Quem Sumiu pelas Mãos do Exército

O Livro Negro do Terrorismo no Brasil desmente seus próprios criadores e confirma a participação do Exército na morte - ou desaparecimento - destes 23 brasileiros.

Lucas Figueiredo Publicado em 30/07/2007, às 11h14 - Atualizado em 09/08/2007, às 12h42

- André Grabois (PCdoB)

Carioca com cursos na China e na Albânia, ele foi um dos primeiros guerrilheiros a se instalar no Araguaia. Desapareceu em 1973, aos 27 anos. O livro secreto do CIE afirma na página 783 que Grabois foi morto em combate com as forças legais.

- João Gualberto Calatrônio (PCdoB)

Estudante secundarista, deixou o Espírito Santo em 1970 para juntar-se à Guerrilha do Araguaia. Viveu na região durante três anos, disfarçado de tropeiro, sob o codinome Zebão. Desapareceu em 1973. O livro secreto relata na página 783 que Calatrônio foi morto junto com Grabois.

- Antonio Alfredo Campos (PCdoB)

Era camponês e vivia com a mulher e os filhos no Araguaia. Seduzido pela promessa de revolução comunista, aderiu à guerrilha. Desapareceu em 1973. O livro secreto relata na página 783 que Antônio foi morto pelas forças legais.

- Divino Ferreira de Souza (PCdoB)

Após um período na China e na Albânia, no final de década de 1960, voltou clandestinamente ao Brasil e juntou-se à Guerrilha do Araguaia. Adotou o nome de guerra Nunes, disfarçando-se de comerciante e agricultor. Desapareceu em 1973, aos 31 anos de idade. O livro do CIE afirma, na página 783, que Souza tombou em combate.

- Antônio Carlos MonteiroTeixeira (PCdoB)

Junto com a mulher, Dinalva Oliveira Teixeira, este geólogo baiano aderiu à Guerrilha do Araguaia. Desapareceu em 1972, aos 28 anos de idade. (Sua mulher desapareceu no ano seguinte.) O livro secreto conta, nas páginas 724 e 725, que, no dia 29 de setembro de 1972, ele caiu numa emboscada.

- José Toledo de Oliveira (PCdoB)

Mineiro de Uberlândia, bancário, José Toledo foi preso, em 1969, por causa de sua militância política. Na prisão, foi duramente torturado. Solto, caiu na clandestinidade e juntou-se à Guerrilha do Araguaia. Desapareceu em 1972, aos 31 anos. Nas páginas 724 e 725 do livro do CIE, afirma-se que ele foi morto em combate.

- Francisco Manoel Chaves (PCdoB)

Foi expulso da Marinha em 1937 por causa de sua militância. Após o golpe militar de 1964, passou a ser perseguido. Fugiu para o Araguaia, onde aderiu à guerrilha - tinha então 60 anos. Desapareceu em 1972. As páginas 724 e 725 do livro secreto dizem que Francisco foi morto no dia 29 de setembro de 1972, ao cair numa emboscada.

- Manoel José Nurchis (PCdoB)

Operário paulista, juntou-se aos guerrilheiros do Araguaia para escapar da repressão. Em 1972, desapareceu. A posição oficial é desmentida pelo livro secreto, que na página 725 narra como Manoel foi morto por tropas da força terrestre.

- João Carlos Haas Sobrinho (PCdoB)

Médico gaúcho que se tornou guerrilheiro, João Carlos (nome de guerra Juca) desapareceu no Araguaia em 1972, aos 31 anos. O relato de como ele foi morto, por tropas legais, no dia 29 de setembro de 1972, está na página 725 do livro do CIE.

- Ciro Flávio Salasarde Oliveira (PCdoB)

Mineiro de Araguari, Ciro militou no movimento estudantil na década de 1960. Perseguido pela repressão, caiu na clandestinidade e virou guerrilheiro. Aos 29 anos de idade, desapareceu no Araguaia. O Exército admite, de forma vaga, que ele "teria sido morto em outubro de 1972", mas não explica em que condições. O livro secreto esclarece, na página 725, que Ciro foi morto em combate com soldados do Exército.

- Idalísio Soares AranhaFilho (PCdoB)

Nascido em Rubim (MG), Idalísio largou o curso de psicologia em 1971 e aderiu à Guerrilha do Araguaia. Passou a usar o nome falso de Aparício. Desapareceu no ano seguinte, aos 25 anos de idade. Até hoje, o Exército insiste em afirmar não ter matado o guerrilheiro. No entanto, o livro do CIE relata na página 720 que ele foi morto em choque com as forças legais, numa área conhecida como Perdidos, em julho de 1972.

- Kleber Lemos da Silva (PCdoB)

Carioca, desapareceu em 1972 no Araguaia. O Exército afirma que ele foi morto "em confronto com uma patrulha" e que o corpo foi "sepultado na selva". A versão, contudo, é desmontada pelo livro secreto. A página 720 diz que Kleber foi preso no dia 26 de julho de 1972, o que reforça o indício de que a força terrestre tenha executado o guerrilheiro e sumido com seu corpo.

- Maria Lúcia Petit da Silva (PCdoB)

Professora primária nascida em São Paulo, aderiu à Guerrilha do Araguaia junto com dois de seus irmãos, Lúcio e Jaime. Desapareceu em 1972, aos 22 anos de idade. (Seus irmãos desapareceram logo depois). A família localizou a ossada de Maria Lúcia em um cemitério de Xambioá (PA). Na página 720, o livro do CIE conta como foram os últimos momentos da guerrilheira.

- Miguel Pereira dos Santos (PCdoB)

Bancário nascido no Recife, adotou o nome de guerra Cazuza e juntou-se aos guerrilheiros do Araguaia. Desapareceu em 1972, aos 29 anos. Ele foi morto numa emboscada da força terrestre, como relata o livro secreto na página 724.

- Bergson Gurjão Farias (PCdoB)

Cearense, estudante de química, Bergson aderiu à Guerrilha do Araguaia depois de ter sido perseguido e baleado pela repressão. Desapareceu em 1972, aos 25 anos de idade. O Exército sempre negou ter matado o guerrilheiro. O livro secreto, porém, conta na página 720 que ele foi morto a tiros por soldados, na região de Caiano, quando procurava comida.

- Helenira Resende deSouza Margareth (PCdoB)

Estudante universitária em São Paulo, largou os estudos para aderir à Guerrilha do Araguaia. Desapareceu em 1972, aos 28 anos. A página 724 do livro secreto relata que ela foi morta no dia 28 de setembro de 1972, por uma patrulha do Exército.

- Boanerges de Souza Massa (MOLIPO)

Médico que atendia guerrilheiros feridos pela repressão, foi perseguido e caiu na clandestinidade. Depois de um período em Cuba, retornou ao Brasil, em 1971, e desapareceu logo em seguida. O livro do CIE reforça o indício de que ele foi executado.

- Antônio dos Três Reis Oliveira (ALN)

Mineiro de Tiros (MG), foi morto pela repressão em 1970, aos 26 anos de idade, na cidade de São Paulo. Foi enterrado como indigente, com nome falso, no Cemitério de Vila Formosa (SP). Seu corpo nunca foi encontrado. Oficialmente, o Exército não reconhece a morte de Antônio. O livro do CIE, contudo, relata sua morte na página 544.

- Wânio José de Mattos (VPR)

Em 1970, o governo Médici aceitou trocar 70 presos políticos pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, seqüestrado pela guerrilha. Wânio estava na lista. Desapareceu três anos depois, em Santiago. Só em 1992, a família de Wânio soube, pelas autoridades chilenas, que ele teria morrido. O livro secreto mostra que pelo menos quatro anos antes o Exército já sabia dessa versão e não contou à família.

- Alcery Maria Gomes da Silva (VPR)

Gaúcha, Alcery foi morta pela repressão em 1970. Seu corpo nunca foi localizado. O livro do CIE narra na página 544 como a militante foi abatida, em seu esconderijo em São Paulo, por agentes da Operação Bandeirantes (Oban).

- Ruy Carlos Vieira Berbert (MOLIPO)

Estudante universitário nascido em Regente Feijó (SP), desapareceu em 1971, logo após completar 25 anos. O Exército omitiu a informação de que ele tinha sido preso e que morrera nas mãos de seus captores, como mostra a página 607 do livro secreto.

- Joelson Crispim (VPR)

Operário nascido no Rio, Joelson desapareceu aos 24 anos. Foi enterrado como indigente no Cemitério de Vila Formosa (SP). Seu corpo nunca foi encontrado. O livro do CIE conta na página 544 como Joelson foi morto, a tiros, pela repressão.

- Francisco José de Oliveira (MOLIPO)

Morto pela repressão em 1971, aos 28 anos de idade, foi enterrado como indigente no Cemitério de Perus (SP). Seus restos mortais até hoje não foram identificados. O livro do CIE relata na página 606 como Francisco foi morto na rua Turiassú, no bairro da Pompéia, em São Paulo.

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