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P&R - Heitor Dhalia

Estreando em Hollywood, ele fala sobre as pressões de uma superprodução

Mayra Dias Gomes Publicado em 09/03/2012, às 13h03

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<b>DE NOVO, BRASIL</b> Após dirigir filme de suspense, Dhalia filmará épico sobre a Serra Pelada - divulgação
<b>DE NOVO, BRASIL</b> Após dirigir filme de suspense, Dhalia filmará épico sobre a Serra Pelada - divulgação

O currículo de Heitor Dhalia é curto, porém variado. Há oito anos, o cineasta pernambucano estreava atrás das câmeras com o longa-metragem Nina, baseado no clássico Crime e Castigo, de Fiodór Dostoiévski. Dois anos depois veio O Cheiro do Ralo, estrelado por Selton Mello e baseado em um livro de Lourenço Mutarelli. Mas foi com À Deriva, em 2009, exibido em uma mostra paralela do Festival de Cannes, que as portas de Hollywood se abriram. O primeiro projeto internacional do diretor, 12 Horas, thriller de suspense com Amanda Seyfried, estreia neste mês no Brasil. Foi a primeira vez em que Dhalia apenas dirigiu, sem ter escrito o roteiro, e a primeira vez em que não teve controle total sobre o resultado final. “Por mais difícil que tenha sido, quero repetir”, ele diz. “Cada vez mais sou uma pessoa do cinema.”

Você também escreve os roteiros. Como foi dirigir um filme não escrito por você?

Foi uma experiência interessante. Você tem que tentar tornar seu o material que você recebeu pronto. Achar um ângulo pessoal de alguma maneira. Fiz um filme de estúdio, com uma visão muita clara, por parte do produtor, do que o filme deveria ser. No entanto, tentei ajudar a achar um ângulo interessante dentro dos limites do filme e do gênero.

Você se sente confortável quando não está totalmente em controle?

Não ter o controle é desconfortável. Mas ter o controle também. Você carrega toda a responsabilidade, todas as decisões estão sobre seus ombros. Prefiro ter o controle criativo do processo e pagar o preço das minhas escolhas. Mas acho que sobrevivi bem à pressão de um filme de produtor.

Você não participou da edição do filme. Isso te deixou nervoso?

O processo todo foi muito controlado pelos produtores. Na montagem, isso fica ainda pior. Eu participei, sim, até entregar o “director’s cut” [versão do diretor]. Depois, o produtor decide como vai ser a montagem final. Participei das discussões, mas a decisão final é do produtor. Hollywood é único lugar no mundo onde “ownership” é igual a “autorship”. Ou seja: o filme é de quem paga por ele – com a exceção de alguns grandes diretores, que encontraram um caminho autoral mesmo trabalhando na indústria. Isso é uma coisa que tem que ser conquistada e negociada. De preferência, em contrato, que é o que vale por lá.

Há oito anos, você nem falava inglês. Houve alguma barreira de linguagem por você ser brasileiro?

A minha relação com o inglês é interessante. Em 2005, eu não falava a língua. Então comecei a estudar todo dia. Hoje, sou fluente. Mas falar inglês não é o mesmo que trabalhar em inglês, e especialmente dirigir um filme em inglês, em que você tem de tomar milhões de decisões e está gastando milhões de dólares em algumas delas. O idioma é uma barreira, mas não é a mais difícil. O sistema da indústria é que é o mais complicado de entender. E dentro tem variações, nuances, diferenças que você começa a entender quando já se está dentro.

Quais as diferenças entre fazer um filme no Brasil e nos Estados Unidos?

Duas diferenças básicas. Um: nos Estados Unidos, você tem um sistema de produção muito mais eficiente, tanto pelo dinheiro quanto pela força de uma indústria constituída. Você tem tudo o que precisa para realizar o filme. Dois: você não tem o controle criativo do processo. Você não pode exercer plenamente uma visão de diretor. Mas vale ressaltar que essa foi a minha experiência. Nem todo filme é assim, e não significa que se eu fizer de novo vai ser dessa maneira.

Você pretende continuar filmando em Hollywood?

Quero filmar lá de novo, sim. Já estou conversando sobre isso. Por mais difícil que tenha sido a experiência, quero repetir. Sou movido a novos desafios. Cada vez mais sou uma pessoa do cinema. E isso passa por Hollywood também.

Você fez um comercial de cerveja com Jennifer Lopez. Como foi?

Foi divertido. Nunca tinha trabalhado com uma megapopstar. E foi bem diferente da experiência que tive com os atores internacionais com quem trabalhei nos dois últimos filmes. Nunca tinha trabalhado com um segurança no set. Nem nunca tinha tido o set invadido por paparazzi. Ela é bem bonita e carismática. Foi engraçado, no mínimo.

Como estão os planejamentos de seu próximo filme, Serra Pelada?

Vai ser meu grande filme. Adoro esse projeto. É um grande épico brasileiro. Brasil na veia. Um filme de pegada, cheio de sabores. Estou super na pilha de começar. A pré-produção começa em março. Vou emendar um filme no outro.

Você liga para prêmios?

Todo mundo gosta de ganhar prêmios. Mas isso não é o mais importante. O que importa mesmo é fazer o filme. É aprender com a jornada. O prêmio é um ponto de chegada, mas o melhor mesmo é o caminho para chegar até ele.

Acredita que Heitor Dhalia estará um dia no Oscar?

Em 2014 [risos].