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M.I.A. - Fera Amansada

Ela diz que quer deixar a música. E pretende fazer isso com o disco “mais positivo” da carreira

Lizzy Goodman Publicado em 11/12/2016, às 10h57 - Atualizado em 17/12/2016, às 14h12

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M.I.A - Nadav Kander
M.I.A - Nadav Kander

Estou interessada em saber por que sempre aperto o botão”, diz M.I.A. “Todos sabem que apertar botões é ruim. Se você aperta um, é punido.” Estamos em Londres e, por acaso, é 18 de julho, dia em que ela completou 41 anos. Batizada como Mathangi Arulpragasam, M.I.A. – ou Maya, como também é conhecida – não se importa com aniversários. Em vez disso, o que tem em mente nesta manhã ensolarada é sua aparentemente infinita capacidade de se meter em problemas.

Em abril, ela foi atacada por comentários que fez em uma entrevista, que foram vistos como crítica ao movimento Black Lives Matter – além de também terem sido recebidos como uma afronta a Beyoncé. “É interessante que, nos Estados Unidos, o problema do qual você pode falar é o Black Lives Matter”, declarou ao jornal britânico Evening Standard. “Beyoncé ou Kendrick Lamar vão dizer que vidas muçulmanas ou vidas sírias importam?” M.I.A. mais tarde usou o Twitter para esclarecer sua posição: “Minha crítica não foi em relação à Beyoncé. Foi sobre o fato de, em 2016, você poder dizer A e não poder dizer B”. Por causa da polêmica, M.I.A. perdeu o posto de atração principal do festival Afropunk, que ocorreu em Londres, em setembro.

Agora, ela diz que tudo o que quer é lançar seu novo álbum, AIM, em paz e, então, deixar a indústria da música. “Estou cansada pra caralho e quero me aposentar e criar me filho”, garante. Se realmente seguir o plano, ela sairá de cena com uma obra fora da curva: AIM é mais leve e menos abertamente político do que de costume. É o disco “mais positivo” que já fez, afirma. “Não há nada dos assuntos do momento – nada de racismo, coisas de gênero, política. Será uma jornada interessante para mim, essa coisa de espalhar amor.” Ela sorri de lado. “Estou tentando arduamente não soar como Madonna.”

No começo da carreira, a atitude rebelde de M.I.A. provavelmente era seu maior atributo. Ela estourou em 2005 com Arular, que tinha um som hip-hop global e uma sensibilidade capaz de conectar as lutas de jovens norte-americanos da periferia com a de povos oprimidos em países em desenvolvimento. Os descendentes diretos da artista são estrelas pop subversivas, como Grimes e Santigold, mas, em um sentido mais amplo, ela ajudou a criar nosso momento atual de ativismo pop, abrindo caminho para todo tipo de iniciativa dentro do gênero, do feminismo sem reservas de Nicki Minaj a “Formation”, de Beyoncé. “Não sou a pessoa que ganha bilhões de dólares falando sobre opressão. Quebro o gelo e as pessoas vêm depois de mim e monetizam a coisa".

O segundo disco, Kala (2007), deixou a sensação de que M.I.A. estava prestes a se tornar uma superestrela – ou, como diz, uma “marca supermegaconglomerada. Eu tinha uma plataforma imensa diante de mim, tipo: ‘Você vai ser o ícone da porra do milênio – abrace isso’”.

Em vez disso, ela apertou o botão. Começou a falar sobre o que então pareciam ser teorias paranoicas da conspiração, dizendo que a internet tinha se tornado uma ferramenta para governos espiarem seus cidadãos, por exemplo. Declarou a um jornalista que o Google e o Facebook foram desenvolvidos pela CIA e tuitou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deveria devolver seu prêmio Nobel da Paz.

Em 2010, ela lançou o terceiro álbum, Maya, que chegou ao número 9 nas paradas, mas rapidamente sumiu de vista. “Alguém me disse: ‘Você poderia ter sido a Rihanna se tivesse calado a boca’”, ela conta, resumindo o que aconteceu depois do sucesso da faixa “Paper Planes”, trilha do filme Quem Quer Ser um Milionário?(2008). “Pensei: ‘Bom, tenho de continuar fiel a mim mesma. Vou me retirar do jogo’. E foi o que fiz.”

Ela às vezes fala sobre AIM como se tivesse gravado 12 covers de “Kumbaya”. A verdade é que a mulher incendiária do passado agora está em um momento mais conciliador. “Posso pregar e já preguei muito ódio. Tenho todo direito de fazer isso”, afirma. “É que... não posso apoiar isso [como algo que deve ser feito]. Porque não é a verdade.” Prestes a deixar a música, M.I.A. não quer empoderar quem a vê como uma imigrante perigosa. “Os refugiados ainda não têm rosto, ainda não têm voz. Ainda estão no fundo do poço.”