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Allison Williams, a Marnie de Girls, comenta seu papel na série

Último episódio da segunda temporada será exibido neste domingo, 24, no Brasil

Paulo Terron Publicado em 24/03/2013, às 12h04 - Atualizado em 25/03/2013, às 18h47

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Marnie (Allison Williams)
A melhor amiga de Hannah é o oposto dela – conservadora e organizada – e está presa em um relacionamento estável, mas insatisfatório. As duas moram juntas. - reprodução
Marnie (Allison Williams) A melhor amiga de Hannah é o oposto dela – conservadora e organizada – e está presa em um relacionamento estável, mas insatisfatório. As duas moram juntas. - reprodução

Em Girls, cujo último episódio da segunda temporada será exibido na HBO Brasil neste domingo, 24, às 22h, a Marnie de Allison Williams é o contraponto conservador para a despudorada Hannah de Lena Dunham. A atriz passou pelo Brasil e conversou com a Rolling Stone Brasil sobre o assunto. Leia a íntegra da entrevista.

“Desculpe-me por ficar bebendo água”, disse a atriz, com um sorriso permanentemente estampado no rosto, depois de uma série de compromissos. “Não estou nem um pouco cansada, mas estou tentando não perder a voz – ela não está acostumada a isto.”

Aposto que você está feliz por estar no Brasil, onde seu pai [o âncora de telejornal Brian Williams] não é famoso e você não tem de falar sobre ele toda hora.

Não me incomoda nem um pouco! As pessoas têm me falado que, por aqui, tudo que conhecem dele é a comédia, as participações dele no Saturday Night Live, 30 Rock e [no talk show do] Jimmy Fallon. Acho muito engraçado todo mundo saber que ele é um cara sério das notícias, mas só verem o lado pateta dele. Mal posso esperar para contar a ele!

No começo achei que seria um saco para você ficar nessa situação de ter de falar do seu pai, só que parece que todo mundo só tem coisas boas para falar dele.

Certamente é um prazer. Também me sinto sortuda porque somos bastante próximos, tenho muito orgulho dele, e se fôssemos mais distantes seria estranho quando me perguntassem sobre ele. E a outra coisa é que... Sim, ele é respeitado, e é mais do que isso: acho que ele faz parte da minha história, cresci com dois jornalistas e sei que vocês precisam de algo para se agarrar [quando estão escrevendo sobre alguém], isso dá certa cor à história. Então, é normal que tenham me perguntado tanto sobre ele... E ainda perguntam. Graças a Deus me dou bem com ele! E agora também perguntam de mim para ele, estamos quites! [risos]

Tendo um passado na comédia, com um grupo de improviso e vídeos cômicos na web, como é que você acabou em uma série que até é engraçada, mas é basicamente dramática? Não faria mais sentido você estar no SNL?

Eu nunca tinha feito comédia antes da faculdade. Na escola, a regra dos meus pais era que eu só poderia atuar depois que me formasse no colegial.

Mas você sempre soube que queria fazer isso?

Eu sempre soube, desde quanto tinha 4 anos ou algo assim. Estudei teatro musical, que normalmente tem a ver com comédia. Estudei canto, fiz peças dramáticas completamente sérias e só bem no finzinho do colegial fui fazer comédia. Aí, já na faculdade, não fui selecionada no casting de um musical. Meus amigos me levaram a uma apresentação de improvisação de comédia para me alegrar e fiquei chocada. Não achava possível que aquilo fosse feito sem ensaio. Me senti obrigada a fazer um teste para aquele grupo para aprender aquela técnica. E foi a coisa mais importante que aprendi na faculdade: entendi que [a improvisação] poderia ser usada moderadamente em qualquer tipo de atuação, e o maior presente que aquilo me deu foi o de saber que qualquer coisa que aconteça é OK. Foi uma boa lição de vida para mim. Até ali eu era meio como a Marnie, a ideia de qualquer espontaneidade me assustava. A improvisação te ensina que, não importa o que aconteça, você vai dar um jeito. No nosso programa, qualquer coisa que aconteça – tipo um cara maluco gritar conosco na rua [durante as gravações] em Nova York, alguém quebrar um prato ou a sua roupa rasgar –, aprendemos a incorporar aquilo e continuar. Isso dá mais vida à série.

Quando me formei, nunca pensei especificamente no que queria fazer. Eu sabia que nesta indústria não existe a opção de se escolher o que fazer. Pensei que minhas primeiras chances seriam coisas como pequenas participações em Law & Order ou algo desse tipo. Eu ter decidido fazer um vídeo cantando o tema de Mad Men foi um acidente feliz, porque o Judd Apatow o viu e pediu para que eu fizesse um teste para o papel de Marnie. Foi muito por acaso que tudo isso aconteceu, meu esforço só adiantou no último momento possível. A maior parte foi sorte e coincidência. E acabei improvisando no meu teste, eu e a Lena fizemos uma cena de uns 5 minutos que foi completamente improvisada.

Li que a Lena chegou a fazer apresentações de stand up...

Eu também li isso, não fazia a menor ideia!

... achei que a comédia desse tipo podia ter sido o ponto de conexão entre vocês.

Não! Eu a conheci no meu teste. Já tinha visto Tiny Furniture e lido o piloto de Girls, que na época se chamava “The Untitled Lena Dunham Project”. E só descobri que ela tinha feito stand up recentemente, lendo uma entrevista. Foi uma grande surpresa. Só fico triste por nunca ter visto, porque deve ter sido muito engraçado. Tenho certeza que era exatamente como Hannah na série.

Fala-se muito sobre como a Lena fica nua o tempo todo em Girls, mas as outras garotas, incluindo você, não ficam. Chega a parecer que estão querendo forçar vocês. Você se sente vítima de bullying?

[risos] Isso é muito interessante. Não me sinto vítima de bullying, mas também não leio muito dessas coisas, fico meio isolada, assim como as outras. É algo tão pessoal que me permito não sucumbir a pressão alguma, de ninguém. É uma das poucas coisas que, como atriz, pode ser pessoal. É o seu corpo nu, é muito difícil fazer com que pareça o corpo nu da personagem.

E não é como se a sua personagem nunca se envolvesse em situações peculiares em relação ao sexo...

É exatamente o que eu ia dizer: a Marnie é a mais conservadora desde o começo, a Lena sempre disse que – nesse retrato de quatro garotas – era muito importante que ela fosse a que se sentia desconfortável com o corpo dela. Não por algum motivo em especial, apenas porque ela é assim. Não gosta de ficar livre, ao vento. Quando ela está transando com o Elijah e fica se cobrindo... É daquele modo que a maior parte das garotas se comporta durante o sexo: querendo cobrir o corpo, notando que a luz ali não ajuda, lembrando que é a primeira vez que aquele cara está vendo-a sem roupas. Muita gente se identifica com aquilo, várias garotas me dizem: “estou feliz por haver alguém na série que tem mais pudor porque eu sou assim”. E, claro, todo mundo gostaria de se sentir tão confortável quanto a Lena é em relação ao próprio corpo na série. No primeiro episódio, quando ela simplesmente tira a roupa e vai para a cama... É maravilhoso. Nem todo mundo é daquele modo. Mas há um pouco para todo mundo [na série].

Quando a Jessa [interpretada por Jemima Kirke] mostrou o seio em um episódio, na internet parecia que havia ocorrido um touch down no Super Bowl.

[risos] Que engraçado! Eu não sabia disso. Ela tem seios incríveis, o que posso dizer? Também amo a forma como ela fez a cena, dizendo “este é o bom”. Amei aquilo. A cena dela na banheira com a Lena também é fofa. Há algumas coisas que parecem sempre voltar à série, e a banheira parece ser uma delas. Mas sim, [a nudez] é um tema recorrente. Para mim é mais pessoal, não quero ter filhos um dia e eles terem de aguentar os amigos mostrando fotos da mãe deles pelada. Simples assim.

É o seu primeiro grande papel. É assustador ainda estar crescendo e ter tanta gente vendo?

Nessas horas sou grata por meus pais não terem me deixado atuar profissionalmente até me formar na faculdade. Mesmo sendo apenas quatro anos, esse processo foi adiado. Claro, nem eu nem eles imaginávamos que tudo aconteceria tão rapidamente e de forma tão grande como está sendo. Quero dizer, eu estaria feliz se tive sido escolhida para uma série que não tivesse dado certo, ou até apenas para fazer um piloto que não desse em nada. Só ser escolhida para algo já teria sido emocionante. Eu estava com uma vida inteira planejada em Los Angeles, e ela não me permitia nenhum outro tipo de trabalho. Eu trabalhava como tutora, mentora, era voluntária em algumas coisas. Tive de deixar tudo para trás por causa deste papel, eu não esperava conseguir um trabalho tão rapidamente. O bom do ritmo do nosso programa é que há muito tempo para se pensar, há muito espaço de silêncio. Entre o piloto e a série, houve um tempo de espera e ansiedade, torcida. Entre a série vingar e começarmos a gravar, ganhamos um pouco de atenção [da mídia e do público]. Nesse momento, pude pensar sobre o que achava e como lidaria com aquilo. Tenho sorte de ter o apoio de amigos e familiares desde o começo, conversamos bastante sobre tudo. Não foi de uma hora para a outra, como pode parecer... Realmente é estranho, mas também é empolgante. Sinto-me orgulhosa de fazer parte de algo de que me orgulho. Acredito que isso é raro, em especial por ser meu primeiro trabalho. Espero que isso signifique que eu vá continuar interpretando a Marnie por muito tempo, além de outras papeis bem diferentes dela. Filmes, peças, discos... Quero fazer tudo isso.

O que te atraiu no roteiro do piloto?

Três coisas foram fundamentais. Primeiro, os diálogos – são estranhamente realistas. Eu perguntei para os meus agentes se eram transcritos de conversas verdadeiras na primeira vez que os li. Agora sei que é mais ou menos isso, é assim que a Lena escreve: ela se lembra de conversas que teve, mas essa capacidade de escrever como as pessoas falam na vida real... É quase única, não me lembro de nenhuma outra série que seja assim. Em segundo, a relação da Marnie com o Charlie. Nunca vi um relacionamento na TV que fosse tão específico. Já havia visto amigos passarem por aquilo, eu havia experimentado aspectos daquilo – são relacionamentos nos quais o equilíbrio de poder não faz sentido. Ela diz: “o toque dele agora parece o de um tio estranho no Dia de Ação de Graças”. Ela quer dizer que o fato de ele ser legal só a deixa mais nervosa. Aquilo é muito único, tentar explicar isso foi um atrativo. E a terceira foi a amizade entre a Hannah e a Marnie. No piloto já dava para saber que seria algo complicado, que muita coisa aconteceria. Ver algo que começou na faculdade ser transferido para outro contexto me pareceu intelectualmente interessante. Além disso, eu estava passando pela mesma coisa. Estou, ainda, com meus amigos da faculdade todos morando em Nova York, tentando reajustar nossas vidas e amizade. Essa é a minha vida atualmente. Eu tinha muito interesse em explorar esses três fatores. O denominador comum é a Lena, ela é um gênio. Depois de ver Tiny Furniture e o piloto, pensei: “quero muito trabalhar com essa mocinha, e sei que – mesmo que eu não esteja na série – vou assisti-la toda semana. Só que com muita inveja e rancor de quem interpretasse a Marnie”. Porque era algo que eu queria muito.

No começo, Girls era muito comparada com Sex and the City. Recentemente, no entanto, li que a maior parte da audiência é masculina. Por que você acha que isso acontece?

Ahn... Há alguns fatores, mas acho que muitas mulheres assistem e comentam em casa e os pais pensam que [ver o programa] é uma forma de entender, de se relacionar melhor com as filhas. “Quero entender isso pelo que ela está passando.” Judd Apatow é um dos nossos produtores, e acho que o nome dele ajuda a atrair esse público. E acredito que o programa atingiu um nível de relevância cultural inegável por causa da Lena. Todo mundo que quer entender o zeitgeist vai pelo menos tentar assistir e acabar se viciando. Por mais falhas que os personagens tenham, eles são carismáticos. O fato deles não serem perfeitos me parece muito moderno e fresco. Meu pai se encaixa nessa pesquisa – não quanto à idade – e acho que ele veria a série mesmo se eu não estivesse nela. Porque gera assunto para conversas, é o que está acontecendo agora. Não sei como era com Sex and the City, mas acho essa comparação fascinante e tenho certeza de que há similaridades.

E talvez as coisas já não sejam mais tão divididas entre masculino e feminino. Ou em idades.

Não! É como uma balança. Vivemos em um momento em que as coisas que acontecem com as garotas da série também ocorrem com pessoas de mais de 30 anos. Há mudanças radicais de profissão para gente com mais de 40 – e isso é normal agora. Nos Estados Unidos, a aposentadoria é aos 65 anos. Para mim, parece ser cedo demais! É bizarro, porque as pessoas de 65 que conheço estão começando uma fase nova de algo. Sim, já não é tão radical quanto era antes. A diferença não é mais tão clara entre um homem de 65 e uma garota de 24. É uma grande mistura de pessoas.

Por quanto tempo você acha que consegue fazer a série com essa empolgação de hoje?

Cara... Em primeiro lugar, tenho muita sorte de ter essa oportunidade de falar sobre o programa. Sinto que tenho uma desconexão estranha em relação a ele, como se eu não fizesse parte dele. Talvez porque eu tenha estudado Literatura e História na faculdade, então gosto de analisar as coisas. Sei que pode parecer incomum. Enquanto estivermos no ar – e eu estiver viva – sentirei orgulho da série. Tendo terminado a segunda temporada... Atuar como a Marnie na primeira temporada foi quase que 100% diferente do que foi na segunda. Ela está em uma situação diferente, foi difícil dar continuidade à personagem. As variáveis são completamente diferentes. Se continuar mudando assim, nunca vou me cansar. E mesmo se ela continuasse sendo exatamente a mesma em todas as temporadas, eu estaria feliz. Conhecendo a Lena, sei que isso não vai acontecer. Ela tem muito interesse em ver as garotas tentando e errando.