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Um Novo Tipo de Mundo

Lançando o quinto disco solo, What Kind of World, o norte-americano Brendan Benson resolve ser o próprio chefe fundando uma gravadora

Paulo Terron Publicado em 11/05/2012, às 17h24 - Atualizado em 13/06/2012, às 13h25

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<b>PESQUISA ÍNTIMA</b> Benson testa novas músicas no filho, mas tem de justificar as letras para a esposa - divulgação
<b>PESQUISA ÍNTIMA</b> Benson testa novas músicas no filho, mas tem de justificar as letras para a esposa - divulgação

"Ah, não!", reclama Brendan Benson, depois de tentar abrir um vinho e empurrar a rolha para dentro da garrafa. “Está dando tudo errado depois que acordei da minha soneca da tarde!” Ele está na área de serviço do Welcome to 1979, o estúdio de Nashville onde gravou o novo álbum, What Kind of World. Apesar do pequeno lamento, é um bom momento: o músico acabou de fundar a gravadora Readymade Records (em parceria com a empresária dele), resolvendo assim uma questão que sempre emperrou sua carreira. “No passado, eu tinha de começar do zero a cada vez que fazia um disco”, explica, já sentado em um dos cantos do estúdio, uma antiga fábrica de vinil adaptada para a nova função. “Acho que nunca lancei dois álbuns pela mesma gravadora.” É verdade: antes do quinto disco, cada um dos antecessores saiu por selo diferente, o que levou a outro problema – ele não detém os direitos de suas gravações antigas. “É muito azar acumulado...”, conta, sem segurar um riso nervoso. “E eu era jovem, não fui rápido o suficiente para assegurar os direitos das minhas composições e gravações – só fiz o que me mandaram fazer.”

A ideia de ser o próprio chefe veio de uma paixão adolescente. “Eu ouvia muito punk e hardcore”, ele diz. “Coisas de [Washington] D.C., tipo Minor Threat. E muitas dessas bandas eram da Dischord Records, minha gravadora preferida. Nessa época, tudo era muito baseado nas gravadoras: você sabia que as coisas da SST, Touch and Go e Alternative tentacles seriam legais. Havia uma cena, um certo som ligado a cada selo.” Essa mesma verdade se aplica à Readymade. Give Me My Change, estreia do cantor e compositor Young Hines, foi o primeiro lançamento do selo e tem certa semelhança com o trabalho de Benson, que detalha sua função na empresa: “Vai ser um ano ocupado e estranho. A Readymade vai lançar três discos, fora o meu. Quero que esses artistas tenham uma chance real e justa. Quero dar minha atenção completa a eles.”

Artisticamente, Brendan Benson continua na mesma direção, construindo pérolas musicais extremamente melódicas. “Que chegam a ser irritantes?”, brinca. Claro que isso não é garantia de sucesso. “A música que faço não é popular. O que é irônico, porque ela é pop”, diz. “Talvez soe como uma coisa horrivelmente autodepreciativa, mas não sei se eu apreciaria as músicas que escrevo [como ouvinte]. Gosto de outro tipo de música. Cresci ouvindo os Rolling Stones, eles foram minha maior influência. Fui obcecado, fascinado por eles. E você não detecta absolutamente nada deles nas minhas músicas.” O que é claramente reconhecível, entretanto, é uma evolução instrumental nas faixas de What Kind of World (que sai aqui pela Deckdisc, com shows no Brasil em Setembro para divulgá-lo). “Antes eu tinha uma falta de recursos”, ele explica. “Agora tenho um grupo de músicos e técnicos que conseguem realizar o que imagino. É como se eu fosse um cientista maluco: ‘Vamos fazer uma parte grandiosa, ao estilo do Queen’. E sei que nem todo mundo liga para isso: uma harmonia em quatro partes ou acrobacias sonoras, coisas loucas, instrumentais insanos. É tudo uma experiência pessoal, mas para o ouvinte pode ser: ‘Que porra é essa?’.

Benson procura testar as novas composições no ambiente familiar. “Meu filho tem 2 anos e fazer um disco com ele ouvindo é fascinante: tem partes das músicas que ele escuta com atenção, dançando. Aí, em outras, perde a atenção de uma forma totalmente natural. Eu penso: ‘Errei, perdi o ouvinte’. Ele é meu parâmetro agora.” Essa felicidade pessoal, porém, não quer dizer que as letras do músico tenham bandeado para o lado alegre. Ele continua o mesmo pessimista de sempre, escrevendo sobre desastres amorosos de enorme proporção. “É só um costume, uma fórmula, acho”, revela. “Não estou pessoalmente triste, insatisfeito – dentro do possível, pelo menos. Muitas vezes a melodia soa triste para mim. Para falar a verdade, interesso-me mais pelo instrumental, pelo som, do que pelas letras. As letras são uma consequência, vêm em segundo plano.” O assunto também é debatido pela família Benson, como ele explica, rindo. “Minha esposa reage muito a isso. De vez em quando ela me pergunta: ‘Sobre o que é tal canção? Não estou entendendo’. E eu digo: ‘Não importa o tema, você não está ouvindo?’ Eu esqueço que ajuda quando você tem uma moral da história...”