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Dez anos sem Syd Barrett

Paulo Cavalcanti Publicado em 07/07/2016, às 18h58 - Atualizado às 19h19

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Dez anos sem Syd Barrett - AP
Dez anos sem Syd Barrett - AP

“Arnold Layne”



Esta pérola da psicodelia pop conta a estranha saga de Arnold Layne, um sujeito que tem a como hobby roubar roupas femininas (especialmente peças intimas) dos varais de roupa. Layne é pego com a mão na massa (“ele está cumprindo pena, e ele odeia”). Depois, fica implícito que ele é solto, mas o compulsivo Layne começa a roubar de novo (“Arnold Layne, não faça isso novamente”). Na faixa, Barrett já mostra uma imaginação febril e a canção, apesar do tema pouco convencional, fez um grande sucesso como single. Com a também polêmica “Candy and a Currant Bun" no lado B, “Arnold Layne” chegou ao 20º posto da parada inglesa e foi uma sensação na Europa.


“See Emily Play”



Com uma melodia capaz de deixar os Beatles com inveja, esta criação de Syd Barrett foi lançada como single em 1967 e também obteve grande sucesso. Barrett dizia que a canção foi inspirada em uma garota que ele viu dormindo na floresta. Mas na verdade existia sim uma Emily. A personagem por trás da canção era Emily Young, que frequentava o clube psicodélico UFO. Por causa do sucesso do single, a banda foi ao popular programa Top of The Pops para dublá-la. Foi o momento máximo de Barrett como astro pop – e ele detestou tudo aquilo intensamente. David Bowie falou que Barrett era uma “influência enorme no meu trabalho”; o cantor fez uma cover de “Emily” no álbum Pin Ups (1973). “See Emily Play” foi lançada no Brasil em compacto pela gravadora Fermata e não teve nenhuma repercussão. Hoje, é um item raro e cobiçado pelos colecionadores do mundo todo.


"Apples and Oranges"



O Pink Floyd já havia lançado dois singles com êxito. Assim, "Apples and Oranges" foi bastante aguardada. Mas as expectativas não foram cumpridas; a canção nem sequer chegou a entrar nas paradas da Inglaterra. Apesar de extremamente intrigante, a faixa não tinha o mesmo apelo comercial de “Arnold Layne” e “See Emily Play”. Os ganchos não eram fortes e as mudanças de tempo presentes na melodia também não agradaram. Mesmo assim, a banda promoveu a canção em sua tumultuada passagem pelos Estados Unidos no verão de 1967. Eles mostraram a faixa no lendário American Bandstand, programa de TV apresentado por Dick Clark. A letra fala de um encontro do narrador da canção com uma garota em um supermercado (daí as maçãs e laranjas do título).


"Astronomy Domine"



A faixa que abre The Piper at the Gates of Dawn já mostrava o interesse do quarteto pelo nascente rock espacial. "Astronomy Domine", escrita por Barrett com o tecladista Rick Wright, logo se tornou um das faixas mais icônicas do estilo. Aqui, a sensação de uma viagem espacial é completa – Barrett toca a sua Fender Esquire usando um efeito de eco e o inquietante baixo de Roger Waters mantém a tensão. Os instrumentos deles se juntam ao viajante órgão Farfisa tocado por Wright e à percussão de Dave Mason. O clima sonoro se torna hipnótico e em pouco tempo estamos transitando por Júpiter, Saturno e outros planetas, como relata a letra.


“Bike”



As bicicletas eram uma fonte de interesse para Syd Barrett e ele mostrou isso em The Piper at the Gates of Dawn. Os músicos do Pink Floyd literalmente montaram uma bicicleta dentro do estúdio para extrair o som das correntes, buzinas e sinos. A melodia de piano dá aos versos de Barrett um tom de ameaça. Apesar dos toques de música concreta, “Bike” tem uma melodia contagiante.


"Vegetable Man”



Uma das canções mais polêmicas de toda a história do Pink Floyd, "Vegetable Man” ainda incomoda a banda. Ela foi gravada em 1967 e, mesmo sendo totalmente anticomercial, até foi cogitada para se lançada como single. Mas foi vetada e até hoje a versão original segue nos arquivos. O estranho é que o Pink Floyd a tocou na rádio BBC em dezembro de 1967 e esta é única versão disponível. "Vegetable Man” é uma espécie de autorretrato de Barrett, que se descrevia como um “homem vegetal”, algo que realmente iria acontecer em alguns anos. Mas a banda se recusa a lançar a versão de estúdio – talvez por não gostarem de ouvir do amigo se desintegrando.


"Jugband Blues"



Quando o Pink Floyd lançou o segundo álbum, Saucerful of Secrets, em junho de 1968, Syd Barrett já não reunia condições de funcionar adequadamente do contexto da banda. O amigo David Gilmour entrou no lugar dele e, com o novo guitarrista, o trabalho foi concluído. Mas "Jugband Blues", uma das últimas coisas que Barrett gravou com os companheiros, acabou sendo incluída no trabalho. A canção pode ser interpretada como uma despedida. Barrett, que àquela altura já avançava pela esquizofrenia, não escondia sua alienação em relação ao resto do mundo. Ele cantava: “É muita consideração de vocês pensarem em mim aqui/ E eu me sinto no dever de deixar claro/ Que eu não estou aqui”.


“Terrapin”



A faixa que abre o álbum The Madcap Laughs mostra o interesse do artista pelo blues. “Terrapin” foi gravada em abril de 1969. Sobre uma base de violão ampliada por overdubs elétricos, Barrett convida a namorada para um passeio em um paraíso submarino que só poderia existir na mente dele. A faixa se tornou icônica e batizou um fanzine sobre Barrett editado na década de 1970. David Gilmour costumava cantá-la ao vivo e o registro pode ser visto no DVD David Gilmour in Concert.


“Babe Lemonade”



A faixa abre Barrett, segundo disco solo do músico. Se a composição com levada folk lembra muito o Pink Floyd, existe um bom motivo. A melodia foi inspirada em "Scream Thy Last Scream", faixa que ele gravou com a antiga banda, mas que segue inédita até hoje. Barrett também preparou uma versão para a rádio BBC e ela integra o álbum The Peel Session, com gravações feitas para o programa do radialista John Peel. Anos depois, a faixa deu nome a uma banda de revivalistas psicodélicos que acompanharam Arthur Lee, o frontman do Love.


“Wouldn’t You Miss Me (Dark Globe)”



Lançado em 1988, Opel era um apanhado de raridades e sobras de estúdio dos dois discos solo lançados por Barrett. Um dos destaques era “Wouldn’t You Miss Me (Dark Globe)”, um perturbador pedido de ajuda. Ele gravou a canção em 1969 e ela se tornou cultuada – Soundgarden e R.E.M são algumas das bandas que a executaram ao vivo.