia ao notar que Seinfeld parece nunca ter errado na carreira: "Você é um gênio ou um serial killer". Seinfeld também resumiu o que ele acredita ser a essência da comédia dele: "Gastar muito tempo em coisas insignificantes."

As atrações musicais pareceram meio deslocadas na programação, mas cumpriram um papel: animar o público que estava descansando o cérebro para aproveitar mais comédia. A melhor das apresentações musicais foi a hipnótica improvisação de Les Poole, acompanhado da Bastard Jazz Band, fazendo som com instrumentos pouco usuais.

Havia também dois palcos menores e fechados que simulavam muito bem o clima de um clube de comédia comum. Neles, vários nomes menos conhecidos da TV, mas adorados no meio, puderam fazer shows mais íntimos e despretensiosos, de stand up a podcasts, passando por leituras dramáticas de roteiros e até um show de drag queens. Essas apresentações são perfeitas pra quem é realmente fã de comédia e não tem tanto acesso às cidades onde comediantes normalmente estão executando ideias mais experimentais e relaxadas.

Claro que houve filas, frustrações por questões de horários e até alguns cancelamentos, afinal, é um festival. Mas o formato se provou viável no primeiro Clusterfest, que pode acabar se tornando mesmo o Coachella da comédia.