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A construção de Bruno Mars, o artista que já nasceu um astro pop

Brian Hiatt Publicado em 16/07/2013, às 18h55 - Atualizado em 07/11/2017, às 19h53

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<b>REI DO POP</b> Mars curte a vida adoidado, em Los Angeles - Theo Wenner
<b>REI DO POP</b> Mars curte a vida adoidado, em Los Angeles - Theo Wenner

Ele está dirigindo um Cadillac preto com janelas escurecidas, em direção a um anoitecer que tinge o horizonte de rosa. É um glorioso fim de tarde em West Hollywood, Los Angeles, e por que não seria? Bruno Mars tem mais uma música rumo ao topo das paradas, uma turnê com ingressos esgotados, uma namorada que ele ama e nenhuma preocupação. Exceto a ideia de ficar doente e cancelar um show – nunca suportaria faltar a um. Mars é um astro pop à moda antiga, bem-vestido, sedutor e de voz elástica que teria sido igualmente bem-sucedido em 1960. Ele está usando uma calça marrom elegante e camisa havaiana de manga curta com estampa de flores e aves – como nasceu no Havaí, tudo bem. Nos pés, mocassins de couro de crocodilo (sem meias). Na cabeça, um chapéu marrom. Mars é bonito de uma maneira multiétnica, quase futurista: é como se seu rosto fosse desenhado por um grupo de pesquisas. Filho de pele dourada de um judeu porto-riquenho e uma filipina, nunca pensou muito sobre raça no Havaí: “Todos meio que são mestiços ali, bronzeados de sol”, diz. “Então, para mim foi um choque chegar aqui.” Ele ficou espantado quando executivos de gravadoras tiveram dificuldade em categorizá-lo. “Eles falavam sobre ‘Que rádio tocaria isto?’ e basicamente tudo remete a ‘Quem vai comprar seus álbuns? Brancos ou negros?’”

Como Bruno Mars, ex-imitador mirim de Elvis Presley, tornou-se o homem de ouro da música pop.

Mars tem 27 anos e está no show business desde quando começou a imitar Elvis Presley com a banda da família, aos 2 anos. Isso dá um quarto de século de carreira, o que significa que ele tem mais experiência de palco do que, digamos, Justin Timberlake. O pai de Mars, Peter “Dr. Doo-Wop” Hernandez, lembra-se de diminuir as luzes na sala de parto enquanto a esposa dava à luz, para que fosse “quase como uma boate”, e de tocar “músicas antigas, mas boas”, em um toca- -fitas para dar as boas-vindas ao filho – nascido Peter G. Hernandez. Aos 4 anos, Mars apareceu como um Elvis minúsculo no filme Lua de Mel em Las Vegas e foi entrevistado pela MTV. Durante o ensino fundamental, ele cantava com a banda da família em um clube lotado, fazendo dois shows por noite. No entanto, aos 11, como explica, isso acabou. Não é difícil dizer que ele passou os últimos 16 anos tentando recuperar tudo.

Ele entra em um estacionamento subterrâneo e somos levados à sala de jantar na cobertura da filial de West Hollywood do clube Soho House, onde o artista tem a melhor mesa do lugar. O sol se pôs e as janelas mostram a maior parte de Los Angeles – incluindo a casa dele, em algum ponto de Hollywood Hills – brilhando sob seus pés.

Bruno Mars nunca teve um período de inatividade: sempre se interessou por mulheres. No jardim de infância, ficava embasbacado pelas lindas cantoras de vestidos brilhantes que via nos bastidores. “Pensava: ‘Estas garotas não se parecem com as da escola’”, relembra, de olhos arregalados. Desde o início, amava se apresentar com a banda da família, a Love Notes. “Esperava a hora de sair da escola”, conta. “Ficava olhando o relógio, esperando dar 14h15.” Ele decorava fitas de vídeo de Elvis, James Brown e Michael Jackson e até hoje assiste à apresentação de Brown no T.A.M.I. Show, ou Hendrix em Woodstock, ou Prince cantando “Purple Rain” antes de subir ao palco. Uma noite, quando tinha 5 anos, ele se esqueceu de ir ao banheiro antes do show e molhou o macacão enquanto cantava “Can’t Help Falling in Love”. O público tentou não rir e a mãe dele chorou – depois, os pais se perguntaram por um momento se estavam cometendo um erro. O próprio Mars nunca hesitou.

A banda Love Notes, especializada em doo-wop e outros ritmos dos anos 50, fazia sucesso tocando covers. Peter, o pai de Bruno, pagava US$ 1.000 por semana aos integrantes no auge do grupo, de acordo com um deles, o amigo da família Bobby Brooks Wilson. Peter também estava se saindo bem como empreendedor, com negócios que iam de um salão de tatuagens temporárias a duas lojas enormes de suvenires. O pai de Mars é bonito e bom de papo – conheceu a mãe do cantor, Bernadette (que morreu depois de sofrer um aneurisma, no início de junho), em uma apresentação polinésia. “Ele era um percussionista latino”, diz Bruno Mars. “Minha mãe era dançarina de hula, e ele a conquistou.” No auge do sucesso, Peter tinha sete Cadillacs e a família morava em uma casa grande em Kahala. “O quarto do Bruno era do tamanho da sala de estar da maioria das pessoas”, lembra Wilson. “E tinha uma minibateria, uma guitarra em miniatura, um minipiano, alguns instrumentos de percussão. Ele me levava para o quarto: ‘Bobby, olha! Consigo tocar esta aqui!’” Wilson lembra que Mars uma vez ficou de mau humor quando tinha 7 ou 8 anos – estava furioso por estar gripado e a mãe lhe proibir de se apresentar naquela noite.

Quando ele tinha 11 anos, a banda se desfez, assim como o casamento dos pais. Por motivos dos quais Mars não fala muito, os muitos negócios do pai também afundaram. Todo o dinheiro acabou e Mars se mudou com Peter para “as favelas do Havaí”. Foi uma adaptação difícil. “Sabe de uma coisa? Percebi que não trocaria aquilo por nada, cara”, diz, tomando uma cerveja no Soho House, “porque acho que consigo aproveitar isto muito mais.”

O pai o ensinou músicas do The Ventures e Chuck Berry na guitarra, mesmo quando Mars estava se interessando por músicas mais modernas, atraído pela produção dos Neptunes e de Timbaland. Peter montou uma nova banda; Mars subia ao palco, cantava faixas como “My Girl” e também abria com sua própria boy band no estilo do ’NSync, a School Boys. Mars se viu de volta ao mundo do entretenimento havaiano, ganhando US$ 75 por show enquanto ainda estava no ensino médio, como número de abertura para uma apresentação de mágica e interpretando Michael Jackson em um show de imitadores de celebridades. Era assustadoramente bom, como imagens disponíveis no YouTube demonstram – era um dançarino muito melhor do que demonstra ser agora. “Só porque consigo fazer o moonwalk não significa que eu deva fazer”, afirma. Também estava em posição de realizar suas fantasias de bastidores: de acordo com Wilson, quando tinha 16 anos, Mars começou a namorar uma cantora de pouco mais de 20, escondendo a relação da mãe. Bruno é mais comedido sobre o sucesso com as mulheres. “Meus pais me ensinaram que um cavalheiro nunca sai por aí contando”, diz.

No canto da sala de estar de Mars, perto de uma lareira acesa, há um piano. O astro está sentado às teclas, demonstrando como compôs seu quinto single número 1, “When I Was Your Man”, aqui mesmo. Está orgulhoso do fato de que a gravação tem apenas piano e voz. Também é a música mais pessoal já lançada por ele, que tem medo de ficar confessional demais. “Não sou fã de sentir dó de si mesmo”, diz. “Para mim, a música é: ‘Quero me sentir bem’ ou ‘Quero dançar’, e não cantar sobre crescer no Havaí e ‘minha luta para me relacionar’.” Com extrema relutância, Mars revela que compôs “When I Was Your Man” sobre a atual namorada, a modelo Jessica Caban – achava que estava prestes a perdê-la. A música começa com acordes simples e um verso que refletia o arrependimento: “Deveria ter comprado flores”. Só que ele fica tão desconfortável em falar disso, que em um momento enterra a cabeça nos braços sobre a mesa. “Não vou responder a nenhuma pergunta sobre essa música”, protesta. “É pessoal demais.” A narrativa da faixa é exagerada: Caban nunca realmente o abandonou. Na vida real, ele diz, “foi um final feliz”, mas ele acha difícil cantar a música. “Você está dando tudo de si e a grava, fica orgulhoso, mas, quando a apresenta, está trazendo essas emoções à tona. É como sangrar!”

Mars começou tarde a compor. Foi embora do Havaí depois de se formar no ensino médio. Assinou um contrato com a Motown, que não tinha ideia do que fazer com ele e, quando isso ruiu, Mars percebeu que teria de começar a compor e se uniu a Philip Lawrence – mais tarde e com a adição de Ari Levine, eles formariam o The Smeezingtons, grupo de produção e composição que fez faixas para Sugababes e Sean Kingston. Duas das melhores produções – “Nothin’ on You” e “Billionaire” – estouraram, com Mars cantando o refrão. Eles correram para gravar o primeiro álbum do cantor enquanto as músicas ainda estavam nas paradas. Agora, Mars praticamente parou de escrever para outros artistas. “Essa parte de mim meio que morreu”, afirma. “Porque, sabe, não é um esporte.” Ele está tentando puxar as rédeas de sua ambição. “Já estou doido para entrar em estúdio”, diz, dando um suspiro. “Só que estou tentando curtir o momento – ficava muito preso em visualizar minha vida lá atrás, para onde quero levar a música.” Ele acende um cigarro – espera abandonar logo, embora não esteja tão preocupado com o efeito em sua voz .

Ultimamente, tem sentido falta do Havaí. “Todo mundo é muito contente lá”, diz. “Você está aqui para ser alguém, ninguém está simplesmente vivendo. No Havaí, a mentalidade é mais: ‘Bom, estamos no paraíso e estamos, sabe, vivendo’.” Ele recuperou tudo o que tinha perdido – e mais. A verdade é que não planejou muito além deste ponto. “Não sei onde vou parar”, conta, “mas quero continuar compondo músicas. Escrever uma boa música dá uma sensação que não se consegue de nenhum outro lugar. Você sempre quer essa sensação, do mesmo jeito que sempre quer comer bem, sempre quer estar apaixonado.” Mars nunca imaginou a vida longe das multidões e dos aplausos. “Isso está comigo há tanto tempo”, diz. “Sabe, sempre foi: ‘Tudo bem, vejo vocês mais tarde, vou fazer o show’.” Só que não há nenhum show hoje, nenhum ensaio à tarde – para variar, nenhum lugar em que precise estar. Ele se recosta em uma cadeira, tocando o violão aos pés das palmeiras enfileiradas sob o vasto céu sem nuvens do quintal da casa dele. Tudo está perfeito e, por um momento, ele está simplesmente vivendo.