- Marcelo D2 e BNegão (Foto: Indie Clicks)

Muito além da Cannabis: Planet Hemp faz show impecável em nome da luta pela liberdade de expressão no Forró da Lua Cheia

O segundo dia do festival, realizado em Altinópolis, contou também com o reggae do Ponto de Equilíbrio e o suingue de Samuca e a Selva

Igor Brunaldi, de Altinópolis* Publicado em 22/06/2019, às 20h00

Segundo dia de Forró da Lua Cheia, e a lua cada vez menos cheia no céu. E, como uma antítese perfeita, esse processo de diminuição gradual da área visível do nosso homenageado satélite natural se opõe diretamente à movimentação crescente do público do festival, que foi de 7 mil na quinta, para 8 mil na sexta, 21 de junho.

Se no primeiro dia o frio ficou intenso só por volta do começo da madrugada, o segundo obrigou os casacos a saírem da mochila muito mais cedo. Apesar do sol que ainda brilhava morno e aos poucos se retirava, o fim da tarde fez todo mundo lembrar que realmente já entramos no inverno. Mas o que não faltou foi música que desse motivo para a galera se movimentar.

Ponto de Equilíbrio (Foto: Indie Clicks)

O primeiro grande nome que se apresentou quando a noite já havia tomado conta do céu foi o Ponto de Equilíbrio, que reuniu uma multidão no Palco Vale e presenteou os amantes do reggae com aquilo de melhor que há no gênero: uma música que ao mesmo tempo instiga a dança, a reflexão e o questionamento sobre aspectos da sociedade tidos como naturais, mas que na verdade foram enraizados à mão na história da humanidade.

Criado em 1999, o sexteto liderado pela voz rouca e marcante de Hélio Bentes fez o frio se dissipar com o calor humano que aumentava a cada hit cantado em uníssono pelos fãs. A longa setlist de 19 músicas apresentou clássicos como "Novo Dia", "Estar Com Você", "Hipócritas" e "Santa Kaya".

Diferente do Ponto de Equilíbrio, que esquentou o público com uma certa ternura, o Planet Hemp veio para aquecer com a adrenalina de um show impecável do seu rap e hardcore. Veteranos desse som híbrido, a banda, nascida em 1993, subverte a definição de “integrantes originais”. Esse termo, no caso do PH, não significa grande coisa, já que a banda se mostrou, ao longo desses tantos anos, uma família sempre em mutação e constantemente expansiva. E essas mudanças não chegam nem de perto a atrapalhar ou comprometer a química entre os integrantes que sobem atualmente ao palco.

D2 e BNegão, irmãos já de longa data, conduziram junto com o baixista e velho companheiro Formigão, o guitarrista Nobru Pederneiras e o baterista Pedro Garcia, uma apresentação carregada de uma força bruta do começo ao fim e, mais importante que tudo, com a noção de que é necessário saber equilibrar momentos de zona com momentos de falar sério.

Mancando e com o auxílio de uma bengala, Marcelo apareceu no Palco Vale e já deixou clara a mensagem da noite: “Avisa lá que a esquadrilha da fumaça tá de volta, pro terror dos fascistas”.

Dizer que o Planet Hemp só canta sobre maconha é ignorar descaradamente todo o engajamento sociopolítico das letras e da própria postura de afronta transmitida pelo show dos caras. Desde o momento em que soaram os primeiros acordes e reverberaram os primeiros gritos icônicos dos vocalistas, até a despedida, o quinteto promoveu inúmeros tributos a cidadãos brasileiros que marcaram a história da música, da luta pela liberdade de expressão, da igualdade e do direito ao respeito incondicional.

Marielle Franco, presente. E assim continuará por meio de todas as formas de intervenção artística. O legado de Mr. Catra também foi lembrado. Chico Science, eterno homenageado da banda, não faltou na lista. Do compositor pernambucano, aliás, a banda tocou o clássico "Samba Makossa", dedicado por eles ao falecido rapper Skunk, peça essencial na fundação do grupo. Durante a música, a imagem de outro artista também associada a essa composição brilhou na tela do fundo do palco: Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr, também recebeu sua preza.

O Planet Hemp honra a memória de batalhadores ao mesmo tempo que se posiciona na linha de frente do combate atual. A diversão e a libertinagem dos versos canábicos pelos quais são conhecidos também deixam os microfones quando é hora de falar sobre o cenário político brasileiro. E, tão intenso e claro quanto as porradas que são as linhas de baixo do Formigão, ou dos riffs do Nobru, é o posicionamento do Planet Hemp quanto a esse momento que o Brasil vive.

Gritos de motivação à luta contra o conformismo e contra qualquer atividade fascista atingiam a plateia por meio dos berros de BNegão: “não deem mole para esses filhos da puta”.

D2, por sua vez, deu um conselho: “mantenham-se vivos. É a maior merda que a gente pode fazer pra eles”. A incrível arte da sobrevivência como resistência.

E foi justamente a movimentação dele no palco, que mesmo com o pé quebrado por causa de uma partida de futebol, refletiu perfeitamente a inquietação e a adrenalina coletiva de todos os presentes. A bengala, aquela lá que o ajudou a subir ao palco, ficou mais no chão do que em sua mão. Uma cadeira de praia, que usava para sentar de vez em quando, foi sacudida, arremessada e não cumpriu muito bem sua única função de manter o rapper parado. 

O Planet Hemp faz show com dois objetivos bem determinados: o movimento do corpo e o movimento do pensamento.

Samuca e a Selva (Foto: Indie Clicks)

Samuca e a Selva foi um grupo que se apresentou em um horário no meio das duas atrações mencionadas, em um palco bem menor, o Lago, mas que juntou um grupo de fãs dedicados e cativados por cada som que vinha da banda e por cada passo da dança espontânea executada com leveza pelo vocalista Samuel.

Quem parou ali na frente, com certeza tomou essa decisão por alguns dos motivos a seguir (ou por todos eles juntos): pela expressão corporal do cantor, que imediatamente chama atenção, pela sonoridade flutuante que saía dos instrumentos (entre eles 4 de sopro), pela atmosfera leve que envolvia o lugar e/ou por, obviamente, já ser um fã. E com certeza que ficou para ver tudo, se divertiu e dançou ao som mais suingado que passou pelo Forró da Lua Cheia 2019 até agora e com direito até a funk improvisado aos gritos de “ei, Bolsonaro, vai tomar no cú”.

E foi com um frio intenso que se encerrou o segundo dia da 29ª edição do festival. O terceiro e penúltimo dia vai receber no palco Ney Matogrosso, Djonga e Xênia França.

* O repórter viajou a convite do festival

+++ De Emicida a Beyoncé: Drik Barbosa escolhe os melhores de todos os tempos

música notícia festival Planet Hemp Marcelo D2 BNegão Forró da Lua Cheia ponto de equilibrio

Leia também

Mel Lisboa fala sobre interpretar Rita Lee no teatro: 'É uma responsabilidade imensa'


Anitta ironiza moção de repúdio à Madonna, Pabllo Vittar e ela: 'To preocupadíssima'


Marina Sena, Baco, Gloria Groove e Diogo Nogueira se apresentam no 1º final de semana de TIM Music Rio


Lana Del Rey compôs música para trilha sonora de 007, mas foi rejeitada


Lady Gaga revela ter feito cinco shows do Chromatica Ball com covid-19


Confusão em Cannes: Tyga, Travis Scott e Alexander Edwards se envolvem em briga