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Altered Carbon, série de ficção científica da Netflix, traz novas perspectivas éticas acerca da morte

Baseada no livro de mesmo nome publicado em 2002 por Richard K. Morgan, primeira temporada da produção tem dez episódios e estreia em 2 de fevereiro

Stella Rodrigues Publicado em 30/01/2018, às 12h55 - Atualizado às 13h15

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<b>Outros Desafios</b><br>
Martha e Kinnaman em cena de <i>Altered Carbon</i>: viver para sempre é possível
 - Katie Yu/Netflix/Divulgação
<b>Outros Desafios</b><br> Martha e Kinnaman em cena de <i>Altered Carbon</i>: viver para sempre é possível - Katie Yu/Netflix/Divulgação

Desde que começou a atividade de imaginar histórias, a raça humana se vê circulando a questão da morte e pensando em novas maneiras em como derrotá-la. Faz parte da nossa natureza ter dificuldade em aceitar a finitude da vida, o que torna o tema riquíssimo em possibilidades dentro da ficção. Especialmente no ramo da ficção científica, no qual proliferam contos sobre reverter ou impedir o que e? irreversível e impossível de impedir: a morte de todas as coisas vivas.

Enquanto as religiões têm suas maneiras próprias de lidar com o tema, a ficção científica dobra e retorce os limites da ética em prol das boas histórias. E quando pensamos as duas coisas juntas fica melhor ainda. É o que acontece em Altered Carbon, nova série da Netflix, que estreia em 2 de fevereiro. Baseada no livro de mesmo nome publicado em 2002 por Richard K. Morgan, a série, cuja primeira temporada tem dez episódios, se passa em um futuro em que as pessoas podem armazenar sua consciência (em “stacks”) e transportá-la de um corpo para outro, de forma que uma senhorinha pode, por exemplo, continuar vivendo dentro do corpo de um homem todo mal-encarado – a não ser que, por motivos religiosos, opte por não trocar de corpo diante da morte. Como não poderia deixar de ser, apesar de todos terem a possibilidade de usar essa tecnologia, os mais ricos têm acesso a corpos melhores enquanto os menos abastados ficam com corpos (ou “sleeves”) inferiores.

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“Estamos indo nessa direção, acho que é muito possível”, afirma Joel Kinnaman, protagonista da série, que esteve no Brasil para divulgá-la na Comic Con Experience. O ator de RoboCop vive Takeshi Kovacs, que pertencia a uma unidade militar criada para lidar com as guerras interestelares (com treinamento para sobreviver e lutar dentro dos mais diferentes corpos). Kovacs morreu e foi trazido de volta (no corpo de Kinnaman) por um sujeito rico, Laurens Bancroft, que está convencido de que foi assassinado, embora oficialmente a causa da morte tenha sido suicídio. Ele traz Kovacs de volta para que este investigue o que aconteceu.

“É relativo, porque eu acho que se você pudesse perguntar para alguém que viveu há 100 anos, essa pessoa diria que a gente conseguiu enganar a morte”, argumenta Renée Goldsberry, intérprete da personagem Quell, refletindo a respeito das nossas reais possibilidades de vencer a mortalidade. “Como humanos, nosso desejo sempre foi ter mais tempo. O que continuamos tentando melhorar é a qualidade desse tempo que passamos aqui.”

“Estão tentando transportar cérebros e produzir órgãos em impressoras 3D. Com tudo isso, fica muito plausível. Acho que estamos no caminho de os seres humanos e a tecnologia se tornarem uma coisa só”, complementa Kinnaman, que, se pudesse, gostaria de emprestar seu corpo para que o líder político Nelson Mandela continuasse a missão que vinha cumprindo antes de morrer, em 2013. “Quando o corpo perde a importância dessa forma, questões como gênero e raça ficam completamente sem valor”, complementa ele, analisando os aspectos éticos que mudariam positivamente com a possibilidade de trocar de corpo.

Dichen Lachman, que vive Reileen na série, concorda que essa seja uma possibilidade tangível, mas se mostra menos afeita às revoluções tecnológicas. “Estamos seguindo por um caminho no qual vamos chegar ao ponto em que o desemprego será massivo”, diz. “A tecnologia vem ameaçando tantos empregos, e as empresas só querem aumentar as margens de lucro, então se der para arrumar uma máquina que trabalhe de graça, que se pague em alguns meses, eles adquirem. Mas essas empresas não estão enxergando a longo prazo, porque para quem eles estão fazendo essas coisas todas, quem vai comprá-las?”

Como destaca a coprotagonista Martha Higareda, que vive a detetive Ortega, “com o desenvolvimento da tecnologia nesse nível, a tendência de os ricos ficarem mais ricos e os pobres ficarem mais pobres só aumenta”. Isso aparece na série de uma maneira bastante clara, já que apenas os mais ricos conseguem alterar o corpo que habitam para mantê-lo jovem e saudável. As outras pessoas precisam passar pelo processo de envelhecimento e adoecimento a cada “reencarnação”, de forma que muitas delas acabam optando por não continuar “revivendo” por muito tempo.

“Tem muitas teorias de que o próprio corpo tem inteligência, ele aprende alguns hábitos e tem uma ‘mente’ própria”, explica Kinnaman. “No mundo da nossa série, quando você troca de corpo acaba sendo muito afetado por ele e, se troca muitas vezes, acaba enlouquecendo.”