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A Farra Chega ao Fim

Com um derradeiro capítulo chegando, trilogia Se Beber, Não Case! encerra uma série de caos e sucesso

Stella Rodrigues Publicado em 28/05/2013, às 15h42 - Atualizado às 15h50

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<b>Ainda muito loucos</b> (A partir da esq.) Bradley Cooper, Zack Galifianakis e Ed Helms: juntos novamente, talvez pela última vez - CORTESIA Warner Bros. Pictures
<b>Ainda muito loucos</b> (A partir da esq.) Bradley Cooper, Zack Galifianakis e Ed Helms: juntos novamente, talvez pela última vez - CORTESIA Warner Bros. Pictures

O clima abafado e irrequieto de Las Vegas é o desafio a ser superado neste momento das filmagens de Se Beber, Não Case! – Parte III. Conforme o dia passa e o sol se movimenta, as marcações de posição em cena dos atores mudam e a equipe precisa ir se adaptando. Enquanto isso, os jornalistas observam a ação pelas janelas, posicionados dentro de uma loja de penhores cenográfica que carrega itens de todos os tipos – armas, controles de TV antigos e móveis de gosto duvidoso.

A cena em questão – um momento de reviravolta próximo ao final do filme, de acordo com o que o elenco revelou posteriormente – não entrega muito da trama. A “matilha” (wolfpack) desce de um automóvel e se dirige para outro, todo amassado na lataria, em uma rua fantasiada de região sórdida no Downtown, bairro afastado do glamour e das luzes brilhantes da Strip – avenida que concentra os pomposos cassinos e, consequentemente, os turistas. Ao fim da travessia, Alan (Zach Galifianakis) desiste de entrar no carro com os companheiros de aventuras bizarras Stu (Ed Helms), Phil (Bradley Cooper) e Doug (Justin Bartha). Ele explica algo sobre ter de seguir o próprio caminho e, quando o veículo deixa a cena, Alan caminha em direção à loja. “Corta! De novo!”, grita o diretor Todd Phillips, e tudo se repete por mais quase oito horas.

Nos últimos anos, Se Beber, Não Case! teve um papel decisivo para a evolução do gênero comédia no cinema. Se os filmes “de maconheiro” (stoner) estavam começando a soar parecidos entre si e as comédias pastelão se encontravam em baixa, havia um espaço a ser preenchido para o humor direcionado às massas. O primeiro filme, lançado em 2009, não apenas fez isso, como conquistou a crítica pelas inovações e ousadia. De lá para cá, todos atores do elenco principal conquistaram espaço no cinema e na televisão e caminharam para se tornar o que os norte-americanos chamam de “household name” – nomes reconhecidos pela maior parcela do público médio. Aparentemente, apenas os turistas de Las Vegas, com os olhos vidrados na jogatina, tiveram dificuldade para reconhecer o elenco: nos intervalos das filmagens, os atores conseguiam circular pelas máquinas caça-níqueis do icônico hotel Caesars Palace sem serem incomodados por outros hóspedes. “Las Vegas é o lugar perfeito para se rodar um filme, porque está todo mundo distraído aqui”, comenta Phillips, rindo.

Em Se Beber, Não Case! – Parte III, que estreia em 30 de maio, Alan é novamente o pivô da desordem. “Ele pode ser bem unidimensional”, define Galifianakis. “Acho que neste terceiro roteiro queremos vê-lo crescer o máximo que for possível. Ele sente culpa pelo que fez nas outras duas narrativas e está reconsiderando algumas coisas”, o ator explica de maneira vaga, seguindo a ordem de entregar o mínimo possível do enredo em entrevistas. Aliás, como de costume, mistério é a palavra de ordem no set de Se Beber, Não Case! – Parte III. Àquela altura, em novembro de 2012, início do processo de filmagem, a equipe de produção nem mesmo desmentia um boato (agora confirmado) de que a atriz Melissa McCarthy, que fez fama em comédias do tipo “Se Beber, Não Case! de saias”, teria um papel no filme. Fora o fato de que John Goodman também participa, informação já divulgada à época, o que se sabia até então é que, alguns anos depois dos acontecimentos do segundo capítulo, todos os protagonistas estão estariam com vidas mais estruturada –menos, obviamente, Alan.

Mas, se o comportamento errático de Alan foi o estopim para a ação dos dois longas anteriores, tudo foi potencializado pela presença caótica e histérica de Sr. Chow (interpretado por Ken Jeong) – fato que se repete também no novo filme. “Sabe, nem todo mundo encontra um Leslie Chow pela vida...”, explica Cooper, ao relembrar o tipo de “situações precárias” que o grupo já encarou e, consequentemente, o tipo de coisa que seus intérpretes já tiveram de passar. “O segundo filme [que se passa na Tailândia] foi muito difícil de filmar, foi tenso. Acho que estão todos felizes de estar de volta a Vegas e Los Angeles.”

Para quem não se lembra, a Parte II (2011) seguiu quase à risca a estrutura do longa que o precedeu: um casamento marcado; uma despedida de solteiro que vai longe demais; ingestão exagerada de substâncias; o dia seguinte, quando ninguém se lembra de nada; e, finalmente, ter de lidar com as extremas consequências dos abusos (no caso do primeiro filme, o desaparecimento do noivo; no segundo, do irmão da noiva). Dessa vez, a ideia dos roteiristas é não deixar o público com uma desagradável sensação de repeteco.

“Este segue um caminho diferente [dos outros filmes], primeiramente porque é o fim”, define o corroteirista Craig Mazin. “De certo modo, os eventos dos dois primeiros capítulos levaram de forma inexorável ao que acontece neste.” Mazin ainda garante que o espectador perdeu alguns detalhes que serão retomados na nova história. Além disso, o álcool não será o culpado dos problemas desta vez. “Acho que se isso acontecesse de novo, o público iria revirar os olhos”, brinca Bartha. “Não sei se as pessoas embarcariam nessa de novo. Daí eles [os personagens] seriam apenas uns bêbados idiotas.”

Se hoje, quase quatro anos desde o lançamento da franquia, até as avós sabem quem são os atores da trilogia desbocada – aliás, esqueça as avós: até os jurados da Academia de Cinema, provavelmente ainda mais conservadores do que elas, reconheceram Bradley Cooper, indicado ao Oscar de Melhor Ator por O Lado Bom da Vida –, é porque Se Beber, Não Case! teve a capacidade de agregar um público muito além daquele que tradicionalmente consome comédia no cinema. Ed Helms teoriza a respeito: “É um filme sobre caras que fazem essas coisas eróticas, nojentas, horríveis, que fariam qualquer mãe se assustar – e os adolescentes adoram isso. Mas na verdade é um filme sobre caras percebendo o que fizeram e ficando horrorizados e envergonhados. Mães, pais e avós ficam com pena desses coitados”, diz. “E nós podemos aproveitar esses dois lados.”