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O Negociador

Ministro hippie, ministro do colete, ministro chamado às pressas. O que pensa Carlos Minc, à frente da pasta do Meio Ambiente?

Gustavo Krieger Publicado em 08/07/2008, às 14h38

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No dia em que me recebeu, Carlos Minc estava fazendo o melhor possível para corresponder à imagem que normalmente se faz de um ministro. Quer dizer, ele estava de gravata. Uma gravata com estampas florais em verde, numa referência ao estratégico e complicado cargo que passou a ocupar. Vestia, claro, um dos indefectíveis coletes, sua marca registrada em fotografias. Ele tem 42, número bem maior que a quantidade de ternos guardados em seu armário. Usou um deles na primeira reunião ministerial de que participou, num manifesto de sua dessemelhança com os outros integrantes do governo.

Com os cabelos brancos compridos, caprichosamente penteados para esconder áreas de desmatamento em sua cabeça, pulseiras de artesanato trançadas nas cores do arco-íris e um vocabulário nada protocolar, Minc pode provocar a impressão errada. É fácil cair na tentação de considerá-lo uma figura folclórica, um velho hippie transmutado em ministro. É um erro. A aparência desligada esconde um negociador implacável e alguém que sabe se mexer no mundo esquisito da política. E um marqueteiro de talento. Minc é um vendedor. Um propagandista de suas causas, de sua gestão e de si mesmo. Aplicou a receita com tanto sucesso como secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro que virou ministro.

"Ainda me sinto um ET", confessa. "Não sei o nome de metade dos ministros. Mas também como tem ministros...", provoca. No dia em que conversamos, ele completava duas semanas no cargo. Ou, como definiu, "nessa máquina de moer utopias que é Brasília". Apesar da frase de efeito, Minc está feliz em Brasília. Afinal, sobreviveu ao primeiro impacto.

E que impacto. Ele foi chamado para substituir Marina Silva, um ícone do movimento ambientalista e uma espécie de fiadora mundial das boas intenções do Brasil com a Amazônia. Marina cansou depois de anos de uma luta ingrata. Cansou das pressões para liberar as licenças ambientais de investimentos que interessavam ao governo, em especial as obras do PAC, o Programa de Aceleração de Crescimento, que se tornou a grande paixão do presidente Lula.

A bronca ficou pública quando o presidente, irritado com a demora na concessão das licenças para construção das usinas hidrelétricas do rio Madeira em Rondônia, criticou o Ibama, que estaria paralisando o desenvolvimento do país para salvar alguns bagres. Marina chegou ao limite e foi embora. Mandou um portador levar sua carta de demissão ao Palácio do Planalto, desligou o celular e foi para casa. No discurso nem se despediu, lembrou com ironia que chegou a ganhar o apelido de "ministra do bagre".

Marina demitiu Lula. E obrigou o presidente a correr em busca de um substituto. Logo, a especulação voltou-se para Minc. Que, naquele momento, tinha outros planos, bem mais prosaicos. Pensava na viagem que faria a Paris como secretário de Meio Ambiente do estado do Rio. "Eu estava dentro do avião, embarcando para a França. Aliás, foi uma sacanagem, o Cabral [Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro] fez 500 viagens para o exterior. Eu ia embarcar para minha primeira. No avião, toca o telefone, era alguém do Ibama dizendo: 'A Marina jogou a toalha'. Tentei ligar para a Marina e não consegui. Liguei para o Sérgio Cabral e contei: 'Marina foi-se'. Ele me disse que o Lula ia ficar em cima de nós dois e pediu: 'Me jura que você não vai'."

De fato, logo o governador recebeu um telefonema de Lula. "A Marina saiu e posso precisar do Minc", avisou o presidente. Apesar do que diz Minc, Cabral gostou da idéia. Tanto que minutos depois vazava a informação sobre a escolha do novo ministro. Foi uma trapalhada. Cabral, normalmente um interlocutor privilegiado de Lula, não soube ler o presidente. Lula não é direto em suas escolhas. Vai e volta, lança balões de ensaio e só depois toma alguma atitude.

Você lê esta matéria na íntegra na edição 22 da Rolling Stone Brasil, julho/2008