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A Arte da Conquista

Interpretando uma vilã elegante em Salve Jorge, Claudia Raia sabe muito bem o que deseja – e tem dedicação extrema para conseguir

Carina Martins Publicado em 10/11/2012, às 10h00 - Atualizado às 10h28

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Claudia Raia na capa da edição de novembro da <i>Rolling Stone Brasil</i>
Claudia Raia na capa da edição de novembro da <i>Rolling Stone Brasil</i>

Entusiasmado significa cheio de deus. não é pouca coisa para alguém dizer sobre si mesmo. Mas é o que Claudia Raia diz. “Há poucos dias, fiquei sabendo que entusiasmo, em latim, é estar repleta de Deus. Então eu descobri por que eu sou tão entusiasmada, né? É o que eu sou.” A precisão da fala da atriz vai além da lisonjeira autoanálise que ela propõe. A definição é exata porque, apesar de Claudia igualar entusiasmo e alegria (“nasci com o chip da alegria” é um bordão que repete sempre), o termo significa mais do que isso. Mais do que inspiração divina ou alegria intensa, ele designa “ardor na realização” e “dedicação fervorosa”, diz o Houaiss. O estado humano de comunhão com o divino é subjetivo; a dedicação fervorosa de Claudia Raia em relação a tudo que ela faz é fato. Mirou em Deus e acertou no homem.

A definição também é precisa, em segundo lugar, porque entrega uma característica da atriz que é tão forte quanto sua animada determinação – ao fazer o que quer e dizer o que pensa, e ela quer e pensa muitas coisas, Claudia se expõe. Generosa e honestamente. Isso acontece quando ela, para realizar o sonho de viver um personagem, se dispõe ao risco de interpretar canções icônicas ao vivo; ou quando essa mesma personagem pede que ela, aos 45 anos, passe duas horas e meia dançando de calcinha em um palco. Essa exposição aconteceu ainda quando ela era bailarina e virou atriz aos 16, sem saber bem o que estava acontecendo, só porque queria muito estrelar A Chorus Line. Acontece também quando Claudia, já famosa, se esgueira pela Globo quase de madrugada para fazer clandestinamente um teste negado a ela, e que provará que é atriz e não “só” comediante. Algumas vezes, essa exposição vem na forma do reconhecimento do próprio valor; ou, trocando em miúdos, do autoelogio.

Nessas horas, e são muitas, Claudia diz coisas como essas, como a admissão de que se considera uma pessoa tomada pela inspiração divina. Os adeptos da modéstia a qualquer preço podem estranhar. Podem se perguntar que tipo de gente afirma essas coisas. Gente como Claudia Raia. Entusiasmada. “Normalmente não é essa moleza”, diz a atriz em sua primeira conversa com a Rolling Stone. O encontro foi no fim da tarde de uma terça-feira de 37o C, na casa noturna do Rio de Janeiro que servia como locação para a gravação de Salve Jorge, novela das 21h da TV Globo em que vive a vilã Lívia. O expediente tinha começado dez horas antes e a 35 quilômetros de distância. Das 7h às 11h, ela fez uma série de cenas de estúdio no Projac, zona oeste do Rio. De lá, seguiu para o bairro da Saúde, onde a gravação foi aberta à imprensa. Era o capítulo da festa de “descasamento” da personagem de Cleo Pires, um evento que reunia boa parte do elenco, quase sem falas, apropriado ao ambiente que contava com a invasão convidada de dezenas de figurantes e jornalistas.

Talvez a única coisa mais chata do que assistir a uma balada de novela seja gravar uma balada de novela. Foram quase seis horas de cenas picotadas, interrompidas a todo o momento, pequenos takes para garantir imagens de muitas situações dos personagens. Todo mundo espera, nada engrena, e ainda há um DJ tocando Maroon 5 nas cenas de pista. Durante os minutos de intervalo entre takes, o trabalho continua. As paradas serviram para Claudia Raia espremer sessões de fotos de um ou dois minutos, antes de o diretor chamar de volta, ela mudar de cara, trocar a risada por um meio sorriso, erguer o queixo e virar Lívia automaticamente. A atriz usou as pausas ainda para encaixar uma entrevista coletiva dividida em três partes de 15 minutos. As perguntas a que respondia no intervalo da gravação, quase em sua totalidade, já tinham sido publicadas nos dias anteriores pelos mesmos veículos que as repetiam agora. Mas ela responde com animação a todas as questões. Corrige informações. Fala muito. Os jornalistas comentam que ela “rende”. Alguém pergunta o que a irrita. Ela diz que é burrice e incompetência. Todos riem. Risos.

Às 17h, ao enfim conversar apenas com a RS, ela já estava vestida de Claudia Raia: igualmente impecável, mas muito mais vibrante. Macacão de linho azul-royal aberto nas costas, rasteirinha dourada, ainda com os cílios postiços de Lívia, discutindo questões de patrocinador e passagens de avião em seu iPhone de capa rosa-choque. Enquanto a equipe desmonta o cenário, uma dúzia de trabalhadores gritando e promovendo o estrondo plástico do processo de embalagem, nos sentamos de pernas cruzadas, uma de frente para a outra em um dos sofás que vai continuar onde está. A concentração dela agora é toda dedicada à entrevista.

Claudia achou tranquilo porque, apesar de as dez horas de gravação serem a média, em um dia normal ela faz entre 25 e 30 cenas nesse período. “São cenas de muito texto, sempre. Uma quantidade de cenas enorme. Pauleira mesmo, entra, grava, sai, troca a roupa, entra, grava, sai…”, explica. Isso acontece de segunda a quarta, quando os dias são completados com o processo de decorar as falas da novela, aulas de balé e a infalível malhação, que faz em casa, seja a hora que for – de madrugada antes do trabalho, de madrugada depois do trabalho. “Pelo amor de Deus, se eu não malhar eu não faço o que eu tenho que fazer lá!” O “lá” se refere à segunda parte de sua rotina semanal, que começa na quinta cedo, quando ela voa para São Paulo. Mais balé, malhação, aula de canto e a apresentação todas as noites, de quinta a domingo, – duas sessões aos sábados – de Cabaret, musical de duas horas e meia que ela protagoniza há um ano. As crianças também vão para São Paulo nos finais de semana. E o namorado, o ator Jarbas Homem de Mello, divide o palco com ela. “Tudo num pacote. Facilita horrores”, ela brinca. Como o espetáculo acaba muito tarde, Claudia só consegue voltar para o Rio na primeira ponte aérea de segunda-feira. E recomeça o processo. “Preguiça é uma palavra que não existe na minha vida”, declara. “Mas claro que tem horas em que eu falo: ‘Ai, gente, por que eu tenho que fazer tudo? O tempo todo?” Para essas horas, ela gostaria de ganhar de um gênio dois desejos: uma cápsula que a transportasse para qualquer lugar em 4 ou 5 segundos; e que o dia tivesse 29 horas. Mas não gostaria de ser duas pessoas. “Que me transformasse em duas eu não ia gostar, porque eu sou muito centralizadora.” O desejo de Claudia, em suma, é poder fazer mais tudo o tempo todo.


É a exposição inevitável a que se submetem os entusiasmados durante sua jornada de conquista. A cara dada a tapa já tinha feito sua aparição dias antes da conversa, durante uma apresentação de Cabaret. O teatro, lotado como sempre, aplaudiu Claudia Raia após sua performance como a bailarina exímia que todos esperam, a atriz maior do que o telespectador conhece e a cantora que se esforça para ser. Para interpretar Sally Bowles, papel que tentava viver havia 20 anos, ela precisa unir o canto à dança e à interpretação, suas especialidades. O resultado, ao vivo e cinco vezes por semana, cantando alguns dos maiores clássicos da história dos musicais, mostra limites que ela não tem nas outras coisas que faz. E que só aparecem porque acomodação é uma palavra que causa ainda mais estranhamento a ela do que preguiça. Não há erros. Há limites, aliás, limites novos, que vêm depois da conquista de outros limites, um a um. Nesse dia, durante o clímax de sua versão para a icônica “Maybe This Time”, a garganta não aguentou o tranco. E ela não gosta de ouvir isso.

“É? Esse dia que você foi me ver eu estava bem doente, com uma laringite braba. Eu tava ali lutando. A gente não sai falando que está doente, que está com isso, com aquilo, porque também não tem como. Não interessa, tem que fazer. Mas eu tava à base de cortisona, tava barra-pesada ali para mim”, ela explica. Nunca fica insegura? “Fico, claro que fico. Tem um momento no ‘Maybe This Time’, que não é esse que você falou, é um outro, que eu cantava normalmente e de repente comecei a ter uns momentos meio assim... Às vezes você encalha numa nota. Começou a não sair num dia, no segundo, no terceiro... Aí o Jarbas chegou pra mim e falou: ‘Que isso, amor, o que houve?’ ‘Não sei, não sei o que que eu estou fazendo.’ ‘Como não sabe o que você está fazendo, você tem a nota. Você canta isso, que palhaçada é essa agora de começar a engastalhar nessa nota que você já tem? Para de palhaçada, vai lá, abre a boca e canta.’ Fui lá, abri a boca e cantei. Acho que fiquei com medo do gaúcho, né”, brinca.

Essa história indica duas coisas. Uma é o poder que as coisas têm quando entram na cabeça de Claudia. A outra é o quanto a habilidade de cantar que tem hoje é, para ela, uma conquista feita literalmente nota a nota. Quando responde se existe algo que ela tenha conseguido 100% graças à determinação ou teimosia, ela não vacila: “Cantar. Foi totalmente por teimosia. Continua sendo. Comecei a cantar agora, na verdade”, diz. “E fico muito feliz de ter crescido o que já cresci. Meu maestro me ensinou a celebrar as minhas vitórias. Antes eu só falava da nota que eu não tinha dado, do que eu não tinha feito... Fala do que você deu. Não dar uma nota numa música inteira é simplesmente conseguir fazer tudo que você não fazia. Então, é celebrar as vitórias, mesmo.” Crescendo nota a nota, protagonizou “apenas” oito musicais nos últimos 21 anos.

Como no caso da nota desaparecida, Jarbas Homem de Mello, namorado oficial há quase um ano, é figura frequente quando Claudia fala de momentos em que precisa de apoio. É ele quem vai dirigi-la em um projeto ainda não definido de teatro clássico falado; é a ele que ela atribui a rigidez de não comer “nem uma azeitona a mais” durante o tempo em cartaz, dançando de calcinha, mesmo sendo ela historicamente ultradisciplinada. Não é à toa. Forte e autônoma o suficiente para ser “eu mesma que me alavanco” nos momentos de fraqueza, é na direção das pessoas amadas que ela dirige sua vulnerabilidade.

“Minha personalidade realmente não tem muito essa coisa da fragilidade. Mas eu tenho momentos em que pareço uma adolescente com 12 anos, gorda, cheia de espinha na cara”, diz. “Tem, óbvio, uma parte em mim de fragilidade que é mais emocional, e não profissional. Acredito que seja muito pela falta do meu pai, que perdi com 4 anos. Depois de tantos anos de análise, você começa a perceber que tem esse tipo de insegurança ou que aquilo te toca de uma certa maneira que você não consegue reagir muito bem. Agora, em nada demoro para reagir. Se tenho uma baixa, eu mesma percebo o que acontece ou tenho do meu lado um companheiro que me ajuda. Eu mesma não aguento este estado.”

O fim do casamento de 17 anos com o ator Edson Celulari, há dois anos, foi um desses momentos de derrubada. Claudia nunca usa nem aceita palavras como dor e sofrimento. Mas é isso que ela descreve. “Me desestabilizou muito, se você quer saber. Um momento em que eu fiquei bastante frágil. Com meus filhos, como ia ser encarar essa vida sozinha, sem uma família junto...”, desabafa. “A constatação nós dois tivemos ao mesmo tempo. Que bênção, até nisso a gente combina. Mas foi difícil. A gente tentou, tem filho no meio.” A saída encontrada, como sempre, foi o trabalho e o riso. “Eu estava fazendo a novela Ti-ti-ti, ia me arrastando para aquela comédia de altíssimo escalão, que era uma maravilha... E eu chegava lá e falava: ‘Não queeero’... Porque era comédia do começo ao fim! Na verdade, acho que foi a própria personagem que me tirou do buraco. Sempre na comédia, sempre na alegria, né, incrível isso. Foi aí que eu consegui me apoiar. Graças a Deus eu tinha aquela novela para fazer.”


Sempre que a oportunidade permite, Claudia faz questão de ressaltar seu apreço pelo ex-marido e o orgulho que tem da relação que conseguiram manter depois da separação, especialmente com relação aos filhos. “A gente não tem dia certo para pegar, vai quando quer, é superfácil esse acerto”, diz, acrescentando que Celulari tem total acesso à casa dela e à família. Geralmente, as crianças “ficam comigo de sexta a domingo. Porque o Edson está fazendo novela aqui [no Rio], fica mais fácil porque ele está fixo no mesmo lugar”.

A novela que o ex faz é Guerra dos Sexos, trama das 19h escrita por Silvio de Abreu, autor com quem Claudia Raia tem uma parceria histórica e que a tinha escalado para o papel de Vânia Trabuco, hoje vivida por Luana Piovani. O trabalho foi um dos que Claudia rejeitou durante a temporada de Cabaret, já que a TV Globo não permite mais que atores façam peças e novelas simultaneamente, por uma questão de logística. A exceção foi aberta para Claudia em Salve Jorge, segundo ela, por um comprometimento da autora Gloria Perez. Mas, caso tivesse aceitado o papel em Guerra dos Sexos, Claudia teria que fazer cenas de amor com Celulari, já que os personagens dos dois têm um caso na trama. “Mas não foi por isso, não. Não foi mesmo. Minha relação com ele é muito boa. Edson é um profissional maravilhoso, e eu também, a gente tava lotado de amigos, bem protegidos, sabe, é o Jorge Fernando, é o Silvio de Abreu.” Mas não quer dizer que seria algo fácil para ela. “Não, talvez ainda não. Se tivesse que fazer agora, a gente faria. Mas é claro que se for mais pra frente eu acho mais tranquilo.” “Muito romântica”, do tipo que trata “meus homens como se fossem reis”, ela quase sempre tem um companheiro. E eles “são muito fortes. Se estou com a pessoa é porque estou muito envolvida, e tenho um apoio”, diz.

O compromisso com as relações é tanto que Claudia não titubeia em corrigir uma repórter durante a coletiva, que diz que ela já tinha sido casada uma vez. “Fui casada duas vezes”, interrompe, assertiva. Não é todo mundo que faz questão de lembrar do ex, especialmente quando você vira estrela do horário nobre da Globo e ele se torna ator pornô, como é o caso de Alexandre Frota, com quem Claudia foi casada de 1986 a 1989.

A caminho da sessão de fotos para esta capa, nos encontramos por acaso no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. De legging preta, óculos escuros e uma echarpe protegendo a garganta, na “vida real”, Claudia andava de mãos dadas com Jarbas Homem de Mello – exatamente como tinha chegado, na noite anterior, à festa de lançamento de Salve Jorge, uma das únicas a posar com o par não global para as fotos. Quando a abordo escolhendo palmilhas em uma loja do aeroporto, ela me apresenta o namorado, e conta para ele, entusiasmada, partes da entrevista. Lembra-se de quando perguntei sobre suas fragilidades, diz que falou dele e faz um chamego no namorado. Palavra que, aliás, ela usa exatamente tanto quanto qualquer outra menina que namore há alguns meses: sempre que pode. “Meu namorado.”

Graças à história de sua autoproclamada extrema feiúra na infância, Claudia diz que “desenvolveu uma lábia” para conquistar o sexo oposto. Tinha uma amiga linda e sem graça que era sempre rodeada pelos meninos. “Comecei a fazer um exercício de roubar os meninos dela”, conta. Mas era algo consciente? “Não era questão de consciência, era questão de me olhar no espelho”, ri. O exercício deu certo e, logo, nas festinhas “estava eu lá, a sedutora”. E hoje, continua a ser ela quem toma a iniciativa. “Sim, menina. Se bem que agora arrumei um gaúcho que me corta as asinhas.”

Ela chega ao estúdio na zona oeste de São Paulo com as roupas da viagem, e é apresentada a Alexandre Herchcovitch, com quem nunca havia trabalhado e que é o responsável pelo styling da sessão. É amor à primeira vista. Enquanto é maquiada, ele se senta ao lado dela e ouve atento à narração detalhada da trama da novela, que estrearia em alguns dias. Claudia conta detalhes que chegam até aos planos que seriam usados em algumas cenas. E a sala cheia de profissionais assiste como se já estivesse realmente acompanhando o folhetim. Doente e ao longo das horas que levam os preparativos para a sessão de fotos – ela veio de manhã do Rio e sairá no fim da tarde já para o teatro –, Claudia entretém a equipe sem descanso. Quase como se esse fosse realmente seu papel em todas as situações da vida.

Quando enfim está pronta para posar, usando as peças reveladoras da vilã das fotos, o que entretém a todos é um dos maiores clichês a respeito de Claudia Raia: a bunda. Não há cafajestagem alguma, o clima é de admiração, até de respeito. Porque bunda todo mundo tem e, portanto, pode ter a dimensão do trabalho que é administrar uma. E é uma bunda vintage, nada do bumbunzinho magro das esguias de hoje ou do glúteo agressivo das saradas. Não é glúteo, não é derrière. É uma bunda, como antigamente. Redonda, proporcional à expansiva dona de 1,80 m. Um case de gerenciamento inegável.


Menos comentada, talvez porque a maquiagem da TV padronize todas, mas igualmente merecedora de exclamação, é a pele de Claudia Raia. Branca sem interrupção, sem rugas, sem manchas, sem linhas, sem pintas. “É genética. Mas nunca bebi, nunca fumei, nunca tomei sol”, explica a gerente de si mesma. Apesar de orgulhosa do próprio desempenho, ela diz que não se acha linda. “Bonita, pra mim, não é o que eu sou. Meu conceito de beleza é outro. Por exemplo, se eu me visse na rua, ia falar, poxa, que mulher interessante. Grandona, tudo combina, o cabelo combina... Interessante. Mas, linda, não”, diz. As lindas, para ela, são donas de belezas clássicas, irretocáveis. “Gisele Bündchen. A Maitê Proença, também linda de matar.”O padrão é alto, e suas colegas entram com ela no balaio das interessantes. “A Giovanna Antonelli, acho uma mulher interessantíssima. Não acho linda, acho interessantíssima. Prefiro as mulheres interessantes às bonitas. A Cleo [Pires], acho uma mulher interessantíssima, diferente, exótica. Mas assim, lindas, lindas, não são - como eu também não acho que eu seja. Então é uma coisa de conceito de beleza mesmo.”

Ela completa que passou pela fase de ser “ser um mulherão para depois ser reconhecida”, mas acha que nenhuma atriz precisa se submeter a isso hoje. “Claro que há uma tentativa sempre de que seja dessa maneira. Mas acho meio esquisito quando as pessoas são bonitas e gostosas, e dizem: ‘Ai, eu não quero ser só um corpo’. Você não vai ser só um corpo. Você vai se você quiser.” Mais: ela acha que as lindas devem abraçar o atributo extra e usá-lo a seu favor. “Às mulheres bonitas, dou um conselho: aproveitem. Porque beleza não é para todo mundo. Então é um plus, verdadeiramente.”

A mulher que Claudia encarna para esta capa também está no rol das interessantes. É como uma versão sem disfarces da dissimulada Lívia, de Salve Jorge. “Esse personagem pra mim é um desafio louco. Tem que apertar a tecla sap em mim mesma, é o menos, o menos, o que não aparece, o que está por trás. Que é um diapasão que eu nunca trabalhei. Então pra mim é um exercício diário, eu não posso soltar, porque, se eu ficar numa boa numa gravação, eu vou fazer a minha energia. E não é isso. É o contrário.” Mas nem tudo é diferença entre a vilã e a Claudia Raia. Afinal, as vilãs sempre conseguem o que querem. “Eu também”, ele admite. Então, como conciliar a sanha conquistadora com uma moral de mocinha?

“As vilãs conseguem as coisas pisando em quem for e do jeito que tiver que ser”, ela começa. “Não costumo agir assim na minha vida. Não porque eu seja boazinha nem nada. É porque acho que o ‘não’ já está implícito. Por exemplo: vou pedir um patrocínio. Já é não. De cara. Então vou tentar receber um sim. Por isso que insisto tanto. Porque pode ter um momento em que o patrocinador se interesse por aquele projeto, que eu vá falar a frase certa, que vai chegar nele e que também o produto dele encaixe com o meu produto, porque senão também tudo é de mentira.”

“Eu acho que tem uma dose enorme de coração e de envolvimento meu nas coisas que quero”, prossegue. “Eu costumo dizer que o meu querer é quase igual ao de criança, que vê aquela bicicleta e quer tanto, tanto, que tem. É um querer sem limites, com olho brilhando de criança, sabe? É tão genuíno, tão forte isso em mim... Que não pode fazer mal. E que na verdade não danifica ninguém.” Um querer entusiasmado.