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Em Bom Português

Novo perfil de assinante valoriza a dublagem de séries e filmes e acaba com a era das legendas na TV a cabo

Filipe Albuquerque Publicado em 13/02/2012, às 11h43

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<b>QUE VOZ É ESSA?</b> As aventuras de Arnold Schwarzenegger ganham um clima cômico, dependendo da
dublagem. - divulgação
<b>QUE VOZ É ESSA?</b> As aventuras de Arnold Schwarzenegger ganham um clima cômico, dependendo da dublagem. - divulgação

O personagem casca-grossa entra em cena. É promessa de pancadaria, ossos quebrados, litros de sangue, saraivadas de metralhadora e carros voando pelos ares. Mas a voz dele é igual à do seu Madruga, da série Chaves. Aí, não tem Vin Diesel ou Gerard Butler que segure a credibilidade do machão.

Ou sim. Porque a dublagem hoje é realidade no universo de possibilidades que as TVs a cabo oferecem. O que antes era uma praxe das estações abertas estabeleceu-se nas pagas. E a tendência, para o bem ou para o mal, é a sua permanência. Para o agrado da maioria dos assinantes.

É o que revela pesquisa da Associação Brasileira das TVs por Assinatura (ABTA) do ano passado. Segundo o levantamento, 76% dos telespectadores da classe C preferem conteúdo dublado. E na hora de agradar ao público que cresce exponencialmente na base de assinantes – segundo cálculos da Anatel, hoje são 38 milhões –, as TVs a cabo não vacilam e apresentam uma lista crescente de programas dublados. Na Sony, as primeiras temporadas de Grey’s Anatomy e CSI são dubladas, sem a opção do áudio original via tecla sap. A série The Firm, com pré-estreia mundial em 19 de fevereiro nos canais ANX, Sony e Sony Spin, e regularmente a partir de abril na AXN, chegará já dublada. A Fox oferece a possibilidade de escolha entre o áudio original e o dublado. Já no FX, não há opção. Séries como Uma Família da Pesada e The Office já são todas dubladas. Os fãs xingaram muito no Twitter.

“Oferecer a opção de dublagem ou legendas é um trabalho feito em conjunto entre os canais e as operadoras de TV paga”, explica Marcello Braga, diretor de marketing da Fox Channels do Brasil. A FX, ele diz, já trabalha para oferecer em breve ambos os áudios aos assinantes. A opção pela dublagem está ligada à demanda. “Fomos precursores na dublagem entre os canais de filmes e séries e obtivemos ótimos resultados”, diz. “Nossa audiência aumentou.” A NET, maior operadora nacional de TV a cabo, divulgou que possui a tecnologia, mas que depende das emissoras para fornecer os dois áudios e as legendas – o que geraria um custo maior para cada canal.

Para Sóvero Pereira, gerente de marketing da rede Telecine, “os canais dublados têm um público certo”. Lançado há seis anos, o Telecine Pipoca é hoje líder em audiência entre os canais da rede e faz pesquisas anuais para identificar o desejo dos assinantes. “As pessoas realmente querem ter à disposição os filmes dublados”, afirma Pereira.

No leque de atrações da HBO, os canais HBO, HBOPlus e HBOHD exibem programas com o conteúdo no idioma original, com legendas. Mas a dublagem é parte importante do cardápio da rede, aponta Gustavo Grossman, gerente-geral da HBO Networks. “Precisamos estar atentos ao que o mercado está pedindo”, diz. Pesquisas da rede apontaram a classe C como a mais crescente entre o grupo de assinantes.

Mas a dublagem não é unanimidade. Levantamento de 2011 feito pela Revista da TV, do jornal O Globo, registra que 80% dos assinantes preferem o áudio original ao em português. O fato é que a TV a cabo está perdendo o status de refúgio para os amantes mais puristas de séries e filmes, que sempre detestaram o conteúdo dublado das emissoras abertas e encontraram nos canais pagos um paraíso de conteúdo com áudio original.

Eliseu Lopes Filho, coordenador do Curso Sequencial em Animação da Faap, vê problemas na dublagem. Por ser uma versão do tema, e não uma tradução, algumas sutilezas do original se perdem. “O ator constrói um personagem, procura o tom [certo] de voz, em que momento sobe ou baixa a voz”, analisa. Para ele, um dos problemas da dublagem, que conta com um elenco de atores e um diretor, é que o dublador não tem o mesmo envolvimento do ator com o personagem. “Ele não tem como saber até que ponto a voz do Jack Nicholson é daquele jeito ou se é apenas para o personagem.”

Diretor social do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro, o dublador Dario de Castro já fez, entre outras, as vozes de Arnold Schwarzenegger (em Efeito Colateral) e Morgan Freeman (em A Volta do Todo Poderoso). Para ele, a preferência pela dublagem está ligada à qualidade do serviço entregue pelos dubladores. “Em uma residência, o áudio em português permite ao telespectador se afastar da TV e ainda continuar acompanhando a história”, avalia.

“A grande massa tem dificuldade [com legendas]”, observa Eliseu, a partir de sua experiência dando aulas em espaços culturais na periferia de São Paulo. “Com a popularização da TV a cabo, adolescentes e universitários não querem legenda. Preferem a tela cheia”, diz. Para ele, a dublagem é reflexo de um novo perfil de telespectador: mais interessado em comodidade – às vezes preguiçoso –, acostumado com o que experimenta nas TVs abertas e que dá preferência à facilidade da dublagem. “E a minoria que quer conteúdo original consome de outras formas”, finaliza.