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Wagner Moura foi a “primeira e única” opção para interpretar Pablo Escobar em Narcos, diz José Padilha

“Nossas leis de incentivos para cinema e produções independentes são feitas para amansar os produtores. O governo dá para o mercado o mínimo que precisa dar para evitar que os artistas reclamem muito no jornal”; leia a entrevista completa com Padilha

Roberto Larroude Publicado em 26/07/2015, às 10h04 - Atualizado em 09/08/2015, às 00h30

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Diretor José Padilha no lançamento de <i>Robocop</i>. - Eric Charbonneau/AP
Diretor José Padilha no lançamento de <i>Robocop</i>. - Eric Charbonneau/AP

Em outubro de 2014, estivemos em Bogotá para acompanhar um dia das gravações da série da Netflix Narcos, cuja primeira temporada, com dez episódios, estreia no dia 28 de agosto (leia a reportagem aqui.). A produção tem como foco o lendário Pablo Escobar e o poder do narcotráfico na América Latina durante os anos 1980. Escobar é vivido por Wagner Moura e a direção geral da série é do também brasileiro José Padilha, que o dirigiu nos dois Tropa de Elite. Padilha não pôde conversar com a imprensa na ocasião da visita da Rolling Stone Brasil, mas respondeu por e-mail perguntas sobre o programa, Netflix, TV em geral e a indústria nacional. Leia abaixo.

Wagner Moura fala sobre novo filme, a carreira em Hollywood e o futuro distante das novelas.

Depois de uma grande produção como Robocop, existe alguma diferença para uma série como essa para a Netflix?

Existe uma diferença brutal entre filmes para cinema e minisséries. Em um filme, mesmo de estúdio, o diretor está envolvido em todas as decisões criativas - mesmo que discorde de algumas. Em uma série como Narcos, contada em dez horas e escrita/filmada muito mais rapidamente, isto não acontece. Em Narcos a minha função básica foi a de conceber e dirigir os dois primeiros episódios. Nestes, pude participar de todas as decisões e moldá-los ao meu jeito. Os demais episódios, como não escrevi ou dirigi, tive influência menor.

Galeria - Brasileiros em Hollywood.

Além de dirigir alguns episódios, você é produtor-executivo da série. O que muda nesse aspecto?

Os primeiros episódios de uma série servem como parâmetro para os demais, tanto na narrativa quanto no estilo de filmagem. Tipicamente, se convida um diretor para fazer estes episódios e a partir dai os demais são moldados no mesmo estilo por um time de escritores administrados por um showrunner. Os produtores executivos recebem estes episódios e fazem sugestões.

Durante a visita ao set de Narcos, em 2 de outubro do ano passado, no estacionamento que servia de cenário para a cena em Miami, quando o policial Steve Murphy perde seu parceiro e decide ir atrás da raiz do problema, na Colômbia. Boyd Holbrook, ator que interpreta Murphy, falou que é uma cena crucial. Quais as cenas mais importantes dos episódios que dirigiu? Ou as que mais gostou de gravar?

As minhas cenas preferidas são a introdução do Pablo Escobar, em que ele negocia com a polícia em uma ponte; a cena em que Cucaracha sobrevive ao fuzilamento e a cena em que Nancy Reagan fala sobre drogas logo antes de Pablo executar um de seus sócios.

Seu trabalho acaba quando entrega os 10 episódios finalizados ou, como a resposta é imediata após a estreia, vai acompanhar o lançamento? Gosta de acompanhar repercussão em redes sociais? Elas são uma ferramenta fundamental para o sistema da Netflix.

Na verdade, nunca acompanho o lançamento de meus projetos, sejam eles documentários, filmes ou series de TV. Prefiro relaxar e ver os resultado nas semanas seguintes. Além disso, a Netflix não divulga o resultado de suas séries, nem para os próprios produtores. De forma que não há como saber ao certo quando uma série fez um bom público ou não. Acho uma política interessante.

Como você vê esse tipo de distribuição de conteúdo?

A distribuição via internet é revolucionária porque permite a disponibilização global e simultânea de conteúdo, com um custo relativamente barato. Além disso, viabiliza o modelo de assinatura – em que o provedor de conteúdo tem uma receita recorrente que não depende necessariamente das vendas deste ou daquele programa, mas sim do interesse gerado pelo conjunto dos programas apresentados. Isto se traduz em liberdade criativa para os produtores, que podem ousar muito mais do que na TV tradicional, por exemplo, que sempre precisa dar audiência e que, por isto mesmo, tende a ser careta.

A escolha/convite para Wagner Moura para interpretar Pablo Escobar foi imediata, foi a primeira e única opção?

Primeira e única.

É uma produção norte-americana, mas rodada quase completamente fora dos Estados Unidos e com elenco e equipe predominantemente latinos. O que falta para realizarem mais coproduções entre os países da região: dinheiro, bons projetos, boa vontade?

As três coisas, e também um pouco mais de inteligência na criação de um mercado de audiovisual sustentável. Falta inteligência dos governos na construção e administração das políticas de incentivos e também por parte dos produtores, que se acostumaram a uma cultura de pouco risco e de pouco empreendedorismo. Tenho a convicção de que se houvesse empreendedorismo por parte dos produtores e bom senso por parte dos governos, os mercados latino-americanos seriam viáveis.

Temos chance de passar por um processo inverso: em vez de brasileiros irem para Hollywood, os estúdios começarem a se interessar em vir rodar aqui (ou no resto da América Latina)?

Não creio que tenderão a filmar no Brasil, por vários motivos. Primeiro, porque não é barato. Segundo, porque não há incentivo para produções internacionais como no Canadá. E, finalmente, porque as leis de incentivo não estão feitas para estimular coproduções em inglês com grandes estúdios, e nem para desenvolver uma indústria sustentável que filme em português. O mercado brasileiro sustentável é o do cabo e da TV aberta. As nossas leis de incentivos para cinema e produções independentes são feitas para amansar os produtores. O governo dá para o mercado o mínimo que precisa dar para evitar que os artistas reclamem muito no jornal. Não há uma lógica no sentido de levar a indústria do audiovisual independente a sustentabilidade.

Tirando a primeiríssima série da Netflix, que era mais para o mercado nórdico (Lilyhammer), os grandes investimentos do serviço ficavam mesmo nos Estados Unidos (até agora), que já exporta séries para o mundo todo com sucesso há algum tempo. Como acha que os públicos dos EUA e da Europa vão reagir a uma produção em outra língua, sobre um personagem latino (embora a série não seja apenas sobre o Escobar, seja sobre o tema tráfico de drogas)?

Acho que o publico vai gostar. O feedback que temos da imprensa europeia, por exemplo, é ótimo.

O que você assiste na Netflix ou na TV em geral?

Não assisto TV – fora os campeonatos de tênis e alguns jogos de futebol. Assisto algumas séries em canais a cabo e na Netflix, e vejo alguns filmes no cinema e na Netflix. Mas gosto mesmo é de ler!

Você jogou tênis na adolescência e pratica até hoje. O que esse esporte (a disciplina física dos treinamentos e a parte mental) te ajuda como cineasta?

No tênis você depende apenas de si mesmo. Se você não treinar diariamente você não têm bons resultados. Ou seja, o tênis ensina disciplina. E sem disciplina não se faz cinema.

Com quem gostaria de jogar tênis? Qual seu melhor golpe/estratégia de jogo – saque e voleio, por causa da sua altura?

Gostaria de jogar tênis com Roger Federer, que é um gênio do esporte. O melhor tenista de todos os tempos. Acho que meu melhor golpe é o forehand. Talvez seja o único confiável! Quanto ao saque e voleio – quase não existe mais por conta das raquetes modernas. Antes de você chegar na rede, a bola jeca esta voltando com um efeito incrível...

Próximos projetos: temporada 2 de Narcos? Tem alguma coisa antes?

Estou escrevendo um roteiro para a Warner e desenvolvendo alguns projetos independentes aqui nos Estados Unidos.