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Depois de compor para Justin Bieber e Selena Gomez, Julia Michaels está pronta para soltar a própria voz

“Sempre digo que a Julia só escreve sobre duas coisas: sexo ou suicídio”, brinca o parceiro de composição Justin Tranter

Joe Levy Publicado em 13/10/2017, às 10h25 - Atualizado às 12h53

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<b>Versão Cantora</b><br>
Julia em Estocolmo, Suécia, em junho

 - IBL/REX/Shutterstock/AP
<b>Versão Cantora</b><br> Julia em Estocolmo, Suécia, em junho - IBL/REX/Shutterstock/AP

Certo dia em Los Angeles, com a temperatura passando dos 30 graus, Julia Michaels chega para o café da manhã usando uma blusa de gola rolê preta, calça com estampa florida e um de seus 16 pares de Doc Martens. “Nunca sei me vestir de acordo com a temperatura”, explica. Essa jovem de 23 anos ajudou a escrever uma sequência de nove hits nas paradas norte-americanas, incluindo “Sorry” (Justin Bieber), “Hands to Myself” (Selena Gomez), “Close” (Nick Jonas e Tove Lo) e “Issues”, a música que marcou sua transição de compositora para cantora.

Nos últimos dois anos, Julia tem sido uma força crucial para levar o pop mainstream para um ponto mais pessoal. Foi ela que achou que “Hands to Myself” deveria soar como Prince; que gerou o conceito do hino de “autoamor” “Love Myself”, de Hailee Steinfeld, quando, depois que um cochilo não conseguiu acabar com o jet lag durante uma viagem a Estocolmo, ela anunciou ao parceiro de composição Justin Tranter: “Eu me masturbei, então me sinto muito melhor”; e que quis escrever sobre a linha de baixo de “Psycho Killer”, do Talking Heads, resultando no recente hit “Bad Liar”, de Selena, uma alternativa minimalista à magia das multicamadas do pop atual.

Julia Michaels usa a comedida empolgação de “Bad Liar” em seu trabalho de estreia, Nervous System, dos convites glamourosos e dedilhado de violão de “Uh Huh” à balada triste com solo de piano “Don’t Wanna Think”. “A música é muito simples – só uma textura a mais para contar a história”, diz. Nada fica no caminho das melodias ou das letras. “Sou perfeccionista e gosto das coisas limpas e nos seus devidos lugares.”

Quando Julia tinha em torno de 5 anos, sua família se mudou de Davenport, Iowa, para Santa Clarita, Califórnia, 64 quilômetros ao norte de Los Angeles, em parte para o pai conseguir correr atrás de seu sonho de ser ator. Depois da separação dos pais, a mãe achou que Julia poderia gostar de atuar e a levava a testes. Ela estava mais interessada em transformar seus poemas em música, mas a irmã era a cantora da família. As coisas mudaram depois que em uma sessão Julia, aos 15 anos, cantou para Joleen Belle, que compunha músicas para TV e cinema. Belle a chamou para colaborar e, quando elas conseguiram criar a canção-tema para o programa da Disney TV Austin & Ally, em 2011, Julia Michaels engatou a carreira. Em seguida, vieram faixas para Demi Lovato e Selena. Há dois anos, esta convidou Julia e Tranter para uma viagem de composição a Puerto Vallarta, no México. Ela acabou contribuindo para sete de 11 faixas de Revival, disco de Selena que estreou no número 1.

Os vocais de Julia nas demos de músicas para Hailee Steinfeld levaram Charlie Walk, presidente da Republic Records, a perguntar por que ela não estava gravando. Era, diz, insegura demais. O estúdio era sua zona de conforto, mas, no final, “Issues” – uma canção sobre as oscilações de uma relação eletrificada por ciúme, raiva e necessidades pessoais – era íntima demais para ser cantada por outra pessoa. “Acho que cansei de me esconder”, ela disse a Walk.

Como a maior parte do trabalho da artista, as sete faixas de Nervous System tratam de luxúria que não vai embora e dos problemas que acompanham o amor. “Sempre digo que a Julia só escreve sobre duas coisas: sexo ou suicídio”, brinca Tranter. “Ela é muito disposta a admitir tudo sobre si mesma. O lado bom e o ruim.”

“Não sou muito de beber, não vou para a balada, sou meio que uma eremita”, afirma a cantora. “Sou uma pessoa de relacionamentos. Eu me perco naquela pessoa. E só sei escrever sobre isso nesses momentos.” No entanto, músicas como “Just Do It” e “Don’t Wanna Think” mostram Julia refletindo sobre quando relacionamentos dão errado. “Acabei de passar por uma separação”, conta. “‘Independence Day’, de Ani DiFranco, está me ajudando muito a enfrentar isso.” Depois do café da manhã, talvez ela entre em seu carro e dirija por aí, tocando a música incontáveis vezes: “Chorando. E muito, mas é uma das melhores músicas do mundo”. Em algum lugar, é possível que alguém esteja usando uma de suas músicas do mesmo jeito.