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Fotógrafo Mario Testino relembra a própria trajetória, a relação com o Brasil e comenta a "geração Insta"

"Selfies são o autorretrato moderno. Mas como em tudo na vida, narcisismo demais nunca pega bem!", diz o peruano à Rolling Stone Brasil

Luísa Jubilut Publicado em 22/09/2014, às 18h31 - Atualizado às 18h57

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Mario Testino - Reprodução/Facebook
Mario Testino - Reprodução/Facebook

Dezesseis anos se passaram desde que Mario Testino expôs o trabalho dele no Brasil. Após a longa espera, o fotógrafo desembarca em São Paulo com 122 imagens selecionadas por ele para a exposição In Your Face, que ficará em cartaz no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP) até o dia 12 de outubro. Exibida originalmente em Boston, há dois anos, as fotografias selecionadas tratam de provar o que todo mundo já sabe: Testino é capaz de retratar o que ele quiser. Seja a comportada família real britânica, seja uma modelo com um traje de tirar o fôlego ou apenas corpos nus emergindo do mar de Copacabana. “Quando eu olho para as fotografias que eu tirei, todas elas me trazem memórias, como os editores com quem trabalhei, a locação, o modelo, em que momento da minha vida eu me encontrava e como eu estava me sentindo. E, apesar disto, eu preciso tentar olhar para as imagens apenas como imagens, sem apegos sentimentais, especialmente para projetos como está exposição, e me perguntar se é a foto certa.”

Doze escândalos do mundo da moda

Você se lembra da primeira fotografia que tirou, tanto como amador quanto como profissional?

Eu me lembro da primeira imagem que publiquei na Vogue, que para mim foi algo enorme, mas a foto não era grande coisa. Era do tamanho de um selo. Ainda assim, era um começo.

Que outros assuntos te interessam como fotógrafo além de figuras públicas, celebridades e moda?

Eu tiro fotos o tempo inteiro, não só de pessoas. Qualquer coisa que eu ache interessante ou qualquer momento que mereça ser registrado. Me interesso até pela janela de um avião se o céu estiver particularmente incrível.

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Eu li que você queria ser padre quando jovem. A espiritualidade continuou a influenciar o seu trabalho como fotógrafo ao longo dos anos?

Acho que sim. Eu fiz uma série de fotos chamada “Discípulos”, na qual fotografei vários membros do clero e a arquitetura de uma igreja. Eu até fotografei o então Cardial Ratzinger, que se tornou Papa posteriormente. Eu também estou envolvido em vários trabalhos sociais. Ser criado como católico também me influenciou neste aspecto.

De que maneira a cultura peruana está presente na sua fotografia?

De muitas maneiras. As cores que você tem no Peru, a cultura e a história, as pessoas, tudo isso tem grande impacto em mim e no meu trabalho. Assim como muitos países – Brasil é um deles definitivamente. Quando eu fui ao Brasil pela primeira vez, achei as pessoas tão livres e eu vinha de um ambiente bem conversador. Então o contraste teve um grande impacto em mim. De algumas maneiras, eu tento equilibrar este contraste e contradição no meu trabalho.

Qual foi o momento chave na sua carreira, o momento em que você percebeu que havia chegado ao topo e feito um nome para si?

Eu trabalho constantemente desde o começo dos anos 1980 e não nunca pensei: ‘Consegui, estou no topo!’. Tendo dito isso, houve uma série de momentos em que quase me belisquei e pensei, ‘Uau!’ Quando Gianni Versace decidiu incluir o meu nome na campanha que fiz com Madonna. Quando a propaganda foi lançada dizia, em uma página inteira, “Versace apresenta Madonna por Testino”. Este foi um momento. Fotografar a Princesa Diana também foi incrível. Eu também tive uma ótima relação com a Burberry e Christopher Bailey desde o final dos anos 1990 até hoje.

Como sua carreira mudou depois da sessão de fotos com a Princesa Diana para a capa da Vanity Fair?

Foi uma grande oportunidade para mim, mas é também algo extremamente triste porque pouco tempo depois ela morreu tragicamente. Foi seu último ensaio oficial então, de certa maneira, as pessoas se lembram dela através destas fotos, o que para mim é uma grande honra, por mais que muitas fotos lindas dela já tenham sido tiradas.

Quando ocorreu sua primeira visita ao Brasil? Como você criou este laço tão forte com o país?

Eu me lembro de ir ao Rio pela primeira vez com a minha família quando adolescente. Desde o primeiríssimo momento até hoje, me captura de tantos momentos...

Seu trabalho se conecta fortemente com a cultura pop. Qual a diferença entre fotografar alguém anônimo e um músico ou ator?

Às vezes, fotografar alguém anônimo é fascinante. À medida em que você não sabe absolutamente nada sobre ela. É da descoberta que eu gosto. Contudo, muitas vezes, você conhece um músico ou ator e eles são diferentes do que você vê na TV. Você sempre tem que descobrir alguém e conhece-lo, especialmente quando você o está fotografando.

Você já chegou a questionar o seu trabalho ou se perguntou se estava fazendo a coisa certa?

Teve um momento no início da minha carreira em que não estava conseguindo trabalhos e eu questionei se deveria estar fazendo isso. Mas eu insisti, fiz o que eu queria e valeu o esforço.

Eu sei que esta pergunta pode ser difícil, mas entre todas as suas fotografias tem alguma que você considera a sua favorita?

Eu ouço muito esta pergunta, você pode imaginar, mas o meu relacionamento com o meu trabalho é diferente de como as pessoas o enxergam. Quando eu olho para as fotografias que eu tirei, elas todas me trazem memórias como os editores com quem trabalhei, a locação, o modelo, em que momento da minha vida eu me encontrava e como eu estava me sentindo. E, apesar disto, eu preciso tentar e olhar para as imagens como imagens, especialmente para projetos como está exposição, e me perguntar se ela é a imagem certa. Não é tão simples como ser a minha favorita e acho que muitos artistas têm um relacionamento semelhante com o meu próprio trabalho.

Atualmente, as fotos fazem parte do cotidiano de todo mundo, particularmente nas redes sociais. Esta nova cultura da selfie pode estar tornando a fotografia em algo banal?

Eu acho ótimo que as pessoas tenham mais acesso para criar imagens e se comunicar desta maneira. Estamos vivendo na geração “insta”. Eu acho que é ótimo, mas me faz perceber, cada vez mais, especialmente desde que eu entrei no Instagram, o que pena a pena compartilhar. Apenas grandes imagens causam impacto. Selfies são o autorretrato moderno e um jeito de relatar a vida, especialmente se forem boas imagens. Mas como em tudo na vida, narcisismo demais nunca pega bem!